michael
Toquei a campainha da casa pintada de um tom meio alaranjado da Srta. Martin. Cinco segundos mal se passaram quando ouvi sons de passos ecoando do lado de dentro da casa, vindo até a porta. Eram barulhos de saltos altos, só poderia ser ela.
A porta foi aberta e, como disse, era a Srta. Martin, abrindo junto com a porta um belo sorriso nos lábios. Ela estava com a mesma aparência de quando ela tinha ido à minha casa para entregar a cesta, do mesmo jeito.
— Boa tarde, Srta. Martin — comecei a dizer —, só passei aqui para lhe entregar a cesta de doces de goiabada que a senhora me emprestou.
— Oh, meu bom jovem, maravilha — disse ela sorridente enquanto eu lhe entregava a cesta. — Espero que a sua mãe tenha gostado dos docinhos. Demorei um tempinho para fazer, sabe, não tenho ajuda aqui em casa, e nem mesmo uma companhia. — Fez uma cara tristonha.
Era nítido saber que eu comecei a ficar desconfortável naquele momento, até ela deve ter percebido porque fiquei balançando as pernas, colocando as mãos dentro dos bolsos da minha blusa.
Ela ergueu o olhar e sorriu novamente para mim.
— Você aceita uma xícara de chá, meu bom jovem? — perguntou ela, segurando na alça da cesta com as duas mãos agora. Abri a boca para começar a falar, mas ela me interrompeu. — Já tinha oferecido à sua irmã naquele dia em que ela pisou em cima dos cacos de vidro aqui em frente de casa, você se lembra? Oh, pobre coitada, só Deus sabe o que poderia estar passando pela cabeça daquela garota naquele momento...
Olhei para ela de forma estranha, assim como os meus pensamentos estavam agora, agindo de forma estranha. De repente, pensei que, talvez, a Srta. Martin poderia ter algo a ver com aquela história toda da Billie e seus pesadelos. Quero dizer, vai saber ela sabe de algo? Vai que Billie contou algo a ela que não contou a mim?
— Sabe, Srta. Martin — disse sem graça —, acho que uma xícara de chá cairia bem agora.
Ela pareceu conter a maior das maiores felicidades, o sorriso que ela deu depois de eu dizer aquilo se alargou para quase que fora de seu rosto.
— Oh, mas que maravilha, meu bom jovem, que maravilha! — Ela foi para trás de mim e me deu um leve empurrão, indicando que era para eu entrar dentro da casa. — Vamos, meu querido, vamos, já vou colocar a água para ferver.
Eu não tinha mais volta, tive de entrar dentro da casa.
billie
Poderia acontecer qualquer outra coisa na minha vida agora, mas eu posso garantir a seja lá quem estiver lendo isso que isso daqui que está acontecendo não é um sonho, de forma alguma não é um sonho. Mas também não posso dizer que isso é a mais pura realidade, ninguém simplesmente some de repente de sua casa e vem parar em um lugar desses, isso é maluquice.
Depois de ter ficado mais alguns tempos inconsciente, acabei acordando abrindo os meus olhos lentamente de forma como se eu tivesse acabado de me entupir de remédio e olhei o local de onde estava ao redor, tentando reparar aonde eu poderia estar... desta vez. Já estive em tantos lugares diferentes de uma vez só, a prova disso é aquela sala com os quartos de onde eu mais visitei durante toda a minha vida.
Seja lá qual for o lugar de onde eu estava agora, já não era mais reconhecível ou familiar ao ponto de eu conseguir descobrir onde era. Com a minha cabeça rodando como se fosse um brinquedo de samba de um parque de diversões não me ajudava com absolutamente nada. Consegui me levantar fazendo um leve esforço, do qual me fez até fechar os olhos de tão fraca que eu estava naquele momento. Apoiei-me em cima de seus braços e ali fiquei, em pé, com a sensação das minhas pernas serem feitas de gelatinas.
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Quando nós dormimos
TerrorBillie Port é uma adolescente de 14 anos que tem um transtorno do sono: a paralisia. Com o seu foco em acabar de vez com seus sonhos assustadores, ela vai à consultas de psicologia para amenizar a situação, mas tudo começa a piorar quando sua mãe va...