epílogo

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Uma vida juntos....


As semanas que se seguiram quase chegaram ao ponto de normalidade. Mas minha
vida deixou de ser normal desde o dia que Ruggero entrou na minha lojinha em Angra dos Reis,
se passando por um fotografo. A propósito, não voltei lá mais. Quero esquecer aquele
lugar. Nada do que vivi ali tinha sido real: a falsa amizade de Susie e Vanessa que
transavam com Bernardo pelas minhas costas, a falsa proteção e carinho de Renato, e o
falso amor eterno com Bernardo.
A casa em que morávamos ainda é minha, mas por um tempo, não quero pensar
naquela cidade.
Papai e mamãe vieram morar no Rio, aqui tem uma condição melhor para o tratamento
da minha mãe e eu fico perto deles. Com o tempo, meu pai aceitou que Carolina errou e
precisou ser punida. Conversamos sobre o assunto e enfim ele conseguiu encarar Ruggero
ter uma convivência saudável. Meu marido paga o melhor plano de saúde para minha mãe
ter o melhor tratamento. Eu berrei que não queria isso, mas Ruggero é teimoso e meus pais
nãos recusaram a ajuda.
Eu e Ruggero  vivendo uma constante lua de mel e isso é maravilhoso, sem falar em Beni
que demostra estar cada dia mais feliz com as novas pessoas que o cercam. Como Ângela
a vovó e o pai coruja, o maior fã do menino.
Ruggero tem se mostrado um pai amoroso e atencioso, longe de ser o pai babaca que
mima todos os gostos do filho, como achei que seria. Certo dia Beni gritou esperneando
querendo mexer no notebook do pai e eu fiquei com raiva pois Ruggero foi duro e áspero com
o menino.
E então ele me disse: — Eu e mike  fomos criados sabendo nosso lugar dentro de
casa e fora dela. A gente nem mesmo podia entrar sem permissão no escritório do nosso
pai quando ele estivesse lá dentro. Não vou criar um futuro playboyzinho. Bernardo tem que
entender de pequeno que ele não será o centro do mundo e que vai ter que batalhar para
conseguir suas próprias coisas.
E eu entendi e concordei. Desse dia em diante, não intrometi mais quando ele falava
sério com Beni: “Não pode. Papai não deixa.”
E eu passei a admirar isso, e a prever um futuro do nosso filho crescendo sendo um
bom homem; confesso que era a coisa que eu tinha mais medo, por Ruggero ser rico, Beni 
crescer mimado e petulante.
Agora, três meses depois de ter voltado da lua de mel em Roma, acabo de chegar da
faculdade e jogo a bolsa no sofá. Estou exausta; faminta, cansada, os pés doloridos.
Estou fazendo faculdade de letras e já comecei a dar vida a meu primeiro romance.
Tenho mil ideias na mente, mas nunca tive nem mesmo tempo de colocar no papel. E
agora, com um computador só para mim e com um tempinho sobrando, eu estou
conseguindo incrementar um bom enredo.
Beni está na sala com a babá e se levanta apressado e vem cambaleando até mim;
abaixo para recebe-lo num abraço. Ele já está quase completando dois aninhos. Faltam
apenas três semanas para isso.
Do fundo da casa, sinto cheiro de comida.
Ah! Esqueci de falar: estamos morando com Ângela. E está sendo maravilhoso essa
nova experiencia. A casa é enorme, temos nossa própria ala com a suíte e o quarto do
bebê e ainda ganhei uma sogra que está sendo minha amiga mais próxima, conselheira e
