ATO 9

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Quando a inteligência e afeto são usados em conjunto, os atos passam a ser construtivos.

Quando a inteligência e afeto são usados em conjunto, os atos passam a ser construtivos

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     — Fecha a merda dessa boca. Eu detesto gritos de crianças. Quando essa bolsa aqui estiver totalmente cheia... aí você ficará em paz — A voz que Cristinne logo reconheceu ser da Doutora, ecoava por um grande salão frio e mal iluminado como o restante do hospital. Emy estava no centro do lugar, presa em uma maca com uma bolsa de plástico pendurada em um suporte, pouco acima dela. Seu braço estava com uma mangueira conectada, onde um liquido vermelho subia para o plástico e o enxia lentamente, quase a conta gotas. Uma forte luz clareava o local onde estava presa.

     O salão redondo, era muito espaçoso e em seus cantos, muitas cômodas com frascos, ampolas entre outras coisas que Cristinne mal lembrava que existia. Havia grandes canos de tubulações nas paredes e um mural retangular, grande, com mascaras de pele humana pregadas nele. Rostos de crianças retirados da carne e colocados a mostra. Era como se aquelas faces pálidas, de alguma forma, sem olhos e bocas, encarassem quem os encarassem. Cristinne sentiu os pelos de seu braço se levantar e um mal estar na sequencia. Aquela cena provavelmente não sairia de sua cabeça tão cedo.

     Em outro canto, havia um computador velho que transmitia duas fotos em preto e branco. Logo Cristinne reconheceu ser o seu retrato e o de Emy. A garota tirou os sapatos e encostou seus pés no chão gelado, evitando qualquer barulho que chamasse atenção. Ela se escondeu atrás de uma cômoda e aguardou. Hora ou outra, um som de ranger metálico invadia a cena. Parecia correntes que seguravam alguma coisa, ou algumas coisas. Ao olhar para o teto, Cristinne avistou muitos cadáveres pendurados por ganchos, como porcos no abatedouro. Ali podia-se dizer que eram corpos de todas as idades.  

     A Doutora não notara a chegada da inquilina e continuou seu monólogo.

     — Fico me perguntando, como duas crianças tiveram a ousadia de fazer o que fizeram. Uma foge de um Instituto e a outra aponta uma arma para um adulto. Vocês estão nos noticiários, sendo procuradas e ainda vem em meu hospital pedir ajuda. É impressionante — dizia de sorriso largo enquanto Emy se debatia, tentando se desprender dali — Mas eu agradeço pela visita. A sua pele... é tão bonita. Seu sangue, tão fresco, quente. Aqui só tem coisas podres, infelizmente. Não é todo dia que uma criança sai dos eixos. Quem dirá duas

     — Por favor, Doutora... eu sempre dediquei tudo para o meu senhor. Eu jamais faria algo contra os adultos. Jamais.

     — Se isso te conforta, a outra pirralha também vai ter o mesmo destino que você. A justiça é igual para todos. Aliás, vou ir busca-la — Antes que fosse embora, a Doutora sacou da gaveta de uma cômoda que ficava ao lado da maca, uma luva mecânica, com um metal bem polido e detalhes de um emblema feito a mão. Colocou em sua mão direita e esticou seus dedos para o acessório se acomodar. Na sequencia, moveu sua mão enluvada em um gesto incomum para o alto. 

     Aquilo fez com que dois dos cadáveres pendurados pelas correntes no teto, caísse no chão em um baque. Segundos depois, começaram a se levantar, soltando pequenos grunhidos. Os cadáveres possuíam apenas a parte de baixo das roupas, deixando amostra uma pele branca, repleta de remendos e feridas pútridas. Eram dois meninos que aparentavam ter a mesma idade que elas.

     Cristinne tapou a mão com a boca, aterrorizada. Quase denunciou sua presença. 

     — Fiquem de olho nela. Eu já volto — ordenou a Doutora olhando para as criaturas reanimadas enquanto saía do salão.

