Capítulo 27 | Oh, you do me wrong now

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Capítulo 27 | Não me faça sofrer agora

Me acostumei com as janelas de vidro, com o silencio lá fora, ate mesmo com a escuridão que cobre a piscina à minha frente. A casa, porém, nunca foi tão solitária, misteriosa e angustiante quanto nesta noite. Apesar do cenário digno de filmes de suspense, isso não é o que me traz a sensação ruim que sinto agora. 

A ausência de Leo é o que pesa pelas paredes da casa. Finalmente sinto a tal energia que ele e Eva tanto gostam de falar. Os sentimentos que deixamos por aqui pela manhã pairam no ar. Talvez seja melhor ir mais cedo para a cama, deixar este dia para trás. Sinto a mente esvaziar quando deito sob os lençóis brancos macios e deixo os olhos caírem mesmo sem sono.

Nem tenho tempo de tentar respirar fundo. O metal da chave na maçaneta me faz abrir novamente os olhos imediatamente. Ouço os passos de Leo se aproximando. Apesar da briga, ele abre a porta devagar e com cuidado e entra no quarto na ponta dos pés, o que faz com que me preocupe com a hora. Será que cochilei? Será que já estamos no meio da noite e, se for, onde ele esteve até agora?

Ergo meu corpo com certa dificuldade para me sentar na cama. Apoio minhas costas na cabeceira, acendo o abajur na escrivaninha à minha direita e pego uma caneta e meu caderno repleto de listas intocado há dias. Não sei porquê, mas quero que ele pense que também me mantive ocupada e que nem por um momento me preocupei com seu paradeiro – embora na realidade tenha expulsado este pensamento pelo menos umas duzentas vezes de minha cabeça desde que cheguei.

Sinto Leo olhar para mim, mas não digo nada, nem desvio o olhar do caderno. Assim que me vê acordada, a posição de seu corpo antes contraído agora firma os dois pés no chão, seus ombros caem em frustração. Enquanto Leo deixa seu par de sapato encostado na parede ao lado da porta, quero olhar para ele e descobrir o que seu rosto pode me dizer, mas sigo firme por mais alguns segundos.

- Nem é tão tarde assim para você entrar sorrateiramente deste jeito. – digo, enfim.

- Achei que você já estivesse dormindo, não quis incomodar. - responde ele.

Fecho meu caderno antes mesmo de conseguir prestar um mínimo de atenção às suas páginas, o coloco de volta na mesa de cabeceira e aproveito para aumentar a intensidade do abajur que ilumina o quarto.

O que mais quero é perguntar por onde Leo esteve, mas a vontade contradiz tudo que tenho tentado afirmar para ele. Afinal, o relacionamento é apenas de fachada e ele não me deve nada, muito menos satisfações. Além do mais, considerando o ânimo que Leo deixou a casa de manhã e até mesmo o de agora, não quero dar uma chance para que ele se irrite novamente comigo.

- Tudo bem? – pergunto, baixando a guarda.

- Uhum. – murmura ele. 

Uma parte de mim me faz querer deitar, virar de costas e esquecer. Dormir, chorar, o que seja, qualquer coisa que alivie esse aperto que me toma o peito agora. Outra mais forte, quer realmente tentar melhorar esta situação.

- Como foi o seu dia? – insisto, fazendo de tudo para não deixar transparecer minha tensão. 

- Cansativo, e o seu? - continua ele, com as poucas palavras que não combinam com ele e mantém o mistério e o incômodo que têm me torturado.

- Foi bom. Passei ele todo com a Rosa. – começo a contar, mas sou surpreendida por um Leo que mal olha na minha cara e entra no banheiro.

A porta ainda aberta, porém, me dá a sensação de que não fui completamente ignorada. Talvez ele apenas não consiga ser tão grosseiro a ponto de fechar a porta praticamente na minha cara. De qualquer forma, agora estou ainda mais decidida a não deixar que a noite termine com esse atrito entre nós.

Um amor para toda vida e nada mais [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora