24 Capítulo

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“Abre teu coração ou eu arrombo a janela.”
Chico Buarque, A Bela e a Fera.

                            *****
          O primeiro presente dela

Lena e eu chegamos juntos ao prédio. Só porque eu estava tentando evita-la, o destino pareceu querer nos unir, como sempre, testando minha paciência.

– Eu esperei, por que você não passou na minha sala? – pergunta chateada, enquanto esperávamos o elevador.

– Porque eu queria contar para Nia; seus pais também já estão sabendo. – Porque eu não queria ver a decepção no seu olhar.

– Como eles reagiram? – pergunta preocupada. – Eu queria estar com você quando eles ficassem sabendo.

– Reagiram normalmente, como se qualquer outra amiga da Nia estivesse grávida. – Mentir era melhor do que resumir minha noite de altas emoções.

– Mas eles sabem que… – Lena parou de falar quando ouvimos barulho de saltos do chão, e uma Andrea toda afobada apareceu no nosso campo de visão.

– Lena, que bom ver você – cumprimentou com um beijo no rosto. – Kara. – Acenou na minha direção.

– Oi, Andrea – respondi educadamente.

– E aí, você está sumida. Quando vamos marcar de ver aquele filminho no seu apê? – perguntou se insinuando e passando a mão pelo braço dela. Cadela. Lena ficou desconfortável e me olhou. Resolve sozinha, ninguém mandou e pra cama com essa vadia.

– Andrea, não vai rolar, eu estou namorando – decidiu dizer por fim.

– Nós duas sabemos que isso nunca foi um problema – Andrea respondeu rindo. – Quem é dessa vez?

– Sou eu – anunciei, pegando na mão dela. Dane-se se eu não seria mais dali algum tempo, mas ela não precisava saber. Esperei pela reação dela e jurei que se ela me contradissesse, eu mataria as  duas. Hormônios, lembram? Eu tinha desculpas para ser homicida.

Lena sorriu e segurou minha mão mais forte e eu contive um impulso de não dar risada quando o queixo da Andrea foi parar no seu sutiã. Agora com a nossa dívida paga, eu me sentia bem mais realizada.

– Eu esqueci uma coisa no carro, desculpe. Te vejo depois, Lena – despediu-se já se afastando e voltando para seu carro.

– Você é malvada – disse Lena, rindo. – Mas é bom saber que também tem ciúmes de mim.

Ela também já havia sido malvada comigo, estávamos quites.

– E quem falou que eu tenho ciúmes? – perguntei irritada, soltando a mão dela e abrindo a porta do  elevador.

– “Sou eu” – me imitou rindo.
Fechei a porta e a abandonei na garagem. Lena abriu a porta e entrou ao meu lado ainda tirando sarro da minha cara.

Só então percebi que ela tinha uma sacola de shopping nas mãos. Como toda mulher, curiosa, tentei olhar o que tinha dentro enquanto a caixa de metal fazia sua subida.

– Perdeu alguma coisa?

– O que é? – indaguei. A curiosidade era maior que o orgulho, sempre.

– Não é para você, se é isso que você quer saber – cortou meu barato. Parecendo uma garota mimada, virei para o outro lado e a ignorei. Ela acrescentou: – É o primeiro presente dela.

– Dela quem? – Já tinha outra na parada?

– Dela – disse ela, me abraçando por trás e colocando a mão na minha barriga. Foi a primeira vez que ela me tocou querendo tocá-la; isto é, se é que seria uma menina.

A Garota dos Olhos Verdes - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora