Agora
Nunca estive com a mente tão confusa como estou agora, e como estive nas ultimas horas. O momento mais feliz da minha vida, acabei de me formar em medicina, estou com todas pessoas queridas ao meu redor, quer dizer, nem todas, mas deveria estar feliz, muito mais do que estou.
20:30
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-Tá tudo bem?
Ele percebeu, e acho que não tinha como não perceber, todos estão conversando, alegres na mesa, e eu, estou fora dessa realidade. Começo a voltar a minha realidade, ouvindo o som alto do restaurante, as vozes abafadas em meu ouvido, meus olhos encontram o dele, que já estavam nos meus, percebo que estão curiosos e preocupados, dou um sorriso e automaticamente eles se alegram, aquilo aquece o meu coração. Até lembrar de quanto é estranho esse jantar. Estou sentada a mesa com meus pais, meu irmão e sua família, meu colega de ensino médio, pré - vestibular, faculdade e antiga paixão, sua namorada, e sua família.
Eu ainda o amo, e sei que ele ainda me amava. Não sei se tentamos o suficiente, ou tentamos da forma errada, tivemos muita coisas a nosso favor, mas também conspirando conosco.
-Querida, e você? Já pensou o que vai fazer agora que pegou o diploma? - ela não me chama mais como antes, isso doí um pouco.
-Recebi algumas ofertas de emprego em clínicas, mas ainda não me decidi qual. - digo sorrindo no final.
-Esqueceu de falar que em algumas clínicas recebemos a oferta para trabalharmos juntos, ia ser tão incrível - tenho minhas dúvidas
Queria evitar essa parte, vivemos nossa vida inteira juntos, tentamos nos relacionar, e depois de tudo trabalharmos juntos? Não seria bom para nossas carreiras, nem para nós, para dizer a verdade.
-Achei que tentaria montar sua clínica, ou ir para um hospital meu amor - disse Aurora, é óbvio que ela vai fazer com que ele não aceite uma proposta onde iriamos trabalhar juntos. Ela nunca gostou de mim, sempre fazia questão de enfatizar, de acordo a cabeça dela, o quanto ele da mais atenção para mim do que para ela, já eu, sempre fui indiferente em relação o relacionamento dos dois, sempre a respeitei, já que esse é o meu dever como pessoa.
-Acredito que seja mais interesse começar em clínicas pequenas e que sejam filiadas, e para falar a verdade eu adoraria se aceitássemos a mesma - ele olha para mim e sorri, e eu retribuo esse sorriso, Aurora parece se incomodar com a fala por um instante, até perceber que estou olhando para ela, e força um sorriso, que também retribuo.
As vezes acredito que todo respeito que dou a ela, a incomoda, sinto que preferia que fossemos inimigas, mas não sou capaz de fazer isso, nem por mim, nem por ele, nem pela família dele, respeito e amo todos. Nossas famílias também percebem isso, eu sei que sim. Vou em todas comemorações que tem na casa deles, e eles nas minhas, claro, tudo que faça sentindo as famílias se reunirem, e todas as vezes ela age da mesma forma, e eu continuo na minha. Principalmente por sermos muitos próximos, acho incrível como ele age comigo, como se apesar de tudo, somos os mesmos do começo, as vezes até me culpo um pouco por ser assim, um pouco fria e distante algumas vezes, enquanto ele é tão atencioso e carinhoso com tudo que vivo e sinto.
Nos conhecemos desde os 14 anos, vivenciamos romances um do outro, desilusões, amadurecimento, nosso quase, e depois nosso relacionamento, o fim dele e o começo de outros. Oportunidades de empregos, de faculdades, passamos por dificuldades juntos, por mais que fosse apenas de um dos dois.
-Ei, não te sentir muito a vontade lá dentro, o que aconteceu? - ele veio atrás de mim
-Tá tudo sim, só queria tomar um pouco de ar fresco, sair um pouco da multidão e do barulho.
-Não gosto de te ver assim, ainda mais depois de uma formatura incrível que tivemos, era para esse ser o nosso momento.
-Claro que é o nosso momento, eu só não estou me sentindo tão bem agora, estou muito cansada, relaxa.
Ele apenas me escuta, sorri, e me puxa para um abraço, maldito abraço, maldito sorriso, foi assim que eu me apaixonei, nessa sua grande atenção por mim, o carinho, como nada era estranho entre nós, mas não me arrependo de nada, sou grata por tantas coisas boas que já passei ao lado dele, mas não posso negar que muitas coisas me machucaram no decorrer dessa longa trajetória nossa.
Terminamos nosso jantar, Daniel iria levar Aurora de volta para casa, e provavelmente ficaria por lá. Não queria voltar para casa por agora, mas também não gostaria de permanecer mais tempo no restaurante, então resolvi dar uma volta de carro, e depois ir para casa.
-Amanhã a gente pode se encontrar para decidimos as clínicas? -traduzo a frase como um "você vem comigo né?" -Mesmo que você decida uma diferente da minha, ok? Te amo - me puxa e deposita um beijo em minha testa.
-Tudo bem, também te amo.
Com o tempo acabamos nos tratando com irmãos, o que eu gostava muito, é perfeito. Mas agora com a formatura, emprego, começo a pensar que está na hora de cada um seguir a sua vida, provavelmente sozinhos, cada um com o seu destino. E isso me assusta, não posso negar isso, eu ainda lembro como se fosse ontem, a forma que nos conhecemos, como crescemos, cada momento que passamos, todas nossas brigas e todos nosso momentos de paixão, eu me lembro de tudo, e na verdade eu não sei se estou pronta para desapegar de todas essas memorias.
Dirijo pela cidade por alguns minutos antes de decidir voltar para casa, que ainda é a casa dos meus pais, já que decidi morar com eles até terminar a faculdade. Provavelmente procuraria algo ao me estabilizar em um emprego. A ideia de quão longa a semana seria já me deixava exausta, e só de pensar nisso, desabo de cansaço.
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Entre nós
RomanceApós anos de convivência, Isabela se vê diante da difícil tarefa de redefinir sua vida ao lado de Daniel, seu colega de vida e de profissão. A recém-formada médica enfrenta a confusão de sentimentos ao perceber que ainda ama Daniel, mesmo após o fim...