Capítulo 2 - Vamos brincar de fantasia

14 2 0
                                    

Mais uma consulta estúpida naquela sala estúpida. Ouvia os sons de bolhas que o aquário daquela sala fazia enquanto batia meus dedos frequentemente em meu joelho esquerdo. Ficava encarando o chão, como se não desse a mínima para o que o Sr. Schneider estava falando comigo, mas eu realmente não dava a mínima.

Ouvia o som abafado de sua voz ecoar pelos meus ouvidos, mas a única coisa que eu conseguia pensar era naquela mulher que pulou em cima de mim no meu sonho. Eu nunca havia tido uma paralisia do sono um dia sim, dia não na minha vida. Eu realmente não sabia o que estava acontecendo. Então, se nem eu mesma sabia, quem dirá um velhote de óculos em um bloquinho de notas na mão vai saber?

Billie? Billie!

Ouvi o último grito dele antes de voltar a minha atenção. Ele parecia estar bem precioso comigo, pois pude ver o seu ar de preocupação em seu olhar enquanto me encarava atentamente.

— Sim? — falei, como eu disse, normalmente.

— Poxa, Billie, você está me preocupando muito! O que está acontecendo com você? Billie?

Aquela mulher... Aquela mulher... Aquela mulher que pulou em mim...

— Billie!

Voltei para a minha consciência mais uma vez. Dessa vez, balancei a cabeça tentando espantar aqueles pensamentos repetitivos da minha cabeça enquanto olhava novamente para o rosto preocupado do Sr. Schneider.

— Ah, sim, Sr. Schneider, eu... — abaixei a cabeça enquanto pensava em algo para responder — ... estava apenas pensando em algumas coisas. Mas pode continuar a falar! Me desculpe.

— Tudo bem, já chega — ele disse enquanto ia até a sua mesa de arquivos de seus clientes e pegava um papel com um tom esverdeado em mãos de uma gaveta. — Vou lhe passar uma receita de um remédio e eu quero que você o tome diariamente — disse enquanto escrevia no papel verde.

— Ah, por favor, Sr. Schneider! — reclamei, batendo minhas mãos nas minhas coxas. — Não precisa de tudo isso! Eu estou bem! Eu juro para você.

— Você está me deixando muito preocupado, Billie. Isso não é normal. Nenhum outro cliente meu agiu dessa forma que você está agindo. Esse caso pelo que você está passando pode ser muito grave! Então trate de se cuidar mais. Dê descarga em todas as coisas que você viveu até hoje e siga em frente!

— O senhor vai me perdoar, Sr. Schneider, mas você não sabe do que está falando — falei, enquanto me levantava do sofá, ficando de pé e cara a cara com ele. — A minha mãe acabou de se afastar e eu só estou tentando superar isso tudo que está acontecendo! Não é nada grave, isso eu posso prometer para você.

Ele me encarava enquanto eu falava. Seus olhos saltavam pra fora de seus óculos, fitando os meus. Ele parou de escrever e eu me acalmei. Ele não vai mais me dar aquela receita.

Ele rasgou a folha verde do bloco e me entregou. Espera, o quê? Eu pensei que ele tinha mudado de ideia, mas só havia terminado de escrever a receita.

— Tome. — Ele me entregou o papel verde com aquela letra esquisita que todo psicológico tem. — Quero que comece a tomar a partir de amanhã, tudo bem?

Demorei um pouco para pegar o papel de sua mão, pois estava muito brava o encarando. Apenas tomei aquilo da mão dele, peguei minha jaqueta e saí daquele prédio estúpido, deixando-o sozinho naquela sala vazia e triste. Tomara que eu nunca mais tenha que voltar naquele lugar.

Treino de futebol é algo esquisito. É só um monte de garotos bonitos correndo atrás de uma bola em uma grande gigante, é basicamente isso. E é um tédio.

Quando nós dormimosOnde histórias criam vida. Descubra agora