ouvinte.
Ângela sempre lê os capítulos do meu livro e me diz o que devo mudar. E como estou
estudando a parte da manhã, ela fica com Beni, ajudando a babá.
Pego Beni no colo, dou vários beijos nele e balbuciando rápido ele começa a falar
depressa, um monte de coisa. Me atualizando do seu dia.
— É meu bem? O bebê de mamãe estava com saudades? — Converso com ele,
aceno para a babá dando até logo e vou para a cozinha com ele.
— Oi kah . Estou terminando o almoço. — Ângela diz.
— O cheiro está maravilhoso, está indo lá fora no jardim. — Me sento num banquinho
da ilha da cozinha e coloco Beni sentado em cima. Estou desesperada de fome, e isso tem
se repetido ultimamente; cheguei a ganhar peso. Semana passada saí com valu e as
meninas e subi em uma balança, quase morri quando vi que tinha ganhado cinco quilos em
dois meses.
— Como está indo nas aulas?
— Muito bem. Estou confiante. Vou fechar o semestre passando direto.
— Isso é ótimo. Conversou com a professora que vai fazer a revisão do seu livro?
— Ainda não. Julia se ofereceu e acho que vou deixar ela ler.
— Verdade. Tem a Julia, ela é professora.
Ela volta a mexer nas panelas e eu cuido de Beni para ele não derrubar as coisas de
cima da bancada.
— Ângela. — Chamo-a me preparando para mudar o assunto. Tem dias que quero
contar algo a ela. Já contei a minha mãe e ela está muito eufórica. Mamãe já está andando
de bengala e estou morrendo de felicidade com a melhora dela. Disse que em breve
poderá vir nos visitar.
— Oi, diga.
— Gostaria de te contar uma coisa.
Ela para de mexer nas panelas, enxuga as mãos no avental e me olha atenciosa.
— Diga querida.
— Olha, eu comentei isso com minha mãe... na verdade são suspeitas.
Ela apenas assente, prestando atenção no que estou falando.
— Ultimamente tenho comido descontroladamente e ganhado peso rápido... e agora,
da semana passada para cá, sinto enjoos matutinos...
Eu nem concluo meu raciocínio e ela já está com as mãos na boca e sorrindo.
Caminha até mim, ainda surpresa, e fala:
— Meu Deus...! Você acha que...
— Sim. Eu acho que estou gravida. — Meio temerosa, eu digo. — Não sei ao certo
como encaro isso. Eu e Ruggero não estamos planejando filho... estou fazendo faculdade, as
coisas estão meio corridas e não sei se é momento...
Ela senta em minha frente, atenciosa.
— Está preocupada com o que ele pode pensar?
— Sim e não. Só não sei ainda como encarar. Na verdade, nem fiz o exame.
— Bom, se estiver mesmo gravida, não é mais o momento de decidir se quer ou não.
Teremos que agir e nos preparar. Estou emocionada kah . A melhor notícia que recebi
desde que descobri que Ruggero tinha um filho.
Provavelmente estou mesmo gravida. Lagrimas começam a descer dos meus olhos
sem grandes motivos.
— Não chore, querida. É uma dadiva. Você não está mais sozinha, tem uma família
enorme agora.
— Eu sei... — enxugo as lagrimas. — Mas...tadinho do Beni. Ele é tão pequeno... e já
vem outro para tirar a atenção dele.
— Não querida, filhos são diferente para os pais. Você e Ruggero darão carinho por igual.
Claro que o mais novo requer mais atenção, mas isso não é motivo de preocupar. —
