Ele quase podia ignorar o distante ressoar de sirenes, sons de gaivotas e até os ruídos de automóveis vindo da rodovia litorânea. A única coisa que ele não conseguia deixar de ouvir, era o barulho das ondas.
Elas deram início a tudo, como a trilha sonora perfeita de pensamentos corrosivos como ácido que borbulhavam em sua mente. Por isso Jungkook juntou as mãos, ainda um pouco úmidas, assim como suas roupas, sentou na areia e fitou o mar como se fosse uma tela de cinema.
O céu estava bonito, como sempre fica logo antes da noite chegar, também era vermelho como sangue em algumas das bordas perto do sol coberto por nuvens.
Porém, eram as ondas que detinham sua atenção, quase caóticas e violentas contra algumas das pedras enormes que estavam espalhadas pela praia.
As ondas o fizeram pensar em Taehyung.
E como se apenas o fato de Jungkook ter pensado nele o convocasse em um chamado divino, passos também foram registrados pela audição de Jungkook. Em um instante, Taehyung sentou bem ao seu lado, talvez um pouco mais a frente.
Jungkook não se virou para ele, estava um pouco cansado demais até para olhar.
ㅡ Esse é o seu fundo do poço, meu amor? Olhar a praia como em um filme de gente rica triste? ㅡ A voz grave veio carregada de humor, mas Jungkook só conseguia sentir mágoa.
ㅡ Vai embora ㅡ falou.
ㅡ Por que eu iria? Aqui é um espaço público, não é? ㅡ Taehyung rebateu sua pergunta.
ㅡ Então eu vou embora.
ㅡ Pode tentar. ㅡ Ele deu uma risadinha cheia de implicância. ㅡ Mas já sabe que não pode fugir de mim, meu amor. Não depois do que a gente fez.
Jungkook se encolheu, colocando o rosto entre as mãos sem se importar com o cheiro forte e metálico nelas, Jungkook se perguntou se ele vinha do corrimão enferrujado onde se segurou para descer da barreira da estrada.
ㅡ Cala a boca... ㅡ sussurrou. ㅡ É culpa sua. Tudo é culpa sua.
Finalmente se virando para encarar o homem ao seu lado, Jungkook sentiu seus olhos queimarem cheios de lágrimas, como alguém poderia ter esse efeito em outra pessoa? Taehyung ainda vestia a mesma jaqueta jeans surrada que ele havia ganhado de Jungkook no aniversário do ano anterior, a camisa de dentro era de botões e estava com primeiros deles todos abertos, deixando o peito dele quase inteiramente exposto, assim como a cruz presa em cordão preto, o único acessório que Taehyung jamais largaria por nada, pois era a única coisa que a mãe havia lhe deixado antes de morrer.
ㅡ É mesmo culpa minha? ㅡ questionou ele, com o sorriso idiota espalhado no rosto, o piercing no lábio inferior roubava um pouco da atenção, mas as pessoas tinham tendência a se apaixonar justamente pelo sorriso dele.
Jungkook também tinha, mas isso foi antes de tudo.
ㅡ Você acabou com a minha vida! ㅡ acusou Jungkook.
Isso fez Taehyung rir um pouco mais alto antes de continuar a falar.
ㅡ E como era sua vida antes de mim Jungkook? Porque se eu me lembro direito, quando eu te conheci você tava comprando umas pílulas 'pra se...
ㅡ Eu não ia fazer isso!
Era verdade que sua mente estava em um lugar bem sombrio quando os dois se conheceram, mas ele ainda tinha algum controle sobre ela, o mínimo, mas tinha. Depois de Taehyung... Depois de se apaixonar por Taehyung, todo o controle apenas... Desapareceu.
ㅡ Sério? ㅡ Taehyung estreitou os olhos. ㅡ Parecia muito que era pra isso. Aliás, não é isso que você tá pensando agora? Me responde, Jungkook? É isso, não é? Você tá pensando em entrar dentro dessa água e nunca mais sair. Eu te conheço. É por isso que eu 'tô aqui. Pra te impedir de fazer merda, como eu sempre fiz...
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after all (a tragedy in 3393 words) ; taekook
FanfictionAo observar as ondas em uma praia no fim de tarde terrível, Jungkook pensa sobre seu relacionamento com Taehyung e os motivos de tudo ter acabado... Pintura na capa: After the storm. Moonrise - Ivan Aivazovsky (1894)