Apolo - Capítulo nove

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 Caminhamos com cuidado olhando para todos os lados até a área das suítes, assumi a frente quando nos direcionei para o quarto em que estava hospedado, pedindo internamente que não houvesse uma Gina muito nervosa lá com meu repentino sumiço.

— Está sozinho na suíte? — perguntou assim que entramos no quarto.

— Sim, ménage não funciona comigo. — disse com ironia.

— Estava com uma garota... Sabe na cerimônia.

— Sim, Bela é uma amiga. Na verdade, uma amiga intima de Gina.

Seus olhos se acenderam enquanto a boca fazia um "oh" de compreensão. Mantive a luz do quarto apagada e girei a tranca da porta. A única coisa que nos iluminava naquele momento era a luz da lua que refletia fielmente no mar, e iluminava através da grande janela de vidro do quarto.

Levei meus dedos até sua bochecha e seus olhos se fecharam quando a toquei, apreciando o calor daquele toque. Desci lentamente meus dedos para as alças de seu vestido, libertando um de seus ombros e posando meus lábios por ali.

Eu a desejava da forma mais intensa e desesperada que um homem podia desejar uma mulher, mas ainda assim, sabia que a qualquer momento Alpha escorreria de meus dedos como grãos de areia; deixando vestígios que estiveram ali, mas que não puderam serem segurados por muito tempo.

Seus lábios traçaram uma trilha de beijos entre meu pescoço e mandíbula, me fazendo ofegar e quase agarrá-la como um homem das cavernas, mas eu não o fiz. Suas mãos pequenas caminharam nos botões de minha camisa, agora muito amassada, abrindo um por um, enquanto não desviava os olhos dos meus, me fazendo estremecer e ver que ela estremecera junto.

Não aguentando mais a tortura de tela ali tão perto, porém não o suficiente, a agarrei pela cintura e a trouxe para mim em um beijo quente e desejoso de ambas as partes. Caminhamos até a imensa cama de casal macia até Alpha me virar, fazendo com que eu caísse deitado na cama. Antes que pudesse puxá-la ela se colocou de pé e desceu as alças de seu vestido fino, revelando um biquíni branco com amarrações nas laterais e nas costas, bem como eu imaginava há alguns momentos atrás.

Sentou-se sobre mim na cama mais uma vez e seus lábios se apossaram de todas as partes do meu corpo, cada movimento que fazíamos era milimetrado, como se estivéssemos fazendo de tudo para guardarmos aquele momento em uma caixa e nunca mais perdê-lo.

Nos tornamos um só, envolvidos por gemidos e suor, olhares profundos e momentos que variavam da dor extrema de todas as feridas que havíamos causado um no outro, ao fogo latente arrebatador.

Havíamos feito amor duas vezes e estávamos deitados juntos, apreciando a bela vista do mar pela janela. Alpha estava com a cabeça deitada sobre meu peito e apenas um lençol fino nos envolvia.

Minha cabeça estava uma completa confusão, entre os momentos que havíamos criados juntos naquela noite e toda a bagagem que carregava há mais de dois anos e meios.

Alpha havia acabado de se casar com Willian e eles tinham uma filha. Estava claro para mim que eu não me encaixava naquela equação. Era o modelo da família perfeita a qual ela havia crescido, e agora havia formado uma igual. Remoer as imagens da cerimonia agora sóbrio fazia com que respirar fosse mais difícil, e aos poucos comecei a me sentir mais ofegante.

— Está tudo bem? — perguntou um pouco assustada, pousando a mão em meu peito. — Está respirando de forma estranha.

— Estou, apenas... — disse me levantando e caminhando em direção ao banheiro onde havia deixado minha nécessaire. Procurei pela cartela de remédios nova e engoli dois comprimidos mesmo sem água. Cerrei os olhos e me concentrei em minha respiração, antes que a sensação de impotência me dominasse.

Quando voltei a encarar meu reflexo no espelho, Alpha estava em pé atrás de mim com o rosto atormentado.

— Não devia tomar remédios depois de beber a quantidade de álcool que bebeu mais cedo. — disse em tom de repreensão. — Posso saber o que são?

Claro, ela era médica. Logicamente saberia o que eram e para que eram aqueles comprimidos.

— Calmantes. — afirmei, ainda lutando para controlar a minha respiração. — Tenho crises de ansiedade e as vezes pânico. Bem, fazia um tempo que não tinha, na verdade.

Ela me encarou por alguns segundos, até que passei por ela caminhando até a cama novamente e buscando por uma camisa e cueca para dormir. Peguei duas camisas, como costumava fazer quando íamos dormir juntos nos tempos de faculdade, ou quando ela decidia dormir em minha casa, quando mais jovens. Guardei uma das camisas de volta, imaginando inúmeros motivos para que ela não pudesse passar a noite, e vesti a outra.

— Quer que eu saia? — perguntou, com a voz um pouco embargada, ainda nas minhas costas.

Eu não teria forças para olhar em seus olhos e afirmar que devia ir embora, meu coração gritava para que ela ficasse. Mas eu sabia que aquele momento tinha um prazo de validade, que estava quase espirando.

— Não, não quero que saia. — disse antes de puxar uma lufada de ar. — Mas sabemos bem o grande motivo pelo qual você sequer devia estar aqui, e muito menos, ficar.

Voltei a encarar o mar pela janela contando as ondas, me agarrando a minha distração para não desabar completamente, enquanto ouvia seus passos pelo quarto. Foi quando ouvi a porta do quarto batendo que me permiti desmoronar.

Deixei que todas as emoções do longo dia viessem, tomando um pouco de cuidado para manter minha respiração regular.

Mais um aprendizado da terapia: chorar faz parte da vida humana. Homens choram.

Dificilmente eu chorava, mas quando desabava era porque estava esgotado emocionalmente. E eu estava muito cansado. Cansado de sentir tudo aquilo por uma pessoa completamente inalcançável para mim.

Poderia eu ainda a querer tanto depois de tudo? Lagrimas grossas rolavam em minha face, mas eu já não soluçava, elas apenas escorriam.

Não sei qual foi o momento em que Gina entrou em meu quarto e me encontrou desolado sentado no chão com as costas na cama e olhos no mar, mas sei que ela não falou nada, apenas se sentou ao meu lado e segurou minha mão, como já havia feito vez ou outra. Parecia que de alguma forma ela tentava tirar um pouco da dor que eu carregava em mim e pegar para si. Era sempre assim com ela ou Hades, sempre que eu desabava estavam lá ao meu lado, em completo silencio apenas esperando que eu desse o primeiro passo. Ou não desse nenhum, eles apenas estavam lá, e era isso o que eu mais amava em meus irmãos. 

Trajeto Paralelo - Alpha e Apolo | Parte IIOnde histórias criam vida. Descubra agora