O leitor número 1

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Essa é uma história real. Eu espero que essas linhas façam com que muitas pessoas como eu tomem as devidas providencias para evitar finais parecidos. É sério.

Tenho um blog há muitos e muitos anos. Não é um blog famoso e nem nada. Escrevo sobre os mais diversos assuntos, mas sem nenhuma obrigação de datas e horários. Tem época que posto textos todos os dias, mas em época que abandono a internet por um tempo.

Além do blog, tenho um canal no Youtube, uma conta no Facebook, Twitter, Instagram  e um Tumblr que não divulgo pra ninguém. O Tumblr retrata bem como é minha mente, então não gosto que os conhecidos fiquem vendo o que eu gosto ou deixo de gostar. São particularidades a serem compartilhadas com desconhecidos, gente de outro país que não sabe nada sobre você.

Mesmo com esse monte de coisa, eu não sou ninguém. Trabalho, pago minhas contas, escrevo uma coisinha aqui e outra ali, não encho o saco de ninguém e ninguém enche meu saco. Eu sou... Invisível.

Pelo menos é o que eu pensava até essa semana.

Durante um surto de megalomania com meu blog, criei um e-mail pra ele caso alguém quisesse entrar em contato comigo. Na mesma semana abandonei a idéia e nunca mais abri o tal e-mail. Isso faz três ou quatro anos.

Então, na semana passada eu me lembrei desse tal e-mail e resolvi dar uma checada. Estou de férias do trabalho e estou um pouco entediada, então essa tarefa inútil é justificável.

Para minha imensa surpresa, havia dezenas (quase centenas) de e-mails de um único cara. Não darei o nome real dele, então vamos chamá-lo de Alex.

O último e-mail não tinha título e o conteúdo dizia: “Vou te esperar, meu amor” e tinha uma imagem em anexo. Talvez fosse um vírus, então não abri.

O penúltimo e-mail se intitulava “Por favor”. Eu o abri e li: “Eu sei que você está lendo isso, minha querida... Eu sei. Por que não me responde formalmente? Por que não escreve para quem te ama tanto? Eu... Estou confuso. Sei que leu os primeiros e-mails porque você me respondeu de outras maneiras por muitas vezes, mas... Tem certeza? Fui criado em uma família cristã e dizem que as pessoas que se matam vão para o inferno. Eu não quero que você vá para o inferno, querida. Mesmo que seja para se unir a mim, eu não acho que o inferno seja o melhor lugar para o primeiro encontro formal. Eu te amo. Muito. Muito. Muito. Então, se tem certeza de que quer mesmo isso, não responda esse e-mail e desligue as luzes do seu quarto às onze horas da noite. Beijos molhados, Alex”

Aquilo me deixou assustada. O cara estava falando sobre se matar. E se ele estivesse confundindo minha conta de e-mail com a de outra pessoa? Oh, Deus... Tomada por uma ansiedade sem tamanho, pulei alguns e-mails e comecei a ler mensagens aleatórias que Alex tinha me mandado nos últimos dois anos.

 “Eu também montei minha árvore de natal essa semana. Ela é bem pequena, igual à sua. Decorei com bolinhas vermelhas e estrelas douradas. Acho muito fofo que você continue com os mesmos gostos de tantos anos atrás. Ouvi na semana passada quando sua mãe foi te visitar e disse isso. Aqui vai uma fotinho da minha árvore. Beijos, Alex”

Como diabos ele sabia disso?! Como DIABOS ele tinha ouvido minha mãe dizer alguma coisa?! Aquilo era impossível, cara... Enquanto pensava nisso, abri o anexo e uma foto meio escura se revelou. Era uma pequena árvore de natal IDÊNTICA à minha.  Aquilo fez com que eu começasse a tremer. Eu estava com medo.

...e ainda tinha mais dezenas de mensagens dele.

 “Abri sua correspondência hoje. Você anda gastando muito dinheiro com bobagens, querida. É o quarto par de sapatos que compra nos últimos dois meses. Não se preocupe. Fechei o envelope muito bem. Se quiser me deixar feliz, saia com o par laranja amanhã cedo. Ah, não beba mais vinho. Sei que está pensando naquele maldito Pedro.

Stalker #1Onde histórias criam vida. Descubra agora