Peço desculpas por ter demorado mais do que o usual. Tava escrevendo junto de duas ones e o ping pong pang de "e a outra?" é um demônio.
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A neve havia terminado de derreter, e a verdadeira face da primavera vinha na face de errantes (ou, ao menos, era como costumavam ser chamados quando não estavam ouvindo). Para quem morasse em burgos, era uma época de euforia: troca com uso de moeda ou escambo eram uma verdadeira abundância, fosse mercadorias ou serviços, vindo de e para pessoas que queriam se pôr sobre os próprios pés depois da época cruel que é o inverno.
Se alguém perguntasse a Encre quando exatamente começou a se envolver com essas andanças, não saberia exatamente como responder. Pôde seguir o seu sonho de ser artista porque já estava erguido, mas antes, até a primeira primavera que podia se lembrar, acompanhava algum dos pais ou avós. Grupos grandes e pequenos de pessoas saindo de cidades (ou, foragidos ousados o bastante para se mostrar em público por alguns dias no ano) e alimentando o comércio antes de voltarem para suas tocas, seus ninhos. Mas, se referindo a quando participava por conta própria, poderia dizer que foi como um rapaz de treze anos, e durou ininterrupto até a que veio antes do seu encontro anônimo.
Depois dele... bom, para as duas seguintes aquilo sequer era uma opção: tinha que aprender a lidar com e manter sob controle um bebê que parecia querer crescer mais rápido do que seus dias. O retorno só foi ocorrer na terceira - um desnecessário necessário; não era como a que ocorria no burgo, é claro, mas podia usar e a usava para passar e receber os seus, e para que outras pessoas vissem seu filho sob a luz solar, às vezes o obrigando a usar o capuz abaixado.
Mas, naquela primavera em específico, depois do serviço estendido, houve uma estranha conclusão: talvez ter algumas feitas simplesmente disponíveis, ainda mais considerando que aquele lugar era envolvido em rumores (verdadeiros, mas ainda) poderia resultar em olhares tortos... mas não aparecer também iria. Teria que arriscar ao menos um mínimo para evitar algo pior.
Sabendo muito bem o tempo que morangos levam para crescer e amadurecer, plantou algumas das sementes que guardara do verão - descendentes de crescidos das sementes da bruxa - e levou os vistosos, bonitos e utilizáveis, tão pouco dentro da primavera, morangos.Foi um pouco estranho, era sua primeira vez negociando com alguma coisa que não fosse ao menos artesanal, mas era algo necessário. "Acho que sou simplesmente um desgraçado de sortudo" parecia ser uma frase poderosa.
Moeda adquirida pelos morangos, usou para comprar uma medida de ervas comuns para preparar alguns tipos de chás usados para cuidar de doenças leves.-- Há um doente na casa? -- perguntou a vendedora enquanto era para; era típico, tentar conseguir simpatia, e a pior parte era que costumava funcionar.
-- Ah, sim -- se trauma pode ser chamado de doença -- eu avisei para não dormir de janela aberta tão cedo na estação. -- tenho que o fazer parar de chorar.
A mulher ainda tinha a expressão quase igual no rosto, mas podia ver uma sombra do que cresceu vendo em companhia supersticiosa.
-- Se isso é hábito, então trás um pouco de paz ao meu espírito, ou talvez ter sido abrigo de missionários sagrados tenha tornado aquela casa abençoada.Só pôde dar de ombros e agradecer silenciosamente quando ela seguiu seu caminho. O que exatamente quis dizer com aquilo?
Não poderia perguntar, mesmo se pudesse não se confiava para dar razões para desconfiança, então decidiu ignorar, por enquanto.
Felizmente, foi o único alerta erguido, então podia manter alguma esperança de ter sido apenas uma fala estranha, mas um pouco de precaução nunca fez mal.
Quando voltou para casa à tarde, deixou em seus devidos lugares cada coisa que havia comprado, incluindo as ervas que não ia usar, ao menos não naquele dia. Era uma maneira de tomar seu tempo enquanto organizava as palavras em sua mente, e tentar engolir o próprio medo. Era mãe, mas ainda era humano, e estar ciente de um perigo não significa se preocupar menos.
Uma vez feito, foi para o quarto onde o filho dormia, e de novo o encontrou como um casulo em um dos lençóis. Seria fofo se estivesse tremendo por causa de frio.
Encre se sentou na borda da cama.
-- Oi, querido.
Sem resposta. Bom, já esperava por isso. Uma mão entrou no buraco do casulo e puxou a borda para a direção oposta.
-- Ainda assim?Quieto como sempre, Langer se contraiu em si mesmo e tentou voltar para seu casulo, o que Encre não permitiu. O quão fácil foi ao mesmo tempo o surpreendeu e foi esperado; podia ser uma criança com força o bastante para subjugar um adulto com intenções maliciosas, mas ainda era uma criança recebendo um comando da mãe. Ou talvez fosse o seu amor por ele lhe nublando o julgamento, mas preferia fingir que tal possibilidade sequer existia.
-- Meu amor -- seria difícil com aquelas barreiras restantes, então afastou cuidadosamente o lençol -- o que aconteceu foi errado, mas você fez simplesmente porque queria? -- um soluço saiu de Langer -- Do meu ponto de vista, apesar de errado foi algo que fez tentando fazer algo certo. Isso tem um peso também.
Não realmente ajudou a acalmar. Não que Encre esperasse que passasse tão facilmente, não, o problema foi ter parecido piorar, gotas gordas escorrendo grudadas junto às marcas em suas bochechas.
Seu pobre menino... Suspirando, o puxou para junto ao seu corpo e acariciou as costas.-- Às vezes coisas ruins acontecem para evitar algo pior. Não é necessariamente sua culpa...
E podia dizer aquilo com alguma autoridade, visto que nada parecia o convencer a beber seu sangue em vez de sair para caçar - o que era roubo aos olhos da lei, cervos eram da rainha, mas já era criminoso por existir, o que era mais um? Um irrelevante comparado ao outro, que era um crime capital com uma punição capital.Definida na própria capital.
E era mais próximo da capital do que aquela vila que um pedido de ajuda chegava a mãos inconvenientes, e que, diferente de alguém que não sabe onde vai, não levariam três semanas vagando.
A carta foi recebida nas mãos da capitã, que a analisava com a atenção que um médico oferecia a uma operação aberta, o que aumentava a ansiedade do mensageiro, mesmo que o mesmo não ousasse deixar transparecer.
-- Pelo que foi informado -- foi com o que a mulher rompeu o silêncio -- me parece que seja uma bruxa ou um licantropo, mas é impossível saber sem examinar a área pessoalmente. O mais sensato é enviar um grupo pequeno, e se a ameaça for maior do que aparenta, um maior para encontrá-la e destruí-la.
-- Como desejar, Capitã Eterna. -- o mensageiro respondeu com tom respeitoso -- Espero que a seleção para o grupo lhe agrade.
-- Irá, porque eu mesma irei escolher e um dos membros serei eu.
Não era uma decisão sensata, diferente da base dela, mas a julgou necessária. A ameaça em si parecia menor, mas algo em sua alma dizia que havia maus do que encontrava o olhar, e queria achar o quê com seus próprios sentidos.
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Vampire Verse - Sun and Moon
FanfictionEm uma área longe da capital, em um país essencialmente mandado pela igreja, festividades não cristãs eram o próprio fruto proibido. Mas, seria inocência demais achar que quem quer não daria um jeito. Encre podia não ter crenças, fossem cristãs ou...