Capítulo 7 - A senhora da rua ao lado

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A decoração da casa era típica de qualquer outra senhora idosa que você encontraria em qualquer lugar. Haviam muitas decorações de Jesus Cristo penduradas nas paredes, relógios de ponteiro com uma pomba e uma Bíblia, panos feitos de crochê para todos os lados, uma casa fofa, mas ao mesmo tempo um tanto esquisita.

Entrei dentro da casa mancando, ainda tentando não pisar no chão com o pé direito. A senhora entrou dentro da casa logo depois de mim e fechou a porta bem forte. Pelo menos ela não a trancou, o que me deixou mais tranquila. Mesmo sendo uma idosa e mesmo sendo minha vizinha, ainda não confio muito em estranhos. Obrigada, mãe.

— Sente-se, querida — disse ela gentilmente, indicando para o seu sofá com um lençol rosa claro o cobrindo quase inteiro. — Vou pegar uns curativos e um pano molhado.

Ela foi em direção até a cozinha, onde não pude ver o que estava fazendo, mas ouvi o som da torneira da pia sendo aberta, jorrando água. Sentei-me no sofá, era até aconchegante, confortável, bem macio. Pude perceber então porque ela quis colocar o lençol no sofá: grande parte dele estava rasgado, mostrando a espuma branca lá de dentro.

Ela voltou minutos depois com um balde amarelo pequeno em mãos. Consegui ver o que estava dentro dele: um pano úmido, óleo de mamona, uma pinça, sal, cola branca e uma cartela de band-aid. Objetos básicos para se tirar cacos de vidros de qualquer parte do corpo.

Ela se ajoelhou na minha frente, colocando o balde no chão ao seu lado. Ela pegou o meu pé direito delicadamente que mal dava para perceber que havia alguém o segurando.

— Está muito feio? — perguntei enquanto ela fazia aquela cara de novo, com medo da resposta.

— Se não lhe assusta, um pouco, sim — respondeu simplesmente, sorrindo um pouco. Ela levou as mãos para mais perto de onde os cacos estavam, pressionando o local levemente. Ela estava levando os cacos que estavam muito profundos um pouco mais para a superfície, para ficar mais fácil de tirar.

— Nunca passei por isso na minha vida — disse, suspirando, olhando para cima, sem querer sentir dor. — Isso dói?

— Não muito se você não mexer os pés. — Por mais que não pareça, ela disse isso da forma mais doce possível, ainda pressionando o meu pé.

Quando ela parou, levou as suas mãos até o balde amarelo, saindo de lá com o óleo mamona. Ela tirou todas as outras coisas de dentro do balde e depois jogou o óleo lá dentro, misturando com sal. Ficou um bom tempo mexendo com uma colher de pau.

— Coloque o seu pé aqui dentro — disse ela, levando o balde até debaixo dos meus pés, onde fiz.

A sensação foi terrível. O sal fez meu pé doer mais do que já estava doendo. Meu pé estava ficando muito quente, não sei se era para ficar desse jeito. Meu sangue parecia estar queimando no meu pé. Fiz força com os dentes, rangendo-os.

— Daqui a pouco você acostuma — disse ela. — Vai ter que ficar aí de 20 a 30 minutos.

Meu mundo caiu nesse momento. Suspirei, infeliz. Consegui olhar para dentro do balde, onde meu sangue pareceu estar fervendo, mas não estava, era apenas a sensação terrível.

Nós duas ficamos caladas durante alguns minutos. Não sabia o que eu poderia falar, eu não a conhecia. Só a via gritar de vez em quando com aquelas mesmas crianças que estavam jogando beisebol na rua hoje mais cedo.

— Então... — eu disse, tentando cortar aquele clima constrangedor — eu vi aquelas crianças quebrarem a sua janela mais cedo. Também vi você gritando com elas.

Ela deu uma leve risada.

— Ah, sim, os Bowers. Filhos do sr. e da sra. Bowers, os queridinhos da cidade.

Quando nós dormimosOnde histórias criam vida. Descubra agora