Odeio ônibus, sério, e saiba que a palavra ali está no plural. Agora por exemplo, ele está cheio. Tipo muito cheio e graças ao bom pai consegui sentar ao lado de uma senhora de mais ou menos quarenta anos que me olha como se eu fosse um delinquente. Hey, eu só estou usando uma camisa da escola estadual! É sempre assim, mas não os culpo, algumas pessoas da minha escola ou até da minha turma estaria gritando ou botando a cabeça para o lado de fora, mas querendo ou não eu não sou assim.
Pego meu livro distópico e começo a ler. Cinco minutos depois ela levanta e sussurra um com licença, parece mais um resmungo do que educação. Passo da minha cadeira para cadeira dela, no qual é ao lado da janela. Continuo a ler.
-Uau, Legend. -Diz um garoto que sentou no lugar ao lado, acho que foi há uns cinco minutos atrás, sinceramente só percebi ele agora.- Pensei que ninguém sabia desse livro, imagine ler.
Olha, eu não sou uma das pessoas mais simpáticas e nada contra ele, mas eu quero ler e não conversar.
-É, legal. -Respondo seco, acho que assim ele me deixa em paz.
Continuo a ler.
-Está gostando? -Ele me pergunta. Mas do quê? De você? Acho que não.
-Acho que tenho que ler para poder saber. -Se isso não fazer ele largar do meu pé, não sei o que largaria. Continuo a ler.
Uma grande maioria das pessoas descem do ônibus no ponto em que estamos parados.
-Me desculpe por ter te interrompido. -O garoto se levanta e senta na frente onde tem duas cadeiras vazias.
Me sinto mal, ele só estava querendo ser simpático. Me levanto e vou até ele.
-Posso sentar contigo? -Pergunto, nem um pouco feliz apenas fazendo a minha obrigação de cidadão educado.
-Se não for atrapalhar a sua leitura e fazer com que você seja ríspido comigo. . . -Ele diz com um sorriso no rosto.
Sento e falo:
-Espero que isso seja um sim. -Ele ri e olha diretamente à mim, desvio o olhar dele e miro a cadeira da frente. -Hum, escuta, eu não queria ser grosso contigo -Na verdade eu queria sim, se você não fosse tão amiguinho do mundo e simpático com a vida, não teria acontecido isso- eu só queria ler. Acho legal que você goste de Legend.
-Você veio aqui só para pedir desculpas?!
Ele começa a rir descaradamente. Aff, que garoto ridículo.
-Haha hilário. -Digo secamente debochando dele.
-Você fica bonitinho corado. -Mais risos.
Se eu fosse branco estaria mais vermelho que um tomate.
-Ah claro, to ficando roxo. -Ironizo.
Ele ri mais. Estou sério, mas quando vejo ele rindo um esboço de sorriso surge no meu rosto.
-Você é besta, fica rindo à toa. -Digo, sorrindo.
-Aiai, você que é engraçado. -Ele põe a mão na minha perna- Tenho que ir, meu ponto é o próximo.
-Ah, não que eu goste de você, mas até que sua companhia é legal. -Afirmo olhando nos olhos dele, um pouco triste.
Aí do nada, ele me beija, um beijo calmo e suave. Não sou muito de beijar estranhos principalmente em ônibus, mas também não ia parar esse. Ele chega pra trás e dá aquele sorriso de novo.
-Eu sei que sou. -Ele levanta e vai para porta.
Levanto de minha cadeira, viro para trás e digo:
-E olha que eu nem sei o nome do Super Cara Legal.
Ele ri e me responde:
-Talvez na próxima vez, se você não for muito arrogante poderá receber esse benefício.
E de novo ele me faz rir, o ônibus para e eu falo com ele pela última vez, talvez a última vez de hoje.
-Tchau e vê se não pertube muitos leitores.
Ele ri e desce gritando:
-"Iiih", ele quer esclusividade.
Me sento de novo, até que gostei dele. Mas essas pessoas me irritam, na moral. Rio sozinho. Talvez eu encontre-o de novo.
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O Garoto do Ônibus.
RandomUm conto onde faça você pensar em como devemos ser simpáticos no dia a dia. Só não saia beijando o povo por aí.