elizabeth
O ônibus inteiro tinha praticamente virado de cabeça para baixo assim que o motorista (que, em seu crachá, dizia Kenneth Johnson) havia pisado no freio o mais forte possível. Acabei me inclinando para a frente e bati o queixo na traseira do banco da frente e ainda deixei o meu celular que estava em minhas mãos cair no chão. Todas as pessoas ali de dentro (inclusive Amy Baker) estavam murmurando coisas para si mesmos. Olhei para a frente, na cabine do motorista, e vi que ele estava parado atento a cada movimento que o vento fazia nas árvores.
Amy estava sentada no banco ao meu lado. Ela estava quase dormindo antes daquilo ter acontecido, e, pelo que parece, ela também tinha deixado o seu celular cair no chão, mas não se preocupou em se agachar para pegá-lo. Não pude não notar de ver que ela estava tremendo até a cabeça.
— Que merda que aconteceu? — perguntou ela, criando coragem para olhar para mim.
Dei de ombros, sem saber a resposta e retornei a olhar para a cabine do motorista.
— Deve ter sido algum carro — disse eu — sendo dirigido em uma velocidade inadequada para a estrada. Ainda mais de noite.
— É, é... deve ter sido isso. — E voltou a tremer. Olhei para ela com a cara dizendo "fala sério" depois de vê-la daquele jeito. — Desculpe, mas não consigo evitar.
— Quer que eu vá até lá ver o que aconteceu?
— Acho melhor. — Me levantei do banco então, mas ela pegou no meu braço assim que segui rumo à cabine. — Espera! Eu vou com você.
Ela se inclinou para a frente e pegou algo no chão com a cara praticamente colada ali, quando se levantou novamente, percebi que era o seu celular. Ela deixou as suas coisas, sua mochila e tal, e me seguiu até onde o motorista estava. Passamos diante de todas as pessoas dali e consegui ver algumas crianças (eram duas ou três) quase começando a chorar. Quando chegamos à cabine, olhei pela minúscula janelinha que havia na porta, bem lá em cima. Tive que ficar na ponta dos pés. Kenneth Johnson continuava a encarar tudo, quase que ficando em cima do volante, que era onde ele estava se apoiando.
Limpando a garganta, bati na porta timidamente. Ele me olhou na mesma hora, assustado, e depois foi até mim e Amy e abriu a porta.
— O que vocês querem, madames? — perguntou ele, se apoiando no suporte da porta.
Kenneth era um cara baixinho, quase careca na parte superior da cabeça, porém tinha cabelos brancos dos dois lados e atrás. Usava o seu uniforme de motorista de ônibus que era um verde com branco e também estava fumando um charuto, do qual o apagou e jogou dentro de uma caixinha na cabine.
Depois de ele ter olhado para nossas caras, ele já deve ter notado o que queríamos saber.
— Não se preocupem com o que acabou de acontecer, era apenas um animal que estava correndo no meio da estrada à noite. Nada de mais.
— Você tem certeza? — perguntou Amy trêmula. — Todos os passageiros estão assustados, que animal era?
— Não sei — respondeu, colocando as mãos nos bolsos. — Deve ter sido um urso. Já deve estar na época de caça deles, sabe. É... muitas pessoas estão reclamando em Manily pela infestação de ursos no meio das estradas. De onde vocês são?
— Soledasep — respondi rapidamente.
— Ah, é aqui perto, senhora. Não se preocupem mesmo, já estamos quase chegando.
Não disse mais nada, apenas entrou novamente dentro da cabine e fechou a porta na nossa cara.
— Que cara mal-educado — disse Amy indignada. — Como podem contratar um ogro desses? — Olhou para mim.
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Quando nós dormimos
HorrorBillie Port é uma adolescente de 14 anos que tem um transtorno do sono: a paralisia. Com o seu foco em acabar de vez com seus sonhos assustadores, ela vai à consultas de psicologia para amenizar a situação, mas tudo começa a piorar quando sua mãe va...