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Mounbridge House, Londres

 Dois boatos alcançaram os ouvidos desta autora, queridos leitores.
 Pelo pouco que eu soube, um certo lorde de florzinhas conseguiu comprometer-se com uma dama, para o alívio das jovens solteiras e a curiosidade dos críticos, afinal, ninguém esperava por essa reviravolta. Foi realmente surpreendente. 
 E o último boato que alcançou-me, foi a fuga de uma Lady H. para casar-se com um ferreiro. Um ultraje? Muitos dirão que sim, mas esta autora é uma romântica incurável, então desejo felicidades ao casal, e espero que mantenham os pés longes de Londres, para sua segurança. 

Crônicas da Sociedade Britânica 
01 de maio de 1811

Catarina ainda estava desolada. Encontrava-se embaixo de suas cobertas, encarando fixamente o dossel de sua cama, mas nada enxergava com clareza, pois seus pensamentos estavam concentrados no que houve no quintal de Lady Devonledge.

Havia se passado algumas horas desde que chegara em casa com Harry. O mesmo questionou se ela gostaria que ele mandasse alguma criada para lhe servir um chá ou lhe dar algum remédio caseiro, mas Catarina recusou com a desculpa de que somente precisava deitar-se.

Bom, ela não sabia mais que horas eram, mas tinha pleno conhecimento de que era madrugada, e ouvira a carruagem da sua família chegar novamente há uma hora – ela acreditava que era mais ou menos este o tempo desde que o veículo deixara seus membros na porta.

Para sua estranheza, nenhum dos outros três vieram lhe ver, o que costumavam fazer quando ela estava doente. Na verdade, sua família inteira sempre visitava o enfermo para ver como estava. Era praticamente uma tradição. 

Mas ela preferiu crer que Harry não os deixou adentrar seu quarto para vê-la, o que ela agradeceu mentalmente. O irmão sabia que certos momentos pediam solidão e silêncio, e ela não poderia estar mais grata por tê-lo em sua vida.

Seus pensamentos estavam enlouquecendo-a. Catarina não sabia mais quem era. Não conseguia acreditar em tudo o que acontecera...

Ela era mesmo aquela mulher? Não podia ser...

Ela sentia que estava desrespeitando a honra de sua família.

Sempre fora uma dama respeitável. Tinha princípios e os seguia. Sabia claramente que se algo fosse acontecer entre ela e um homem algum dia, seria no seu leito nupcial, após seu casamento, e nunca com um homem que ela nem mesmo ousava chamar pelo primeiro nome. 

Ela desfrutara de sensações de que nunca achou ser possível sentir. Sentia-se ousada quando o conde Mountobbani beijou-a. 

Por Deus, ela acreditava que sentiria-se ousada até mesmo quando ele a olhasse, sem sequer tocá-la.

Era definitivo. Catarina não conseguiria dormir. Precisava de ajuda com sua atual situação. Estava com medo. Apavorada. 

Levantou-se da cama e caminhou pelo quarto por um bom tempo, levando um de seus dedos aos lábios. Ela sempre fazia isso quando encontrava-se aflita.

O que aconteceria com sua vida a partir dali? Ela temia a resposta.

Precisava dormir, ela sabia. Mas simplesmente não conseguia deitar em sua cama, fechar seus olhos e ser embalada pelo sono profundo. Haviam coisas demais em sua mente naquele instante. Ela precisava de conselhos. De alguém que pudesse lhe dar um rumo, mas não sabia exatamente a quem recorrer, ainda mais àquela hora.

Benjamin era um ótimo conselheiro e Harry, muitas vezes, era muito sábio, mas Catarina definitivamente não poderia recorrer aos irmãos e lhes contar sobre seu momento de depravação, onde violou – ela acreditava que muitas – regras de etiqueta sociais da sua realidade puritana.

O Lorde Mountobbani - Mounbridge 01Onde histórias criam vida. Descubra agora