     Quando a porta bateu perto dela, Cristinne ficou parada por mais alguns minutos até pensar no que fazer. Estava em choque. Ela saiu das sombras e pescou um recipiente de vidro em uma mesa de canto. Jogou o objeto para longe, no fundo do salão, fazendo-o partir em muitos pedaços e causar um estardalhaço que logo chamou a atenção das duas criaturas. Os cadáveres correram em direção do barulho. Emy olhou para eles intrigada e logo percebeu a presença de Cristinne, que se aproximava rapidamente.

     — Fique calma, vou soltar você — Tranquilizou, removendo a seringa conectada em seu braço. Um pouco de sangue esguichou da mangueira e interrompeu o processo de drenagem.

     — Você viu o que aquela mulher fez...? Ela vai voltar logo... — Alertou Emy, agitada. Cristinne removeu a cinta que amarrava os braços e pés da garota e a ajudou a se levantar — Estou me sentindo fraca... ela pegou muito sangue.

     — Você vai ficar bem, vamos — encorajou Cristinne. Emy por um curto momento olhou para ela e pela primeira vez a encarou com otimismo.

     — Obrigada... — agradeceu Emy, enquanto saíam da claridade e se escondiam entre os móveis do salão. 

     — Agradeça só depois que sairmos vivas daqui.

     E então, a porta se escancarou com um baque tão forte que arrebentou um dos trincos e a pendurou para o lado. A doutora voltara totalmente enfurecida. Olhou ao redor e começou a farejar o ar. Os cadáveres estavam no fundo do salão, vagando confusos. Ela foi em direção a bolsa de sangue que agora estava caída no chão e a pegou como se fosse um diamante valioso. O que restou do liquido naquela bolsa de plástico, a mulher enfiou goela abaixo, tomando o sangue como se fosse agua. O liquido escorreu por seu jaleco branco, manchando tudo o que tocava. 

     — Suas criaturas inúteis! — E com mais um gesto de sua mão, ela apertou o punho e ambos os cadáveres explodiram, espalhando pedaços de carne por todos os cantos. Restos dos órgãos se penduraram em outros corpos acorrentados no teto, outros mancharam a tela do velho computador e parte do sangue espirrou nas vestes de Emy e da própria Doutora. As garotas ficaram perplexas com a cena. Pensaram por uma fração, estar em um terrível pesadelo. 

     — Sabem o que eu mais adoro em crianças? Elas são pequenas e medrosas como ratos. E eu sinto o cheiro do medo. APAREÇAM! SEI QUE AINDA ESTÃO AQUI! — Gritou para elas. Seus dentes estavam afiados, seus olhos envoltos por uma camada preta e sua pele ficou mais clara que o normal. As meninas escondidas, conseguiam ver a Doutora, mas a Doutora não conseguia vê-las. Era questão de tempo até que conseguisse fareja-las

     A mulher já não estava agindo como um ser humano comum. Seus braços começaram a se esticar e produzir barulhos de ossos rompendo. A cartilagem toda se distorcia. Seus músculos e tendões sessavam e parte de sua vestimenta fora prejudicada. Ela caiu de quatro e suas pernas também ficaram cumpridas. O tom de sua voz mudou para um grave e suas mãos tornaram-se garras. A peculiar luva se adaptara ao novo tamanho de seu membro, permanecendo intacta. Seu traseiro aumentou consideravelmente e esticou até ficar semelhante ao traseiro de uma aranha. Quando levantou seu rosto, todo o pescoço entortou e sua face ficou de ponta cabeça. Um olho se abriu no local do queixo e seus dentes pareciam ter se multiplicado em sua bocarra. 

     — Se querem redenção... então entreguem suas vidas de uma vez ! — Pediu a criatura.

As garotas se entreolharam petrificadas, sem muitas perspectivas de saírem dali com vida. 

 

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Todo Monstro que Há em NósOnde histórias criam vida. Descubra agora