Ângela me abraça e eu suspiro me recobrando do choro. Ela se afasta, e diz:
— Vamos ver isso certinho. Se estiver mesmo, vocês têm todos esses meses para dar
total atenção a esse pequeno aqui. Para compensar o outro que está vindo.
— Sim. — Abraço Beni que começa a protestar querendo sair dos meus braços. —
Meu pequeno não será desprezado.
— Non Mamã! — Ele berra se debatendo, querendo se libertar.
Antes de tudo, precisei ter certeza de que estava mesmo gravida. Ângela me
acompanhou ao laboratório e quando o resultado chegou, eu chorei sozinha no banheiro
pois ainda pensava que Beni era pequeno demais e devia ter total atenção de mim e do pai
dele.
Ângela teve Ruggero quando mike  já tinha quatro anos, e esse seria o espaço de tempo
exato, na minha concepção. Mas, dois anos de diferença de Beni para o novo irmãozinho,
não era algo tão cedo. Me conformei após refletir mais sobre isso. Será meu primeiro filho
e eu estou animada e amedrontada.
Liguei para meus pais contando, minha mãe ficou feliz, disse que queria estar comigo
durante minha primeira gravidez, já que ela foi bem ausente quando Carolina  estava gravida.
Depois mostrei o resultado Ângela. Estava louca para contar para Ruggero e ver o que ele
acharia da notícia.
Eu não queria fazer uma surpresa, dessas de balões, bolos, surpresas para o papai.
Afinal não foi algo que planejamos. Eu queria sentar e conversar com ele, seriamente. Mas
Ângela me fez mudar de ideia, de última hora encontrou uma cartolina e escreveu: “Papai,
acabo de ser promovido a irmão mais velho!” E a ideia era que Beni seguraria e
entregasse a Davi quando ele chegasse.
Ângela deixou um champanhe no balde com gelo e recomendou que eu tomasse meia
taça apenas, em seguida foi para a casa de mike  e disse que era para ser só eu e
Bernardo para quando Ruggero chegasse.
Me arrumei, me perfumei, vesti um vestido branco solto, arrumei Beni, mas quem disse
que ele queria ficar segurando a plaquinha improvisada que a avó tinha feito?
— Beni, entregue ao papai.
— Non! — Grita emburrado. Ele não queria estar arrumado dentro de casa. Ele
achava que iriamos sair.
— Entrega isso ao papai senão não iremos passear. — Ameacei e enfim ele segurou a
plaquinha. Desse tamanho e já funciona na base da chantagem.
Eu corri, fiquei escondida e a porta se abriu. Bernardo não saiu do lugar. Ficou lá
parado olhando para mim escondida atrás da parede.
“Vai. ” — Eu fazia um gesto com a mão para ele ir ao encontro do pai. Deu um passo
em minha direção.
“Não, Beni! Vai para o papai. ” —Mexi com a boca.
— Ei, garotão do papai. — Ruggero chama e Beni me deixa de lado e caminha até ele.
Daqui posso ver ele dar uns passinhos desajeitados e então, meio emburrado joga a
plaquinha de cartolina na cara de Ruggero quando este se abaixa para abraça-lo. Reviro os
olhos. Bernardo nenhum pouco interessado na minha surpresa.
Ainda bem que Ruggero pegou e leu. E quando pareceu ter entendido olhou em volta,
como se procurasse alguém e eu sai de trás da parede que estava. Sorrindo, meio sem
graça.
— É verdade? — Ele fica de pé, com Beni já nos seus braços.
— Sim. — Murmuro, com um sorrisinho amarelo. — Eu não planejava isso... mas
aconteceu. Estou com dois meses.

Ruggero


— Um brinde a mais um menino! — Levantei a taça de champanhe e todos ao redor,
na mesa, levantaram as suas também. Estamos reunidos em um jantar em casa para
anunciar o sexo do bebê. Estou bem feliz, como nunca estive. Cada momento da minha
nova vida é único e me deixa mais animado; como num jogo de videogame que a gente se
anima a cada fase cumprida. Ser pai de família tem todos aqueles desafios, não é um
paraíso cem por cento, mas no fim do dia, quando deita-se no travesseiro e começa a
refletir, dá um bom alivio de dever cumprido.
Ver Bernardo se desenvolvendo, ver karol  progredindo na carreira assim como
entrosando com meus amigos, sentir nosso amor crescendo a cada dia, não poderia ser
melhor. Eu a amo, adoro estar com ela, adoro o papo que temos, o sexo principalmente e
até as breves discussões.
Meses atrás, quando ela anunciou a gravidez, senti primeiramente, um tremor no meu
corpo e um pouco de apreensão. Depois veio a alegria.
Eu mal podia acreditar no que ouvia. Ainda estava estático sentindo meu cérebro
processar a notícia. Karol  me encarava com olhos grandes, enrolando os dedos,
esperando minha reação. Por longo tempo, eu lamentei não ter visto os primeiros
momentos da vida de Bernardo, e agora, essa era a minha segunda chance. Fui rápido até
ela e abracei, pois, notei que karol  estava amedrontada e qualquer vacilo meu, ela
poderia desmoronar. Senti sua respiração aliviada quando me abraçou.
Era mais que gratificante ter Beni comigo, ter karol  comigo e saber que essa nova
vida nasceria em um lar estável.
— Consegui, antes de vocês dois, emplacar dois herdeiros para a AMB. — Vangloriei
na mesa, tripudiando de Agustín  e mike .
Era uma mesa de almoço enorme. Com todos presentes para celebrar mais um
integrante da quarta geração que vai chegar.
— Grande coisa. Os meus nascem primeiro. — Agustín retrucou.
— E o meu quando enfim vier, será o único herdeiro duplo, então, fim de papo. —
Mike  se mostra mais convencido que todos, claro, como sempre.
— Beni será CEO do banco. Isso está decidido. — Eu digo e Jonas que está presente
e me olha torto.
— Calma lá jovem. — Ele fala — Temos eleições na diretoria. Seu filho tem que comer
muito arroz e feijão para sentar na cadeira principal.

— Ah Jonas, até lá tu estará aposentado há uns trinta anos. — mike  zoa fazendo o
velho rir.
— Mas posso nomear alguém para o alto escalão, meu posto. Talvez minha filha e não
meu genro.
— Toma! — Agustín berrou. Revirando os olhos, mike  olhou para Jonas bater a taça na
de valu que sorria satisfeita com a notícia.
— Papai vai realizar esse meu sonho. — Ela fala. — De ser chefa de vocês três. O
banco será meu e de Mariza. Aceitem ou surtem.
— Isso aí amiga. — Julia dá força. — Contrata uns seguranças bonitões, uns
secretários malhados. Repagine aquele prédio frigido.
— Está nos meus planos. Pode deixar. Vou convidar você, kah  para a
minha festa de posse.
— Aham. O prédio é frigido mas vejo gente pegando fogo lá, na sala do Agustín.
— mike  sugestiona provocando Julia e no mesmo instante ela enfurece ao som das
risadas. Até os mais velhos nessa mesa não importam com essa safadeza e riem.
— Cara — Agustín joga o guardanapo na mesa; — vamos ali no terreiro para eu te dar
uns ensinamentos. Vai aprender a morder a língua antes de falar asneiras.
— Hum.. que agressivo. Agora senti tesão pelo executivo pianista tatuado. — Acaricio
o ombro de Agustín sentado ao meu lado.
— Só vem, putinho do mal. — Agustín responde fazendo o pessoal rir. Inclusive eu que
não saberia nunca viver sem esses dois marmanjos ao meu lado.
Depois do jantar, todos foram embora, minha mãe foi dormir, Beni também dormiu e eu
e karol  subimos para nosso quarto.
— Começar a maratona de delicias, antes que essa barriga fica gigante, não é? —
Digo, puxando ela para meus braços assim que entramos.
— Não derrube mais minha autoestima. Já estou com medo de engordar duzentos
quilos.
— Vai ser a baleia mais linda.
Ela me empurra e se afasta.
— Nossa, você sendo romântico é um coice de cavalo. — Eu vou atrás, capturo
Karol  novamente e encaixo a bunda dela bem em cima do meu pau.
— Já que o cavalo te deu um coice, vou deixar você trotar um pouco nele, para
compensar.
Ela acaba rindo. Viro-a de frente e já grudamos nossas bocas em um beijo gostoso.


Fim.....

Minha perdição   (Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora