Capítulo 27

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Senti alguém tocar meu ombro, me sobressaltando para fora do meu estado de torpor. O jogo passou como um borrão.

Eu não tenho a menor ideia do que aconteceu na partira inteira, mas sei que Lucy me olha com uma expressão que eu nunca vi antes. Quase como se estivesse com medo...

Puxei o ar com força, sentindo meu corpo tremer. Olhei em volta e todos pareciam me olhar de um jeito diferente. Apertei minhas mãos em punhos e saí de perto. Ninguém tentou me impedir.

Entrei no vestiário e sentei no banco, colocando a cabeça entre as mãos. Eu perdi o controle.

Esse entendimento me fez entrar em desespero.

Era algo simples, mas que eu não estava esperando acontecer agora. Não depois da partida de ontem, da sensação de leveza. Trinquei os dentes. Nada disso importa. Não quando eu sei que eu fiz alguma coisa.

Peguei minhas coisas do armário e saí, sem sequer me dar ao trabalho de me trocar. Fui andando até o ponto do ônibus, embora eu não prestasse real atenção de onde eu estava indo...

Senti meu celular vibrar várias vezes dentro da mochila, mas tampouco dei atenção para isso também. Eu não quero falar com ninguém. Não agora. Eu sei que provavelmente é Lucy surtando. Ou até mesmo Seth, se alguém já tiver falado para ele que eu simplesmente dei a louca e saí andando por aí, sem rumo.

Parei no meio da calçada, olhando para o nada. Suspirei. O que eu estou fazendo?

Peguei meu celular quando ele começou a tocar de novo e atendi, nem me dando ao trabalho de olhar o mostrador.

- Onde você tá? – Lucy perguntou. Sua voz estava abafada e soou estranha em meus ouvidos.

- Não sei exatamente. Talvez umas duas ou três ruas depois da escola – respondi, me sentindo meio exausta.

- Fica aí. Eu vou te buscar.

- Lucy... – ouvi ela prender a respiração. – Desculpa, ok?

- Desculpa? Por quê? – sua voz soava cada vez mais estranha em meus ouvidos. Sua pergunta me fez ter a certeza de que eu realmente fiz alguma coisa.

- Eu sinceramente não sei. Mas eu tenho a sensação que eu deveria te pedir desculpas... – fiquei quieta por um tempo, tentando ouvir sua respiração pela chamada, mas tudo o que tinha do outro lado era um silêncio pesado.

- Eu já chego aí – falou e desligou.

Suspirei e joguei minha mochila no chão, sentando em cima dela mesmo.

Ela não demorou a chegar, mas mesmo de longe eu vi que ela estava agindo estranho. O que porras que eu fiz?!

Ela se aproximou de mim bufando e quando eu me levantei ela me deu um belo tapa na cara.

Olhei pra ela mais incrédula do que qualquer outra coisa.

- Você tem a mão pesada, sabia? – resmunguei, massageando a bochecha. – Por que me bateu?

- Você não sabe? – dei de ombros. – Você realmente não sabe?!

- Não, caralho! Qual seu problema? Não precisa perguntar duas vezes! Nem precisava ter me batido – fiz cara feia.

- O tapa foi pra você parar de cu doce...

- Ah, tá, valeu – revirei os olhos. Peguei a mochila do chão e dei as costas para ela, começando a me sentir irritada. – Se importa de me dizer o que eu fiz?

- Sam... – olhei pra ela e me escolhi, achando que ela fosse me bater de novo, mas Lucy não fez nada além de suspirar. – Você brigou em quadra. Você. Brigou. Em. Quadra! – falou pausadamente, quase esbravejando.

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