flores amarelas

9 0 0
                                    

Eu viajava por um campo de flores, das mais variáveis, mas minhas favoritas eram as amarelas que ninguém dava a mínima. As colhia e levava para casa esperando que um dia elas renascessem em meu quintal, nunca funcionou. Fazia cerca de três anos que eu o fazia, aguardando ansiosamente o dia que teria um campo amarelo em meu quintal.

A paz que reinava em minha casa era diferente da paz do campo amarelo, lá possuíam crianças brincando e passarinhos cantando, o sol raiava no céu mas não nos deixava com calor, assim como o cheiro das plantas não me deixava alérgica.

Ia todos os dias no campo amarelo, esperando o dia que moraria ali, com aquela beleza e calma. Os dias eram calmos e coloridos, havia um sentimento por ali, diferente de minha casa. Lá tudo era cinza e sem sentimento. Não era triste, apenas não tinha mais o que se fazer por ela.

Meus cabelos eram preenchidos pelas flores silvestres toda vez que eu me deitava ao pasto, ficava observando o leve movimento que as cores tinham sobre o vento, avistava as borboletas e abelhas voando para lá e para cá, desejando voar com elas e ter a vista do céu.

Quando anoitecia não conseguia mais ver o amarelo das pequenas plantas, mas conseguia avistar as estrelas. Elas brilhavam mais que qualquer diamante, brilhavam de um jeito tão sincronizado que pareciam me chamar ao seu lado. Queria me tornar uma estrela e brilhar junto das outras, mas não sabia como fazer.

Se em algum dia eu desejasse morrer, queria que a morte me buscasse nesse campo amarelo, não ficaria triste nem tentaria fugir, iria com ela e a pediria para levar comigo apenas uma flor, teria o vasto campo amarelo em minha mente pelo resto de minha existência.

Até o dia que alguém se esquecesse de mim.

As flores nunca se esqueceriam de mim, assim eu poderia viver para sempre em outro mundo, observando tudo pela mesma vista que as borboletas e abelhas.

Quero um dia me tornar uma borboleta, assim teria um pouco de sua beleza e as pessoas se encantariam comigo. Me pintariam em seu quadro e sonhariam comigo.

Tenho muito medo de um dia desaparecer e deixar o campo amarelo para trás, tenho medo de que ele pense que eu o abandonei e encontre outra pessoa para se deitar com ele. Uma pessoa sorridente que transborde alegria por onde passe.

Eu não quero acabar com as flores amarelas do campo, por isso permaneço nele todos os dias, as cuidando e observando, mesmo que distante em minha cabeça, meu corpo sempre estava ali e não queria nunca ir embora.

O barulho dos trovões que caiam durante a noite não assustava as flores, mas me atormentavam. Corria para meu esconderijo esperando que um dia a tempestade passasse. Todos os dias eu escutava milhares de trovões e o céu de repente escurecia.

A escuridão tomava conta do céu, me impossibilitando de ver o pasto florido, apenas imagina-lo sem a dor de não ter uma tela preta acima de você, sem as estrelas, sem a lua, apenas o preto.

Aceitei que um dia o céu não ficaria mais azul e que não veria mais o campo amarelo, mas espero que um dia as flores possam ver novamente a felicidade e encontrar a alegria daquelas crianças que corriam a beira do rio.

Eu pretendo acabar com a tempestade, apenas não encontrei uma maneira de que eu a faça sem destruir as flores em minha volta. Eu ficaria para sempre com a chuva em minha cabeça para que o campo amarelo não morresse e não perdesse sua cor.

eu sofreria pelo resto da minha vida apenas não ver o campo sem cor, ou nunca mais ver o campo.

As flores que um dia chamei de minhas amigas ficariam chateadas se eu não as visitassem mais, se um dia apenas desaparece e descobrisse que eu nunca iria aparecer novamente.

Quero que um dia as flores amarelas me cerquem e me deixem descansar em paz, aceitando que eu não aparecia novamente.

quero um dia poder dormir junto as flores, e me tornar uma delas.

campo amareloOnde histórias criam vida. Descubra agora