Para Law, Luffy e Kid eram as pessoas mais fortes e duronas que havia conhecido em sua vida – embora jamais admitisse para não inflar ainda mais os egos já excessivamente abundantes –; e isto não apenas em força bruta, como também no emocional, onde na maioria das vezes se mantinham firmes com quem eram ou o que precisavam fazer, não importando a adversidade.
Então, para si, ver aqueles dois trogloditas que não fraquejavam por praticamente nada naquela situação tão atípica a ponto de estarem quase derramarem lágrimas por algo tão pequeno era até cômico.
Justamente por isso não podia deixar de sorrir ladino enquanto folheava uma revista, observando-os de soslaio.
– Achei que homens como vocês nem sentiriam dor por umas picadinhas bobas dessas. - A voz falsamente despretensiosa do moreno tatuado cortou o silêncio, atraindo a atenção do moreno menor e do ruivo sentados nas cadeiras acolchoadas pretas. – Engraçado que não estou vendo vocês rirem, me parece até que querem chorar.
Kid foi o primeiro a se irritar, virando o rosto completamente ruborizado para o lado contrário do banco de espera, onde Law estava. Detestava, na verdade tinha um ódio profundo por quem ousava rir dele, conquanto ali realmente houvesse um motivo para tal e ele reconhecia isso.
– C-cala a boca, Trafalgar! - E obviamente não admitiria.
– Não tá doendo nada mesmo! - Luffy também reclamou de onde estava, mas os olhos marejados e o bico emburrado evidenciavam a mentira. – Isso não é nada pra mim, eu aguento qualquer coisa!
– E eu aguento muito mais que ele.
– Não aguenta nada, espetado! Eu sou mais forte que você!
– Só nos seus sonhos, mugiwara!
Enquanto os dois começavam uma discussão idiota Law revirava os olhos se perguntando como ambos poderiam ser tão estúpidos, e ele também, por estar ali com eles por livre e espontânea vontade.
O que ocorria na verdade era que os três decidiram fazer tatuagens juntos. Para Law que tinha o corpo parecendo um gibi – como seu pai costumava dizer – não foi nada muito custoso receber mais uma, todavia era uma nova experiência tanto para Luffy quanto para Kid.
O pior era que já estava tarde e o horário de expediente dos irmãos tatuadores que os atendiam já havia acabado, mas aqueles dois não estavam ajudando, pelo contrário, estavam atrasando ainda mais o trabalho se remexendo e fazendo alarde daquela forma.
Tatuagens causam dor, é evidente, em alguns lugares mais do que outros, variando também a depender da pessoa que era tatuada. Nos dedos também doíam, mas era considerada pouco intensa ao comparar com outras áreas mais sensíveis, ainda mais para aqueles dois que já haviam passado por dores muito piores. Contudo, havia um pequeno porém.
Kid era alguém com uma pele extremamente sensível, onde qualquer ação externa afetava-a, o que tornava aquelas picadas muito incômodas. Já Luffy tinha certo receio com agulhas, não gostava de objetos cortantes ou perfurante próximos de sua pele, era como se fosse uma fraqueza à sua natureza.
– Eu não vou chorar por algo tão besta assim! – Kid voltou a encarar Law, tentando passar mais confiança dessa vez, porém sua voz ainda saiu vacilante e o moreno percebeu, é claro que ele perceberia. – É-é só que essa parte da pele é muito fina, você sabe disso.
– É, e eu fiz as minhas com 13 anos, em todos os dedos. Não achei nada demais. – Um sorriso maldoso e zombeteiro pintou os lábios finos. Ah, se aquele rosto não ficasse tão lindo sorrindo com certeza já teria levado um tremendo de um soco do ruivo. – Você que tem a pele sensível, Estauss-ya.
– Tsc.
– Mas isso não vale, Tral! A sua já tava feita faz tempo, só precisava mudar umas coisas!
– Eu tive que retocar e fazer o contorno com os novos detalhes de toda forma, Mugiwara-ya, foi praticamente a mesma coisa que vocês. – O tatuado finalmente deixou a revista de lado para encarar os dois, vendo Luffy ainda emburrado e Kid vermelho, ambos irritados. Céus, era pedir demais vê-los daquela forma e não querer contribuir para mais. – Quem diria... Vocês dois são metidos a durões o tempo todo, mas bastou uma agulhinha pra virarem de porcelana.
A fala de Law fez os tatuadores rirem, o que serviu apenas para deixar o moreno e o ruivo ainda mais possessos e constrangidos. Tinha estranhos rindo deles, quem eles pensavam que eram?
– Tão rindo do que!? Querem brigar, é!? Eu vou chutar a bunda de vocês!
– Não, não, longe disso. - Um dos tatuadores respondeu risonho. – Não precisa se exaltar, estamos quase terminando o preenchimento, tudo bem?
Mesmo que a contra gosto, os dois concordaram. Aquela situação já estava sendo insultante demais, só gostariam de terminar logo.
[...]
Após cerca de quarenta minutos, a tatuagem de ambos estava finalizada e os três deixavam o estabelecimento já tarde da noite.
Os dois mais novos ainda estavam irritados, sobretudo pelas provocações de Law. Definitivamente aquele momento não fora como nenhum dos dois imaginou.
– Vocês ainda estão irritados por isso? - O moreno perguntou incrédulo quando os outros dois saíram andando na frente.
– Você ficou zombando da gente o tempo todo! Você é um namorado idiota, Tral!
– O papel de babaca aqui é nosso, não seu, idiota!
– Tá, tá, desculpa. – O moreno teve que dar uma pequena corrida – a contra gosto – para alcançá-los. – Você foram bons garotos e muito fortes, nem gritaram ou choraram.
– Vai se ferrar, Law!
Enquanto eles se afastavam nervosos Law continuava rindo. Também pudera, não era sempre que encontrava algo para poder provocá-los assim, era sempre ele o alvo das piadas dos namorados! Nada mais justo inverter o jogo ao menos uma vez.
Outra vez teve que apressar os passos para se juntar a eles, dessa vez sem mais provocações. Quando estava na frente dos mesmos, fazendo-os pararem de andar, pegou a mão direita de cada um deles, fitando-os com carinho.
– Desculpa, eu não vou mais fazer isso. - Até porque reconhecia a importância daquele momento para os três.
Seus olhos pousaram nas mãos sobre as suas, vendo em ambas, no dedo anelar, o pequeno desenho de âncora com uma corda a transpassando marcado na pele com a tinta escura. Sorriu ao ver o mesmo desenho na sua mão direita – que segurava a de Luffy – onde havia o mesmo desenho de âncora sobrepondo o “T" da antiga tatuagem presente ali, substituindo-o e completando o trio. Levando-as até os lábios, Law beijou cada uma das tatuagens sobre o plástico que as protegia.
Inevitavelmente Luffy sorriu com o gesto, esquecendo rapidamente sua irritação com o outro enquanto Kid ruborizava mais uma vez, fazendo o mesmo.
– Mas o importa é o que isto significa, não?
Não foi necessário uma resposta afirmativa, a mão de ambos se entrelaçando à sua era o suficiente.
Porque, apesar da dor e de alguns bons momentos de piadas que passaram e com certeza passariam mais tarde, valeu a pena ter finalmente a representação daquele novo vínculo que compartilhavam e lhes eram tão importantes cravado em suas epidermes.
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Eles não eram durões?
FanfictionKid e Luffy eram bem durões, o que tornava tudo mais cômico para Law ao ver ambos quase chorarem por algo tão pequeno. Kidlawlu || Fluffy