Chá de decepções

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Naquela manhã, Sabine acordou Marinette puxando seu pé. A mulher estava animada e seu sorriso sereno já estampava sua face.
A princesa por outro lado, apenas gemeu e virou-se em sua fala, estava pronta para voltar a seu sono da beleza. – Eu te imploro mãe, deixe-me dormir por mais algumas horas…
– Nada disso! Princesas acordam cedo, quantas vezes terei de repetir isso? Veja sua irmã, já estava acordada e disposta quando a encontrei. – Sabine abriu as grandes cortinas rosas, e deixou a luz do sol recém nascido brilhar pela janela. A luz ofuscou a visão de Marinette, que tapou a cara com um travesseiro. Estava com tanto sono que nem importou-se com a comparação nada discreta de sua mãe, dela com sua irmãzinha.
A rainha, com graça, arrancou todos os lençóis de cima da princesa. – Eu mandei levantar! Temos um longo dia pela frente.
Marinette sem muita escolha, sentou-se na cama. Lutou com suas pálpebras que insistiam em tentar se fechar. – Longo dia? – Ela bocejou.
– Sim, em poucos minutos teremos um chá com a rainha Anarka e a nobreza para discutirmos sobre seu casamento.
Marinette arregalou os olhos, ninguém havia falado que ela tinha um compromisso pela manhã. – Ah, meu Deus! Eu não fazia ideia disso.
A princesa arrumou-se da forma mais rápida possível e prendeu seus cabelos ônix num coque alto. 
Quase correndo, chegou a varanda do palácio. Ela dava uma bela vista para o jardim bem decorado. Nela, uma mesa redonda foi posta e enfeitada com uma bela toalha de mesa, além de claro chá e bolinhos.
Sua mãe, Brigette, Anarka e outras inúmeras mulheres estavam reunidas para o que ela apelidou de seção da fofoca real. 
– Me desculpem. – Ela murmurou constrangida ao ter todos aqueles olhares sobre si. As mulheres a observavam com reprovação. Menos Bridgette,que distraidamente tomou um gole de seu chá. 
Uma mulher velha sorriu para ela, os cabelos eram grisalhos e estavam bem presos num coque. – Sem problemas, alteza. É uma honra aguardar a nossa futura rainha.
Marinette assentiu e se sentou em uma das cadeiras confortáveis, quis acreditar no que aquela senhora falava. Mas os narizes empinados daquelas mulheres diziam o oposto.
– Bem, agora que estamos todas reunidas. – Anarka se pronunciou. – Podemos começar a debater sobre o casamento.
Marinette conteve um engasgo e sorriu timidamente. É claro que elas estavam lá para isso! O que mais poderia ser? Se sentiu incrivelmente tola.
– Esse casamento será memorável. Mau posso imaginar a vossa alegria alteza. – Uma garota um pouco mais velha que ela falou, o cabelo era escuro como a noite e os olhos profundos como a morte. 
Marinette deu uma risada forçada. – É claro. Estou estonteante, minha alegria pode ser vista do horizonte! 
– Você é sortuda. – Uma mulher loira murmurou. – Se casarás com um rapaz jovem e belo, meu viúvo marido estava caindo aos pedaços quando nos casamos.
A princesa encarou a rainha Anarka com a visão periférica. – Sim, extremamente sortuda! Luka é perfeito. – Anarka sorriu, como se houvesse aprovado a resposta da garota. Marinette suspirou de alívio, por sorte seu nervosismo não havia estragado tudo.
– Mas e sua outra filha? – A mais velha delas se voltou para Sabine. – Não irá casá-la? Bridgette já está na idade.
Bridgette engasgou-se com o chá e arregalou os olhos. Surpresa por alguém ter se lembrado que ela também estava naquela mesa, ótimo, ninguém nunca a notou, e justamente agora faziam isso?!
Sabine ponderou a ideia por instantes e mexeu no seu chá. – Não tenho certeza se ela está pronta. Falta algo em minha filha.
Bridgette encolheu-se na cadeira, é claro que faltava. Ela nunca seria boa o suficiente, nem mesmo para ser entregue de bandeja a um homem numa negociação estúpida. Seu olhar recaiu sobre Marinette, sua irmã mais velha, o centro do mundo. Até mesmo os erros dela eram motivos para serem apreciados por seus pais. Não importava o quanto se esforça-se, quantas línguas aprendesse e muito menos o quanto de política soubesse. Ela nunca estaria à altura de Marinette. 
– Penso que minha irmã tem muitas qualidades. – Marinette falou baixinho. Queria defender sua irmãzinha, mas faltava coragem. 
– Não seja boba, minha filha. – Sabine se pronunciou. – Apenas a veja, nem ao menos conseguiu pentear os cabelos corretamente.
Marinette franziu o cenho, os cabelos dela estavam impecáveis. E lembrou-se vagamente de sua mãe falando como Bridgette já estava radiante logo cedo, mesmo que Marinette estivesse morrendo de tanto sono.
– Você tem razão minha mãe. – Bridgette falou com a voz clara e soava, um sorriso gracioso estava presente em seus lábios. E os olhos azuis eram serenos. – Eu certamente acabaria virando vinho em meu marido nos primeiros cinco segundos. – Ela falou e tomou um gole de seu chá. Seu estômago se revirou quando as pessoas daquela mesa começaram a rir de seu comentário amargurado. 
Marinette foi a única que se calou, conhecia sua irmã. Ela jamais cometeria um erro daqueles. Ela seguraria a taça com classe, daria uma risada graciosa e falaria sobre como o vinho que bebiam era feito. Diferente dela… que com certeza, não só derramaria tudo, como também tropeçaria e quebraria a garrafa.
– E então, já sabem o que servirão na festa? – Alguém falou.
E todas começaram a conversar animadamente. Menos as duas irmãs, que ficaram presas em seus próprios mundos e conceitos.

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