Um menino andava em um barco pequeno de madeira entre as águas de um rio profundo e azul. Seus cabelos negros caíam para os lados enquanto o vento batia forte em seu rosto sorridente e levemente vermelho com o frio congelante que emanava do local que havia escolhido para sua seção de pesca.
O sorriso do garoto vacilou um pouco ao lembrar de palavras que lhe foram ditas antes de entrar no rio:
"Tem certeza que você quer pescar NAQUELE rio? Eu ouvi dizer em uma lenda que uma sereia mora lá, é que ela seduz os pescadores com sua bela voz para os afogar no rio!"
"Neige, não acho aquele lugar muito seguro...Que tal você ficar em casa por hoje?"Sereia maligna isso, sereia maligna aquilo...como acreditavam em um conto tão fantasioso como este? Sereias não existem, era tudo uma bobagem para o fazer não pescar naquele dia...não?
Neige balançou a cabeça para os dois lados rapidamente, voltando com o fraco mas doce sorriso em suas faces gentis. Mal sabia ele, porém, que alguém o observava com certo ódio no olhar anil.
"Mais um destes pescadores que ousam chegar em meu domínio...Humanos são tão irritantes, já não lhe contaram as histórias?" O observador suspirou com irritação, o nariz fino franzido enquanto olhava o inocente pescador tentando colocar suas habilidades à mostra.
- Hm, mhm hm hm~ - Neige cantarolava em tom baixo enquanto fisgava algo. Acabou que foi algum livro ensopado que alguém acabou jogando no rio, o que fez o moreno suspirar. Quanto mais iriam poluir os rios? - Haah...Não é um peixe...
O tritão suspirou, então este garoto realmente era pura aparência. A aparência que lhe dava tanto ódio. Olhos acentuados, nariz fino, lábios cheios...naturalmente. O aquático sentiu seu estômago se contorcer levemente: estava com fome. Havia muito tempo desde que havia comido algo e este garoto era a presa mais fácil que conseguiria naquele dia.
Vil foi até uma pedra que estava na frente do barco, mas com tanta neblina que aquela água emitia, Neige não o vira. Vil sorriu de maneira maliciosa antes de começar o que muitos clamariam que era o fim do moreno.
"Venha...Até mim...~"
- Eh? - Neige exclamou, confuso. Olhou de um lado para o outro mas não achou nada. - Deve ter sido minha mente tentando me enga...
"Oh, belo garoto de cabelos tão negros como a noite, venha até mim!~"
Esta voz...fazia Neige se sentir estranho. Sentia como se seu coração estivesse desacelerando a cada batida, sua respiração lenta como se estivesse sendo confortado depois de chorar um rio de lágrimas. O jovem pescador se virou até onde ele achava que a bela voz vinha e viu uma silhueta.
"Oh, venha até mim, pequeno garoto. Seja tão belo quanto a mim...ouça minha voz e mais de ninguém, venha comigo e seremos felizes juntos..."
Essas palavras tinham efeito no intruso, eram como se alguém muito familiar falasse com ele: uma mãe, uma amada. Neige virou seu corpo até a silhueta, que parecia se entreter brincando com o próprio cabelo, esperando o moreno ir até seu encontro.
"Receberá meu amor, minhas jóias, meu coração...meu tudo se apenas me seguir. Eu tenho tudo o que você mais deseja, iria recusar uma oferta tão generosa quanto essa?~"
A silhueta parecia virar a cabeça até ele, não tirando a mão dos cabelos. Neige parecia completamente encatado com a jovem que falava com ele. Tão encantado que não se via em posição para a negar. Ele começava a andar até Vil com passos lentos como se fosse seu escravo. O sorriso negro de Vil parecia aumentar.
"Isso...Isso! Meu mais belo príncipe, não deixe seu verdadeiro amor esperando...Aprese-se!"
Vil se virava completamente a Neige com animação: A carne estava na mesa. Em alguns passos o moreno estaria na água em prantos, o pedindo por misericórdia. Até lá iria ser apenas uma concha sem uma pérola dentro, uma no qual poderia se alimentar. Bem, isto era o que Vil especulava.
Isso até uma flecha sair desparada do lado esquerdo do local onde estavam, fazendo Vil parar de cantar em surpresa e como um bônus fez Neige acordar de seu transe.
- O que...?! - Vil exclamou, com raiva, olhando até onde a flecha se originou. Qual fora o bastardo que teve tal coragem à ponto de o interromper no meio de uma refeição? Que falta de educação impertinente!
- Monseiur Neige...Fuja! Vire seu barco e fuja! - Uma voz ecoou da floresta com passos a acompanhando. Com essa voz Vil imediatamente arregalou os olhos: Esta voz...só poderia pertencer a uma pessoa.
- A...Ah, Senhor Hunt? S...Sim senhor! - Neige fez o que lhe foi pedido, agradecendo Rook por o salvar enquanto Vil tentava mergulhar na água para despistar a chuva do flechas que vinha em sua direção.
Estava fazendo um bom trabalho, até que Rook o encurralou com um arco e uma de suas últimas flechas. O caçador loiro com olhos verdes esmeralda deu um pequeno sorrisinho para sua nova presa, enquanto essa tentava escapar de seu arco, falhando.
- Ah~ Roi du Poison... - Rook demonstrou certa tristeza ao falar a frase. - Não acredito que você voltou a caçar!
- Eu não vivo só de algas, para a sua informação. - Vil cospiu de volta com amargura em seu tom. - Preciso de carne humana para continuar funcionando, Rook, pensei que soubesse.
- Fufu~ É claro que sei, mas pensei que as presas que lhe estive fornecendo fossem o suficiente...
- Claro que não seriam, idiota. - Vil olhou para ele como se o que disse fosse a coisa mais óbvia possível. - Você só escolheu os mais horríveis, como acha que minha beleza se manteria me mandando comer humanos deste tipo?
Com este comentário feito pelo tritão, Rook começou a dar leves gargalhadas. Isso deixou Vil confuso: achava sua dieta engraçada? A audácia!
- Irei lhe prover com as pessoas de mais alta beleza, Roi du Poison! - Rook prometeu depois de rir.
- Você sempre diz isso - Retrucou o argumento do outro loiro, finalmente saindo da água e retornando a pedra onde tentou convencer Neige a se afogar e virar comida para si. - Mas nem tenta fazer isso.
- Não tento? Estas palavras me machucam, belo Vil! - Rook comentou, realmente parecendo ofendido. - Todas as suas presas tem sua beleza em algum lugar, por isso as trago!
Vil olhou para o caçador que falava tão bem de o que viraram alimento para ele, sentia como se fosse sincero. Rook realmente achava que todos tinham beleza...
-...Mesmo se eu tentasse, nunca vou entender essa sua lógica.