Vadia Suja

10 1 0
                                    

Algumas semanas haviam se passado e Gael não sabia dizer exatamente quantas, pois todo dia era exatamente o mesmo.

Ele acordava por volta de seis ou sete da manhã e a silhueta estava lá, em seu balé macabro de todos os dias. Caminhava na ponta dos pés pela casa apenas para morrer no fim de sua dança, esgoelada e sufocada, engasgando com a fumaça do próprio cigarro. Gael já nem se surpreendia mais, só esperava as mãos de Abgail tocarem seus ombros para que ele voltasse a realidade mais uma vez.

E mais uma vez encarasse o fato de que estavam soterrados juntos, ele e aquela musa filha de Afrodite. Toda vez que ela o tirava deste transe estava ainda mais bonita.

Gael nunca teve tempo de sequer contar a Abgail os seus delírios de toda manhã porque quando se dava conta, suas mãos já percorriam todo o corpo dela, que arrepiava e a fazia revirar os olhos. Apertava sua cintura, a erguia do chão e então o balé deles começava. E sempre terminava com ele por cima dela, ou ela por cima dele rebolando e gemendo feito louca. E ele admirava cada movimento, cada gesto, cada entonação de voz.

Até a curvatura dos seus cílios o excitava neste ponto.

Depois de estarem exaustos, repousavam por alguns minutos um no peito do outro, ouvindo as batidas dos corações. Levantavam-se, iam até a cozinha e preparavam algo juntos, comiam rapidamente e então iam para o chuveiro. Lá começava tudo mais uma vez, mas Gael ainda era capaz de se controlar o suficiente. Às vezes não.

E quando se dava por conta, estavam se amando mais uma vez. Cada vez mais intensamente.

Nem percebiam quando dormiam, mas todos os dias, por volta de seis ou sete da manhã, Gael acordava e lá estava a silhueta mais uma vez. E tudo se repetia.

Gael estava certo de que estava no paraíso. Sim, com certeza. Talvez tivesse morrido e aquele era seu limbo, onde ele pecaria descaradamente todos os dias, renegando o céu para se deitar com Abgail, ou uma succubu personificando Abgail perfeitamente. Eram dias perfeitos como ele nunca imaginou que seriam - e a cada dia que se passava, Abgail estava ainda mais bonita e muito melhor do que na noite passada. Sua beleza se renovava a cada segundo.

Até que uma sensação nojenta passou a tomar conta dele. Um pensamento que quase o fez vomitar enquanto olhava ela se deliciar em cima dele. Uma sensação esquisita, um ponto de vista do qual ele nunca havia sequer cogitado. E ele se sentia nojento por se incomodar com este pensamento mas sentia mais nojo ainda dela agora. Abgail.

Talvez só tenha voltado porque não encontrou nada que a prendesse. Quantos caras ela conheceu até chegar a essa conclusão? Com quantos caras ela transou?

Gael pensava sobre isso enquanto encarava sua cintura. Quantos homens a seguraram firme enquanto ela pulava sem parar? Suas mãos subiram para seu pescoço inconscientemente, ele a enforcava e ela gemia. Gostava.

Era quase uma profissional.

Via seus seios redondos pularem a medida que se movia, seus quadris procuravam desesperadamente por mais dele enquanto ele apertava ainda mais forte seu pescoço. E ela gostava.

Talvez só tenha voltado para ele porque já transou com caras o suficiente. Então agora, o idiota e totalmente dependente dela, Gael, era a opção ideal. É claro que ele sempre estaria ali para ela.

Enquanto Gael teve que se contentar, durante todo esse tempo do qual ela sumiu, com a vadia da Gabrielle que sequer sabia o que estava fazendo. E nem ele, na maioria das vezes.

Voltava seus olhos para a sua amada, Abgail. Será que as fotos nuas que ela costumava mandar para ele no meio de seu expediente, enquanto ele fazia a orquiectomia de um cão ou aferia a temperatura de um gato agressivo, ela simultaneamente mandava para outro dos muitos babacas que inflavam o ego dela?

Vadia suja.

Isso o enfurecia cada vez mais e cada vez mais um nojo diferente tomava conta dele. Toda vez que pensava sobre ela sentia todo seu estômago revirar e um ódio subir por todo o seu corpo. Ele a amava na mesma frequência que a odiava, mas não podia ignorar seus desejos por ela.

Tirou ela de cima dele e a jogou no sofá, onde ela caiu de bruços. Amarrou seus braços por trás de seu corpo, enfiou uma das meias dela mesma em sua boca a privando de gritar, falar ou reclamar. Encarou ela totalmente entregue pensando nas muitas coisas que poderia fazer para esfriar a sua raiva.

Raiva essa que se misturava com paixão e desejo toda vez que ela olhava para trás, para ele, praticamente implorando para que ele fizesse algo. Seja lá o que ele quisesse fazer, que fizesse. Ela estava entregue e totalmente entregue, apenas anseando por algo da parte dele.

Isso o enfurecia e ele descontava a espancando, marcando todo seu corpo com mordidas e tapas violentos que faziam seu sangue acumular, criando diversos hematomas. E ela gostava, praticamente implorava com os olhos e com seus gemidos abafados para que ele continuasse, que não parasse. Ela queria mais.

E isso o enojava ainda mais. Vadia suja

O Quarto dos FundosOnde histórias criam vida. Descubra agora