➵ 42 | pôr do sol

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Any Gabrielly

Domingo de manhã. Eu e Sofya estávamos nos arrumando para ir até o culto. Meus pais pareciam animados por eu estar indo e por mais que aquele não fosse o tipo de lugar que eu adoraria frequentar, eu iria por eles. No dia seguinte eu iria embora, então não custava nada ter aquele momento.

As pessoas olhavam para nós quando entramos na igreja. Todos ali sabiam sobre a história da minha vida e isso era bem desconfortável para mim. Era como não ter privacidade. Tentei ignorar todas aquelas pessoas enxeridas e focar no mais importante: o sermão do meu pai.

Ele falou sobre o valor do perdão, sobre como isso é uma forma de demonstrar amor por alguém. Em todo o momento eu senti como se ele estivesse falando sobre nós e não evitei de sorrir.

Minha mãe e Will tentaram me convencer de cantar um louvor, mas eu recusei firmemente. Não estava me sentindo bem naquela manhã e segurei minha ânsia de vômito para não preocupar ninguém. Me esforçar com um louvor seria uma má ideia para o meu bem-estar.

Depois do culto, tivemos comes e bebes nos jardins da igreja. Muitas senhorinhas vieram falar comigo, fazendo perguntas bem invasivas sobre a minha volta e sobre eu e Will talvez estarmos juntos. Tentei ser o mais educada possível, sorrindo sempre e dando respostas sinceras, porém educadas. Religiosas ou não, elas eram muito fofoqueiras.

Quando finalmente consegui me livrar delas, fui até onde Sofya estava com a minha mãe. As duas conversavam enquanto comiam alguns docinhos.

— Elas te sugaram demais? — minha mãe perguntou.

— A senhora nem imagina. — ri. — Tinha esquecido como as pessoas de cidade pequena se acham no direito de se meter na vida de todo mundo.

— E também se acham no direito de tocar em todo mundo. — Sofya completou. — Minhas bochechas estão ardidas de tantos apertões que me deram. — passou as mãos pelo rosto. — Um simples "você é fofa" seria o suficiente.

Nós três rimos, mas então minha mãe parou, colocou a mão na testa e fez uma expressão de dor.

— Você está bem, mãe? — perguntei.

— Só uma tontura comum. — sorriu fraco. — Nada com o que se preocupar.

— Tem certeza? — insisti.

— Sim. — ela respirou fundo. — Viu? Já passou. Sofya, querida, será que pode me levar até onde está o seu avô?

— Claro.

Sofya começou a empurrar a cadeira de rodas e as duas se afastaram enquanto eu observava com um leve aperto no peito. Ela já estava tão debilitada que um mau estar já era tratado como algo do dia a dia. Ouvir ela dizer que não havia com o que se preocupar me fez ver o tamanho do problema que era a sua saúde. Era difícil aceitar que mais nada poderia ser feito e que muito provavelmente o tempo dela fosse curto.

— Pensando na vida? — levei um susto e me virei bruscamente para Will.

— Você me assustou.

— Desculpe. — sorriu de canto. — É uma pena que não tenha cantado.

— Eu vou voltar aqui outras vezes, posso fazer isso depois.

— A sua mãe não vai ter tanto tempo pra te ver cantar de novo.

— Que coisa horrível de se dizer! — franzi a testa.

— Desculpe. Às vezes eu sou realista demais. Sei que você não gosta de enxergar a realidade de frente.

Doce Amargo(Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora