ATO 8

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Você ganha força, coragem e confiança através de cada experiência em que você realmente para e encara o medo de frente.

Você ganha força, coragem e confiança através de cada experiência em que você realmente para e encara o medo de frente

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     O escritório da Doutora era muito pequeno. Um cubículo com uma mesa de canto, um relógio de parede e uma prateleira com poucos livros. A luz acima delas piscava de vez em quando e o papel de parede verde claro, já estava tão gasto quanto o piso sujo, cinzento

     Era impressionante o fato de seu jaleco ser tão branco. A mulher sentou em sua cadeira, repousou o radio de bolso que segurava e pescou do bolso de seu jaleco uma caneta prateada. Deu dois cliques e começou a escrever em um caderno.

     — Vou passar um medicamento para dores musculares. Isso vai amenizar as coisas. Antes farei um exame individual em ambas. Provavelmente essa aí fraturou algum osso da perna. Será a primeira — e apontou para Emy com a caneta. Ela não desgrudava os olhos do papel enquanto conversava com elas.

     Cristinne estava apreensiva já que Emy teria de ser avaliada primeiro por estar mais debilitada. Ela tinha pressa. Quanto mais tempo perdia por aí, mais perigo David passava.

     — Me acompanhe — Ordenou a mulher, se levantando da mesa e abrindo uma porta no canto, que daria para algum outro lugar. Emy obedeceu e saiu do local com ela. Agora Cristinne encontrava-se sozinha, com as mãos espremidas pelas pernas, e o olhar ansioso. Ela olhava para o relógio da parede e observava os ponteiros. Depois desviou a atenção para a prateleira de livros, e apertou a vista para enxergar o titulo de cada um deles pela brochura. 

     Todos com temas de anatomia e coisas irrelevantes para ela. Ao se levantar da cadeira deu uma volta na sala e avistou um isqueiro prateado, muito bonito, com tampa e um jornal fechado na mesa da Doutora. Em sua primeira pagina, estampava a imagem da Grande Fábrica e isso com certeza a interessava. A garota apanhou o jornal e o folheou. Ali pode ver a entrevista de um jornalista com quem parecia ser o diretor de fábrica.

     " A energia de toda região estava em falta, de fato. Desde que o grande gerador pifou, pensávamos que seria o fim desta civilização. Mas o Arquiteto já estava ciente que aquela maquina estava com seus dias contados. Projetou a grande fábrica muitos anos antes do acidente e com isso, não ficamos sem luz em nenhum momento. Ainda tem queda de energia sim, mas porque precisamos de mais crianças para dar suporte. Os três institutos estão fornecendo o maior numero de crianças possíveis, então acredito que com o trabalho árduo e continuo de nossas crianças, essas quedas parem."

     " O arquiteto já está estudando formas alternativas para geração de energia, além da Grande Fábrica?"

     "Com toda certeza. Ele é um visionário e sempre está um passo a frente dos problemas. Até mesmo a superfície já foi estudada como uma possível fonte de energia, mas vai resultar em anos de pesquisa. Ninguém desta civilização se quer pisou para fora do subterrâneo, então posso dizer que este é um passo ambicioso e cauteloso. Até lá, minha Fábrica dará conta do recado, não se preocupe."

     Cristinne folheou mais uma pagina. Desta vez uma matéria despretensiosa que falava do aniversário da Metrópole e a data que seria comemorado. Ao terminar de ler cada palavra daquele jornal pode perceber que já estava naquele escritório a um bom tempo. A garota olhou para o relógio de parede e aquela espera já engolira uma hora de seu tempo. 

     Existia duas alternativas para ela no momento: Ou procurar a Doutora ou ir embora. Seus ferimentos do braço doíam mas eram suportáveis. Na atual situação seria comum se Cristinne fosse embora e deixasse Emy ali. A garota estava onde deveria estar e sendo cuidada, em segurança e provavelmente não acompanharia mais ela nesta jornada perigosa.

     Cristinne suspirou e decidiu que realmente era hora de seus caminhos se separarem. E todavia, Emy a detestava, então a partida seria mais fácil. Desde que ela aprendeu que afeto era uma palavra proibida, usada recorrente por ela, teve a impressão que não podia mais esquece-la ou deixar de usa-la. Então quando encostou na maçaneta da porta da saída ela olhou novamente para a porta em que Emy entrara e suspirou fundo. 

     Cristinne decidiu ir atrás dela.

     Abrindo a porta por onde elas passaram, a pequena garota se deparou com um local muito escuro e amplo. A única luz dali vinha de um lustre acima dela. Antes de entrar, pegou o isqueiro da mesa da doutora e foi em frente. Seu coração saía pela boca. Ir até o local da consulta poderia incomodar a Doutora e piorar ainda mais a sua situação com Emy. Mas quem disse que Cristinne escutava seus pensamentos? Ela apertou os passos e olhou com mais atenção ao redor. O local possuía um odor forte, podre. Como se tudo em volta estivesse apodrecido. A visão foi se acostumando com o limbo, dando forma ao cenário. 

     Além de grandes macas com pessoas deitadas ali, ela pode ouvir alguns gemidos. Seu corpo imobilizou naquela hora. Era uma sala de pacientes enfermos, e nos dois lados do local possuíam macas enfileiradas. Para melhorar sua visão, Cristinne acendeu o isqueiro prateado e iluminou grande parte do cômodo e pode ver que aquelas pessoas deitadas, eram crianças.  

     Cristinne deu um salto para trás, quando uma delas levantou metade de seu corpo e olhou para ela. Seu rosto estava repleto de costuras e um dos olhos não existia. No lugar, apenas um buraco profundo. As pernas da crianças estavam amputadas, seus cabelos raspados e seus lábios, secos, machucados, quase suplicavam por agua. A paciente não pode dizer nenhuma palavra. Logo as demais levantaram e murmuraram. Era impossível que se locomovessem pois estavam amarradas por correntes e muitas partes de seus corpos, amputados. 

     Cristinne passou pela sala de macas e correu para a porta seguinte. Seu suor frio, escorria do seu rosto e sua respiração voltara a falhar. Um medo intragável dominou seus pensamentos. Não havia nada que pudesse fazer para ajudar aquelas pobres almas. 

     Agora ela se encontrava em um corredor cumprido e largo, com diversas portas de metal enferrujados em cada parede. O fogo do isqueiro tremeluzia em sua mão. A escuridão ainda era um problema e desta vez não tinha lustre. Enquanto passava o isqueiro próximo das portas, notou que em cada uma possuía uma janela retangular que permitia espiar a parte de dentro do cômodo, mas era impossível que ela alcançasse a janela devido ao seu tamanho. A garota tentou abrir as portas mas estavam todas trancadas. Sua ultima esperança era a ultima delas no fim do corredor. 

     Se aproximando, ela pode escutar gritos abafados vindo do outro lado. Cristinne arregalou os olhos e seu coração acelerou ainda mais. Algo de fato não estava certo ali. Ainda dava para voltar, com certeza. E Cristinne queria mesmo voltar. Ela só pensava em sair daquele Hospital o quanto antes mas não foi isso o que ela fez. Ao contrario de tudo o que gostaria de fazer naquele momento, ela pegou na maçaneta da porta e a virou. 

     Estava aberta.

     Estava aberta

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Todo Monstro que Há em NósOnde histórias criam vida. Descubra agora