Prólogo

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Mace Thompson - Tempos Atuais

Sim, eu me lembro da primeira vez em que peguei em um diário. Faziam anos que eu não escrevia algo sobre mim, ou sobre meu dia. Eu peguei o pequeno caderno de capa vermelha e abri o pequeno cadeado com uma chave que estava escondida por de baixo da minha caixa de música. Eu li várias estórias infantis sobre qualquer coisa ou sobre qualquer garoto que fui completamente apaixonada. Eu sim, fui uma menina indecisa quanto a namorados. Cada dia amava um cara diferente. A menina indecisa lia aqueles pequenos textos rindo. A menina ingênua de 12 anos parecia ter ficado no passado - o que não é mentira - e agora florescia uma Mace Thompson mais amadurecida. Uma página em particular havia sido rasgada faziam anos e eu tentei me lembrar do por quê. Olhei a página seguinte e lá estava escrito bem grande "EU AMO VOCÊ". Qualquer um que estivesse lendo pensaria "Ah, deve ser algum garoto que ela era apaixonada na época", mas não. Eu tinha total certeza que aquele "eu te amo" não era uma frase vazia. Aquele era o "eu te amo" mais sincero do mundo, por que era o "eu te amo" de verdade. Eu amava alguém que não podia amar. Fugi para bem longe. Me refugiei nos braços de minha avó paterna enquanto pude, mas na verdade tudo veio à tona. Eu o amava de verdade e nem mesmo a distância mudaria isso. Eu voltei.

Meu pai bateu na porta do meu quarto, o que me tirou de meus delírios e me fez olhar em sua direção.

- Um tal de Aaric está na porta. - eu dei um meio sorriso. Ele me olhou torto, desconfiado.

- Obrigada. É o vizinho do fim do corredor. Nós vamos no centro comprar umas coisas. - meu pai me lançou um olhar de cobrança e foi para o seu quarto. - Eu prometo não demorar.

Peguei minha bolsa que já estava pronta e desliguei o computador que tocava um álbum do Épica (The Quantum Enigma). Tranquei novamente o pequeno diário e deixei junto com os outros livros na prateleira do quarto. Peguei meu celular que estava carregando e fui de encontro com Aaric. Aaric Moore eu conhecia desde pequena. Era meu companheiro de fumo e também um grande amigo. Nós morávamos no quarto andar e, muitas vezes, eu precisava esperar o tempo passar para poder entrar em casa, um exemplo era quando eu matava aula do colégio, ele sentava nas escadas do quinto andar comigo e ficávamos horas conversando. Era estranha nossa ligação. Quando eu era mais nova eu tinha uma repulsa natural por ele. Mas isso foi eliminado com o tempo, eu sempre acho que foi por que eu comecei a fumar também. Acabei me acostumando com o mundo dele.

Assim que fechei a porta atrás de mim, Aaric falou comigo.

- Ei Mace, você viu o Drew hoje? - eu o fuzilei com os olhos.

- Fala baixo! Meu pai não sabe que eu ando com ele. - Aaric colocou a mão na boca e pediu perdão. - Mas não. Hoje não consegui falar com ele. Parece que ele foi assaltado no fim de semana e está sem telefone.

- Aé. Pode crer. Tinha esquecido. Mas pra onde nós vamos hoje cara?

Eu apertei o botão do elevador e o encarei. - Vamos pra praça lá de baixo, onde os meninos ficam e apertar um. E rezar pro Drew aparecer por lá.

- Beleza. - eu podia ver o tom da alegria pintada em seu rosto quando eu disse a palavra "apertar". A última vez que nós fumamos juntos eu o vi cheirando cocaína. Eu não falei nada mas ele viu nos meus olhos o sentimento de decepção. Ele me olhou e sorriu meio torto, quase como um pedido de desculpas. A nossa relação só foi possível quando há dois anos, quando eu finalmente voltei para o Rio de Janeiro, comecei a fumar e me refugiar na praça nas horas livres. Minha irmã estava casada com Drew Lewis e com uma filha de quase dois anos. Drew fumava e isso eu descobri quando comecei a descer e depois disso, minha relação tanto com ele como com o Aaric começou a mudar radicalmente.

Assim que chegamos na praça, um homem de blusa social caminhou em nossa direção. Eu sorri no mesmo instante.

- Drew!

Eu corri até ele e lhe dei um forte abraço. O cheiro de seu corpo me enlouquecia, me fazia querer nunca mais largar aquele abraço apertado. Ele acariciou meu rosto e me recebeu com um beijo quente. - Olá, pequenina.

Ele já estava muito bem. Estava estampado em seu rosto que ele havia fumado e não fazia muito tempo. Ele estava relaxado, por assim dizer. Mas ele sempre diz pra mim que a "onda" dele só fica boa quando eu estou fumando com ele. Diz ele que eu trago paz à vida dele. Drew nos levou para uma mesa de pedra e nós sentamos.

- Você chegou cedo do trabalho. Não consegui falar com você. - falei baixinho e fazendo cara de choro. Ele sorriu pra mim.

- Desculpa, meu bebê. É que como você sabe eu estou sem celular e meu chefe não deixou eu te mandar mensagem do celular dele, por que como você sabe... Eu perdi meu pendrive no fim de semana também. Ele me deu o esporro do ano hoje. Ele só não me demite por que precisa de mim. Então não faz essa cara. - ele se virou e pegou a seda do bolso. Eu o fiquei observando por um bom tempo enquanto ele apertava um baseado. Aaric estava conversando com menino perto das escadas e toda hora olhava para nós pra ver se Drew tinha terminado de apertar. Eu voltei meu olhar para Drew e respirei fundo.

- Hoje eu peguei aquele meu antigo diário vermelho. - ele parou o que estava fazendo e olhou pra mim, sério. - Eu lembrei da época que voltei de Natal. Quando nos conhecemos de verdade... Eu... - Drew me interrompeu com um beijo.

- Não quero que fique lembrando do passado. Estamos juntos agora, nós vamos casar, ter nossa casa... Tudo vai ficar bem. Você verá. - ele me beijou novamente e acendeu o baseado. - Eu te amo Mace Thompson. Nós vamos ser felizes.

Eu sorri. Mas eu sentia que aquilo tudo parecia loucura demais. O que você faria se tivesse que fazer uma escolha difícil como a minha? Escolher entre a paz com a sua família natural e o amor da sua vida. O que te faria mais feliz ou o que simplesmente não te causaria problema algum? Eu estava na beira do abismo. Era ou me jogar de cabeça ou simplesmente ficar olhando para a sua imensidão sem saber o que tem no fundo. Seria necessário olhar um pouco pro passado e analisar cada detalhe delicadamente para saber se aquilo que eu estava prestes a escolher era o certo pra mim, se seria aquilo que eu queria pra sempre na minha vida. Quando eu desse o primeiro passo para além do precipício, não teria mais volta.

A Menina Que Amava Drew LewisOnde histórias criam vida. Descubra agora