Capítulo 4 - Papai

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Percebi uma grande mudança depois que fui visitar a minha mãe: não tive pesadelos. Do mesmo jeito que eu deitei na cama de noite, eu dormi como uma pedra. Incrível como aquilo tudo que o meu irmão disse era verdade, e incrível como aquilo tudo que o Sr. Schneider disse era mentira. Eu só precisava ver a minha mãe, só isso. Estava sentindo muita falta dela desde quando ela tinha ido "morar" lá e aqueles poucos 10 minutos já foram o suficiente para isso. Não estou dizendo aqui que eu fui visitar a minha mãe só para parar com os meus pesadelos, até porque eu me odiaria por isso, mas... eu queria mesmo ver ela.

Do mesmo jeito que eu não tive pesadelos, eu também não tive sonhos. Esperava algo alegre, esperava algum sonho com a minha mãe, pelo menos. Se fosse o meu pai, seria um pesadelo. Não sei porque eu tinha tantos pesadelos com ele antes, mas... ele me dava medo. Muito medo. Ele tinha exatamente a mesma cara de pessoa que acabou de sair da prisão. Aquele sorriso com dentes no rosto... parecendo que faltava um dente ali. Me arrepiava só de pensar nele quando era criança. Eu jurava que, algum dia, ele faria algo de ruim comigo. Mas ele era muito legal comigo, muito mesmo. Sempre me levava à escola, sempre me buscava também, cuidava superbem de mim, fazia meu café da manhã... É, sinto falta dele também.

Meu pai começou a bater nela gritando:

SEJA HOMEM, PARE DE CHORAR!

Você não pode mais viver desse jeito, Harold! Assim não dá! Você tem dois filhos para cuidar, lembra disso?


Esse não é você, Harold... não é mesmo.

Vai ficar aí chorando ou vai ir lavar as vasilhas, hein, sua cadela?


Eu nunca tinha visto meu pai daquela maneira, nunca mesmo. Minha mãe nunca nem chegou a falar daquela noite, talvez porque não queira que eu saiba mesmo, mas eu sei, mamãe. Eu sempre soube.

No dia seguinte, ouvi a notícia da minha mãe de que pai tinha morrido em um acidente de moto.

O clima do dia estava perfeito, na minha opinião. O céu estava nublado, o vento estava tão forte que fazia até ruídos. As árvores balanceando como se estivesse dançando... estava um dia ótimo. Estava usando o estilo de roupa que eu mais amo: agasalho. Uma blusa de frio fina por baixo e um moletom grosso por cima. Com mais moletom, uma calça e um par de meias pretas.

Eu estava na janela agora, observando o dia enquanto tomava o meu chocolate quente. A caneca estava mais quente que o chocolate, então tive que arregaçar minhas mangas da blusa até cobrir as mãos para segurar a caneca, não quero ficar com as mãos queimadas.

Meu irmão estava na sala, no andar debaixo, assistindo a um filme na Netflix. Provavelmente deve ser alguns daqueles de ação então nem vou lá para assistir junto com ele, que já deve estar dormindo no sofá agora. Nunca chame meu irmão para assistir um filme com você, ele sempre vai dormir nos primeiros cinco minutos. Já até desisti de chamá-lo para ir ao cinema.

Coloquei uma música Lo-fi para tocar no meu celular enquanto eu desenhava. Há dias que eu nunca me sentia tão relaxada assim. Por mais sorte ainda, começou a garoar do lado de fora. Os pequenos pingos de chuva que caíam na janela deixavam pequenas manchas. Céus! Me sentia no paraíso!

Eu já sabia que tudo não podia estar tão perfeito assim... e realmente não estava.

Billie...

Ouvi uma voz. Pelo que parece estava vindo do corredor. A música no meu celular estava um pouquinho alta, então não ouvi da primeira vez. Até que chamou novamente.

Quando nós dormimosOnde histórias criam vida. Descubra agora