31. Preso no meu universo particular

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Assim que abri a porta da casa dos meus pais, sentei encostado nela mesmo e chorei. O primeiro pensamento, foi buscar meu erro. Ela tinha tinha dito que foi só sexo, então, ele era melhor que eu? O que ele tem que eu não tenho? No que eu errei? Naquele momento, me senti um fracassado, com todas as letras. Senti que não havia sido marido suficiente pra ela, senti que não era homem o suficiente. Estava abalado, buscando os motivos disso tudo. Por que? Levantei devagar, tirando minha camiseta e jogando em qualquer canto da sala. Acho que quem olhasse de fora, veria um zumbi andando pela casa. Me dirigi devagar até a cozinha, peguei água gelada e bebi. Minha boca estava seca. Fui deitar, mas me revirei na cama a noite toda, me sentindo fraco, sem sentido. 

Acordei com a claridade no meu quarto. Levantei, fechei as cortinas e depois tranquei a porta do meu quarto. Meu pais logo chegariam, e eu não queria falar com ninguém. Estava preso no meu universo particular, tentando controlar meus sentimentos. Eu sentia raiva, ódio, mas ao mesmo tempo, humilhado, rejeitado, trocado, e sentia tristeza. Eu amava aquele filha da mãe, mas estava tudo tão confuso, que eu só precisava digerir. O sentimento de não conhecê-la foi o que mais me afetou. Amo quem, afinal? Ela me enganou, me traiu sem se preocupar com meus sentimentos, sem pensar em mim. Minha cabeça tinha um misto de emoções tão grande, tão intenso, que eu estava com dor de cabeça. Eu tinha que controlar isso, parar de sofrer, deixar essa fase passar, pra então ver o tamanho do estrago que isso tudo fez comigo. E não adianta vir com aquela história de que tem que se reerguer, que eu não mereço sofrer e chorar por ela. Eu não sofria por ela, estou sofrendo por mim, estava mal comigo mesmo. E nessa hora, tive a confirmação de que uma traição não é ruim com o casal, é cruel com quem é traído, pois ele não fica mal com a pessoa infiel, fica mal consigo mesmo. E era assim que eu estava me sentido, sem valor, fracassado. Destruído comigo mesmo. Esse "luto" durou alguns dias, até eu resolver reagir. 

Quando fui viajar, passei a mostrar pra todos o que eu não sentia. Ninguém sabia o que tinha acontecido, e isso continuaria até eu me sentir bem com essa história toda. Escondia tudo com um sorriso e quando chegava no hotel, deitava na cama e ficava lá quieto. Jordana ligava pros meus pais todo dia. Batia em minha casa e insistia. Queria falar comigo, queria ver Pedro. Mas pra mim, aquilo ainda não ia acontecer. Estava em São Paulo, Roberval enchia o saco. 

- Cara, liga pra Jordana, avisa que vamos sair, cara... - Ele tinha dito pela quinta vez a mesma coisa. Tava com fogo pra sair e queria me arrastar. Estava me irritando ele falando o nome dela.

- Não, Roberval, caramba!

- Vai, cara, liga pra... 

- Se você falar esse nome mais uma vez, eu vou te fazer engolir meu celular. 

- Nossa, Luan, só tava te chamando pra sair!

- Eu quero ficar quieto no meu canto, tá legal? 

- Vocês brigaram? 

- Você quer sair, não quer? Beleza, vamos sair, Roberval, mas para de fazer pergunta. 

Chamamos o resto da equipe e fomos depois do show. Eu resolvi ficar quieto, não estava me sentindo bem. Peguei uma bebida e fiquei olhando o movimento. No segundo copo estava me sentindo mais leve, e aquilo era bom. Mas também estava vendo coisas. Via ela em todo lugar. Me dirigi ao bar e me sentei lá, evitando olhar pra pista e ver ela em mais algum corpo qualquer. Mas fui bebendo, bebendo e perdi o controle. A cada copo eu me sentia mais leve, mais calmo, não pensava em nada, e isso naquele momento era muito bom. 

As lembranças vão na mala (Luan Santana)Onde histórias criam vida. Descubra agora