O Lorde Mountobbani - Mounbridge 01

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Mounbridge House, Londres

Alguns boatos alcançaram-me após o baile da família M., queridos leitores. E tenho que lhes dizer, ainda são grandes surpresas para esta autora aqui.
Pelo o que pude entender, uma certa Lady W. foi pedida em casamento por um certo lorde L., que está desesperado por uma noiva para manter-se membro da nobreza, afinal, após a morte do seu irmão – um barão, que por sinal, era o chefe da família depois que o pai faleceu –, ele herdou o título, as responsabilidades e tudo o que lhe acompanha, mas não soube administrar corretamente, e agora não lhe restaram nem duas moedas para esfregar uma na outra.
A jovem, por sua vez, possui um dote farto o suficiente para não faltar comida à mesa do lorde L., porém sua beleza sempre fora duvidosa, e como já estava em sua quinta temporada sem conseguir um matrimônio, era de se esperar que encontrava-se em desespero.
Bom, parece-me uma união deveras favorável para ambos os lados. Desejo felicidade a ambos, pois hão de necessitar.

Crônicas da Sociedade Britânica
22 de abril de 1811

Ainda era madrugada. O grande baile da família Mounbridge havia se encerrado, e todos os membros encontravam-se em suas camas, alguns já dormindo, e outros devaneando, como era o caso de Catarina.

Havia muitos pensamentos em sua cabeça, que não lhe permitiam fechar os olhos e dormir um pouco. Nem mesmo por uma pequena fração de segundos.

Ela ainda lembrava-se claramente do ocorrido no terraço da Mounbridge House, e por instinto, levou seus dedos aos lábios, tocando-os delicadamente e piscando atordoada algumas vezes.

Catarina não conseguia assimilar a informação de que fora beijada pelo conde Mountobbani no terraço de sua casa, durante a comemoração mais importante da sua família. 

Ou melhor, ela simplesmente não acreditava que fora mesmo beijada.

Nunca homem algum aproximou-se dela e a beijou, afinal, esse simples gesto era considerado errado quando a dama beijada era solteira. 

Obviamente havia exceções, e muitas jovens recebiam seu primeiro beijo antes mesmo de se casarem, mas isso não poderia ser em público, pois seria uma humilhação e uma desonra. E Catarina nunca esperara ser beijada antes do matrimônio, e muito menos imaginara que aconteceria consigo no terraço da sua casa. Ainda assim...

Ainda assim, ela havia adorado. Nunca sentira tantas emoções de uma única vez. Ainda lhe causava um pouco de pavor quando recordava-se da cena, mas quando lembrava-se do momento e das sensações... todo o medo desaparecia. Fora mágico para ela.

Sem dúvidas, inesquecível...

Porém ela ainda não conseguia dormir, e aquilo a deixava incomodada, pois não desejava acordar pela manhã com o roxo estampado embaixo de seus olhos e muito sono. 

°•••°

Catarina desceu as escadarias da Mounbridge House e cruzou rapidamente alguns corredores pouco iluminados, carregando uma vela consigo e puxando para si o tecido que cobria sua camisola. Como estava descalça, o chão estava gélido e o vento açoitava as grandes janelas da casa.

Alcançou a porta da cozinha e adentrou o recinto, olhando atentamente para todos os cantos e erguendo um pouco a vela para conseguir enxergar melhor. Ela nunca visitara esta parte da residência e não sabia onde poderia encontrar um copo de leite e alguns biscoitos. Ouvira falar que era ótimo para ajudar a dormir, e no momento, era disso que precisava.

Andou pelo recinto e abriu com cuidado algumas portas dos armários, mas não encontrou o que desejava. Ela estava completamente perdida. Bufou frustrada e deu de ombros, resolvendo retornar para o seu quarto e tentar dormir mesmo sem o lanche.