Tudo estava encantadoramente fabuloso no dia de Taeil, até o momento em que Yuta cruzou os batentes da porta da sala de princesologia.
Como se lesse seus pensamentos, seu melhor amigo, Taeyong, cutucou-o com a ponta do sapato debaixo da mesa.
- Olha só quem chegou.
- Já vi - respondeu, seco. Moon encarou o recém-chegado, apenas vagamente ciente da comoção que estava se formando ao seu redor. Outros alunos - outros futuros príncipes - manifestando seu choque e mesmo indignação em ver o garoto ali. E não era para menos.
- O que ele está fazendo aqui? - Jaemin, mais conhecido como o filho único da Cinderela, e que só vivia atrasado, cochichou, às suas costas.
- Você não leu o jornal? - rebateu outra voz. O tom levemente ofendido de Jungwoo era no mínimo compreensível. Como editor chefe e autor da maior parte das matérias do jornal de Ever After, era-lhe totalmente inaceitável a ideia de alguém não saber de todas as notícias que circulavam pelo campus. - A Baba Yaga recomendou ao diretor Grimm que o incluísse nos cursos, junto com a gente. Acha que pode ajudar com... aqueeele problema.
Problema. Era uma maneira muito doce de falar, considerando o potencial destrutivo que a atitude de Yuta tivera. Destrutivo. Isso. Yuta era destrutivo! Ele queria arruinar a todos ali, sem exceção.
Mas, principalmente, Taeil. O futuro de Taeil estava diretamente em perigo, e isso o deixava completa e deselegantemente furioso. Furioso!
Como ele é egoísta!, pensou, enquanto acompanhava o rapaz cruzar a sala, sob dezenas de olhares fulminantes: mochila pendendo de um ombro, jeans rasgados, uma camiseta preta do que parecia ser... uma banda de metal? Grotesco. Repugnante, para ser completamente sincero (a exemplo daquele tagarela do Mark). E eles teriam que aturá-lo, uma vez por dia, todos os dias, até...
Ah, sagrada maçã envenenada! Até a formatura!
Não. Era demais. Taeil não ia conseguir suportar... olhar para ele, e não poder dizer nada. Não poder gritar toda a sua raiva...
- Amigo... - O sussurro de Taeyong o assustou. Ele tinha uma expressão preocupada, e um dedo apontado em sua direção. - Vai acabar se machucando.
Taeil baixou o olhar. Não percebera o quão forte estava agarrando sua pena, desde que Yuta entrou. A delicada folha de papel de seda em que vinha redigindo sua carta (o apontamento da aula, e que tinham sido orientados a praticar) agora estava reduzida à um rascunho sem brilho, e sem utilidade. Uma grossa linha de tinta preta marcava a metade inferior da página, um risco que interrompia as palavras abruptamente.
Suspirou, pousando a pena de volta no tinteiro com toda a cautela, começando a limpar a bagunça em sua mesa. Para sua sorte, Baba Yaga ainda não tinha notado que já não estava tão concentrado em sua escrita, quanto há momentos atrás. Ao que parecia, estava encontrar um lugar para Yuta. Logicamente, ninguém parecia muito disposto a se sentar com ele.
Não fazia nem cinco minutos que aquele garoto petulante estava na sala, e já era o centro das atenções.
- Ai, Tae... isso é tão injusto - choramingou. - Ele deveria no mínimo ter sido expulso. Ou preso, o que seria melhor. Alguém que faz o que ele fez não pode ficar impune.
- Eu não sei, Moonie... - Taeyong bocejou, rabiscando preguiçosamente uma despedida em sua própria carta. - Ninguém nunca tinha feito algo assim. Se recusar a aceitar o próprio destino... fechar o Livro das Lendas daquele jeito...
Lee estremeceu. Taeil só não o imitou, porque tivera sua cota de calafrios naquela noite... na noite depois de Yuta ter se rebelado.
Ele não dormiu. Óbvio que não. Estava apavorado, em pânico com o que tinha acabado de ver... o que todos tinham visto.