A Maldição do Padre Negro
(Ficção)
Autor: Paulo Machado
No ano de 1961, eu, recém divorciado, além do trauma da separação, devido as circunstancias, tive que trancar a faculdade de direito já prestes a concluí-lo, e me mudar para uma casa menor em uma vila barulhenta. Sendo escritor roteirista, com dificuldade para concentrar-me e com prazo apertado para a entrega de um trabalho, resolvi procurar um lugar onde pudesse ter mais sossego e conversando com um velho amigo da faculdade, ele cedeu-me uma casa de sua propriedade a qual ele havia, por falta de tempo, deixada aos cuidados de um caseiro de sua confiança, em uma cidadezinha do interior de Minas Gerais. Em pouco tempo mudei-me para a tal casa. Ainda no trem eu pensava, como seria a cidade para onde estava indo e na verdade, eu não sabia ao certo, se queria mesmo morar em lugar desconhecido, ainda que por pouco tempo. Ao chegar na estação, desci ainda um tanto confuso e por viajar por horas, o cansaço e a incerteza tomavam conta de mim e naquele momento, tudo o que eu mais queria era um lugar para descansar. A princípio, notei que o povoado não era lá essas coisas e como já passava das vinte e duas horas, havia poucas pessoas nas ruas. Ao perguntar a um funcionário da estação como encontrar um hotel...
___ O senhor vai para onde, posso saber? Perguntou ele. Quando eu disse a ele para onde estava indo, ele me disse que nem precisaria eu me hospedar na cidade, e que se eu quisesse, ele me levaria até a tal casa, pois morava próximo ao endereço que lhe dei aceitei de pronto, e como não tinha ninguém a minha espera, estando com a chave da casa não seria difícil entrar. Por coincidência ou não, ele me disse se chamar Gentil e que morava naquele lugar desde a infância e disse também, conhecer Ricardo, dono da casa para onde eu estava indo morar. Me deixando no portão agradeci ao bom homem pela valiosa carona, e como o portão estava apenas encostado entrei. Ao entrar na casa, até me espantei com todo aquele silêncio pois, morando sozinho e sem ter com quem conversar, pensei como seria difícil me acostumar com toda aquela paz, embora precisasse dela, e por pior que fosse, eu teria que me acostumar. Como a casa era mantida mobiliada e bem cuidada, só tive o trabalho de pegar algumas cobertas no guarda roupas e por fim, descansar da longa viagem.
Ao acordar por volta das seis horas da manhã, saí a procura de um comércio a fim de comprar um lanche, e como a rua ainda estava deserta e não tendo a quem pedir informação, resolvi não me aventurar, seguindo por ruas de um lugar que eu não conhecia e pensando assim, retornei ao interior da casa e tive que me contentar com o pouco que sobrou da viagem. A casa embora simples, encontrava-se em bom estado de conservação, e o jardim que ficava à frente da casa, lhe dava um aspecto muito agradável. Resolvi não trabalhar naquela dia e assim ter tempo de conhecer melhor o ambiente.
O dia transcorreu sem novidades até que chegou a noite. Ainda sem inspiração para trabalhar resolvi deitar um pouco. Juro que em alguns momentos, pensei em largar tudo e ir embora daquele lugar, mas pensava também, que não podia deixar escapar aquela oportunidade. Por volta das vinte três e trinta, levantei-me e fiquei na janela contemplando o luar. Uma brisa fria tocava meu rosto e de onde estava, podia ouvir o farfalhar das folhas sendo arrastadas pela calçada, levadas pelo vento e o muro por ser baixo, deixava ver a calçada crispada pelo clarão da lua, como se furasse a copa das árvores penetrando pelos seus galhos, e se espalhando pelo chão. De repente um estranho arrepio tomou conta de todo o meu corpo, quando olhei para um ponto mais alto, logo a minha frente e com a lua clara, vi a silhueta de uma igreja bem no tope do morro. Fiquei ainda mais assustado ao ver subindo em direção a suposta igreja, vultos de pessoas que, com o que pareciam velas acesas, caminhavam lentamente morro acima. Aquele acontecimento tirou-me o sono e eu me perguntava; Qual seria a razão daquele ato religioso. E pensando assim creio, por sorte, que o cansaço tenha sido mais forte que o meu medo e logo me fez adormecer. No dia seguinte bem cedo, fui acordado por barulhos do lado de fora da casa, entre abri a janela e logo percebi se tratar de alguém que, usando uma tesoura de cortar grama, podava um dos arbustos do jardim. Deixando o interior da casa, caminhei até o homem que embora por certo tenha notado minha presença, continuou o que estava fazendo não me dando a menor atenção. Achei estranha aquela atitude, mas como precisava de algumas informações, resolvi puxar assunto.
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A maldição do Padre Negro
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