Fique mais um pouco

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Bakugou seguiu por sua rota ao fim do dia, pensativo, indiferente... S/N não olhou em sua cara pelo resto do dia.

Talvez no final das contas ela não o suportava, talvez até odiasse suas atitudes, ele era horrível com afeto, lidando com os próprios pensamentos e sentia que não merecia nem 5% da paciência e disposição de alguém como ela.
Quem sabe ela só fosse gentil pela simpatia, só estava com ele por pena.
Achava que não merecia a paciência de S/N, não merecia o tempo dela, o carinho e disposição em ajudar ele em tudo. Não deveria nem olhar para ela mover-se na sala de aula, explicando os conteúdos tão bem quanto ele jamais havia visto antes.

Seu peito apertou com esses pensamentos e ele fechou os olhos com tanta força que doeu. Bakugou cruzou os braços em cima do estômago, abraçando a si mesmo para conter a dor aguda e insuportável que sentia.
Ele dobrou a coluna e se ajoelhou no chão, rendendo-se ao sentimento de inferioridade, encolhendo-se ao ponto de ficar totalmente vulnerável a própria insegurança

Katsuki sentiu as lágrimas quentes escorrerem pelas suas bochechas e cairem no chão, elas eram o resultado do seu medo e raiva, seus tão estúpidos sentimentos ruins.
Nunca havia se sentido tão mal em sua vida, e ele odiou esse sentimento mais do qualquer outra coisa. Culpou S/N por algo que não tinha nada a ver com a amizade dos dois. Ela só estava consolando uma alma machucada por ele, e não apontou o dedo em sua cara por causa disso, mesmo sendo ele o causador de tanta discórdia.

Seu ego era inflado demais para ir atrás da garota que tanto era paciente com ele, não sabia como lutar contra isso. Ele queria, mas não tinha coragem o bastante.
Se sentiu estúpido, idiota, burro, fraco...

— Kazinho? Você está bem?

Por um segundo, pensou ter ouvido a voz de S/N. Achou que estivesse apenas enlouquecendo, e que sua mente estava começando a criar coisas como uma forma de consolar a si mesmo.

— Kazinho?

Rendendo-se as próprias ilusões, ele continuou com a cabeça baixa o tempo inteiro.
Ele ficou em choque quando sentiu duas mãos se envolverem na base de seu queixo, lhe fazendo levantar a cabeça. Os olhos de Katsuki examinaram a pessoa a sua frente e encontraram os tantos traços lindos que faziam seu coração palpitar mais forte a cada vez que a olhava.

— O que há de errado?

Ela perguntou preocupada, vendo os vários seres escuros que cercavam Katsuki e a crescente escuridão de tristeza que rastejava por seus olhos vermelhos, agora escorrendo pela tristeza sem fim.
S/N não podia simplesmente deixar aquelas coisas o seguirem para onde quer que ele fosse, ela precisava tomar coragem e afastá-los de alguma forma, mesmo que Bakugou se recusasse a falar com ela olhar em seus olhos.
Ele pressionou seu rosto em suas palmas e deixou as lágrimas umedecerem a pele das mãos de S/N.
Ela retirou um lenço de seu bolso, começando a enxugar as lágrimas do jovem em desespero. 

É um inferno mesmo, aquela que poderia quebrá-lo e prejudicá-lo tão facilmente estava diante de sua forma mais frágil, observando as falhas, pensamentos inseguros e problemas nojentos que ele não poderia consertar naquele momento, problemas causados por ele que só um pedido de desculpas não seria o suficiente.
Sabia que S/N estava zangada e magoada, ela iria rir da situação, apontar os seus medos e confirmar as suas paranoias.

— Por que você continua comigo, sua maluca? Insistente do caralho... - Ele quebrou o silêncio.
— Porque eu gosto de ficar perto de você, mas sei que a minha presença o incomoda.

Suas palavras o quebraram em mais de mil pedaços, mas sabia que era culpa dele S/N pensar assim. Ele se expressou mal, e a fez pensar que não a queria por perto, quando a situação era totalmente o contrário.
Estava cego pelo ciúme e inveja de Izuku com ela, visto que S/N não hesitou em abraçar o garoto mas ele sim.
Ele olhou profundamente em seus olhos, procurando qualquer movimento que demonstraria incerteza, mas o que ele encontrou foi um catalisador de emoções positivas, um belo sorriso gentil em erupção que o fez abraçá-la com força.

— Não... - Ele murmurou. - Eu... Eu até gosto de ter você por perto. Você não é tão irritante.

Ela entendeu o recado, Katsuki não conseguia demonstrar afeto. Era apenas isso. Talvez ela tenha apenas se precipitado sobre sua atitudes. Fez mal em usá-lo daquela forma, embora achasse que foi uma boa lição.
Bakugou é um ótimo aluno, mas péssimo em relação aos sentimentos humanos.

— Vamos, levante-se. Eu vou ficar com você. - Ela declarou, decidida com toda a certeza que tiraria Katsuki daquele penhasco de problemas que tanto atormentavam sua sanidade.

Seu ego o dizia para não a obedecer, sua mente em confusão e angústia dizia para deixá-la em paz e parar de machucá-la, ela não tinha nada a ver com os problemas que ele mesmo causou, porém seu corpo e coração não queria se afastar de jeito nenhum.
S/N o afastou para se levantar, esse movimento o pegou desprevenido. Achando que tivesse feito algo errado, ele franziu as sobrancelhas prestes a chorar mais uma vez.

As mãos de S/N o fizeram levantar. A mão esquerda segurou a mão do rapaz, enquanto a outra seguiu para seu rosto. Ela usou o lenço outra vez para enxugar as lágrimas recentes, sorrindo genuinamente.
Katsuki se aninhou em seu toque, carente pelo mínimo de atenção.
Mas agora, S/N não estava se importando muito com isso. Seus olhos correram pelos arredores do local onde estavam, os seres escuros e assustadores de antes se finalmente se dissiparam totalmente, estavam só ela e ele ali.
Seu suspiro aliviado não passou despercebido por ele, que logo começou a questionar o que tanto chamava a atenção dela.

— Você está bem?
— Hã? Está tudo bem comigo sim, mas fiquei preocupada com você. - Ela guarda o lenço em sua bolsa, mas volta o seu olhar para o loiro a sua frente.
— Como você sabia onde eu estava?
— Segui você. Não pense que eu sou uma stalker nem nada do tipo, mas eu vi uma carta sombra seguindo você quando voltava para casa, o que não é comum de ocorrer, visto que você não os atrai.

Ele não disse nada. Optando apenas por prestar atenção na voz de S/N.

— Suas emoções são fortes demais, Kazinho. Sua angústia atraiu muitos deles de uma vez, eu realmente precisava fazer alguma coisa.
— Por que?
— Porque eu gosto de você, e me importo muito.
— Não precisa mentir para mim, se for realista e dizer que não me suporta eu vou te dar toda a razão do mundo.
— Se eu não gostasse não estaria aqui, teria colocado em sua ficha tudo de ruim, teria deixado você morrendo de febre semanas atrás, não teria falado da Mimi e das minhas experiências.

Ele se calou, engolindo seco e continuando a ouvi-la.

— Dizer que se importa não é o suficiente para mostrar o quanto uma pessoa vale para você. Palavras nem sempre são o suficiente.

O que diabos você vê?! (Imagine Bakugou)Onde histórias criam vida. Descubra agora