39. Sociopata.

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[Capítulo não revisado]

Sicília, Itália — 16 anos atrás.

Você aprende tudo com mais praticidade quando se é criança. Seja um idioma novo, um instrumento, um esporte, algum tipo de dança... e até mesmo mentir.
Todo mundo consegue mentir, e todo mundo mente, não importa a gravidade, apenas mentimos sem nem percebermos. Mas há uma diferença entre conseguir e saber mentir. Saber controlar os batimentos cardíacos, o olhar, a postura, a expressão, o tom de voz, os sinais claros que o corpo da. Aprender isso na infância era mais fácil de ficar anexado em si, e era pensando nisso que Michael estava posto em frente a suas duas filhas, as olhando diretamente no olho, buscando uma fragilidade.

- Pois bem... – ele começou – quero que me digam onde vocês estavam ontem a noite, por volta das onze.

Agora, eles estavam na sala que era usada para as garotas terem aulas. Havia duas carteiras menores, uma para a professora, um armário no canto direito e um quadro de giz anexado na parede. Lauren estava na carteira da esquerda, e suas mãos soavam de nervoso; ela sabia que tinha que mentir, só não tinha certeza de como fazer isso, e em um segundo de hesitação, ela levou o olhar por soslaio para Ashley, esperando que ela a dê uma resposta. Foi aí que a régua que Michael tinha nas mãos atingiu com tudo da mesa de Lauren, causando um barulho tão estridente que a fez soltar uma arfada pelo susto, encolhendo-se na cadeira.

- Não olhe pra ela! – Ele bradou, aproximando seu rosto do dela. – Olhe pra mim! Eu estou te perguntando, e não importa o que você disser, diga com confiança e sua irmã vai complementar sua mentira. Isso serve pra você também, Ashley.

Agora, a perna de Lauren já tremia; ainda tinha nove, e por mais que já tivesse aprendido muita coisa, mentir ainda não era uma das suas especialidades. Sua irmã estava mais experiente nisso, e a ajudava sempre que podia. Elas eram assim, Lauren tinha o psicológico mais firme para matar –mesmo que ainda estivessem na fase dos animais–, Ashley para mentir, e as duas tentavam se ajudar.

- Mais uma hora no porão. – Michael marcou mais um tracinho na divisão direita do quadro, onde era o lado de Lauren. Agora totalizavam três horas.

O porão não era agradável. Era completamente escuro, de forma que você não conseguia ver sequer a palma da sua mão. O cheiro não era bom, o espaço era úmido a abafado, e tinha cobras lá dentro. As glândulas de veneno foram retiradas, mas, mesmo assim, ainda era agonizante sentir a pele mucosa e molhada delas passando pelo seu corpo. E as cobras também picavam, e aquilo doía. Doía muito. Esse era o castigo delas por fazer algo errado.

Três horas de novo.

- Vocês tem um grupo de sete pessoas lá fora esperando para serem convencidos de uma mentira que vocês vão contar, e tem que ser convincente! – Ele disse em alto tom novamente. – Então, vou perguntar apenas mais uma vez; onde vocês estavam ontem a noite, por falta das onze?

- Perto do porto, vendo aquele cara que finge ser marinheiro. – Ashley tomou as rédeas, olhando diretamente para Michael, com a postura impassível. – Lauren não queria ir, mas eu convenci ela.

O homem lançou seu olhar em Lauren, e ela soube que era hora de agir. Ashley havia a ensinado, só precisava colocar em prática. Não iria ganhar mais uma hora naquele porão. Não mesmo.

- Isso é verdade? – Ele perguntou.

- Sempre achei aquele homem estranho, mas não queria ir, porque ontem estava frio demais. – Complementou, mantendo os olhos firmes no pai, como sua irmã fez. – Ash disse que poderia usar seu casaco escuro, e eu gosto dele. Então eu fui, e ficamos lá até as uma.

Lake KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora