O medo crescente.

98 15 14
                                    

Era pouco mais das cinco da manhã quando o sol clareou a vista cansada, os olhos não resistiam e lutavam contra ele mesmo implorando por uma soneca, nem que fosse de 10 minutos. A barriga levemente pontuda saltou sobre a mão em resposta à teimosia, se até o filhote sabia como as coisas estavam difíceis, imagina o próprio corpo. Se recusaria a dormir até o momento que Wooseong saísse de casa e ele, finalmente, pudesse destrancar a porta para se alimentar. Não queria mais uma manhã sendo estragada pelos berros bêbados de seu esposo, não queria se sentir enjoado e tonto à esta hora da manhã.

— Uhm... Está tudo bem, meu pequeno sol. — Ditou em uma canção baixa enquanto acaricia a barriga protuberante de seis meses, esticando as pernas levemente inchadas na cama de casal, as costas estalando por tanto tempo estar naquela posição. Não aguentava mais estar naquela posição.

Foi com um nó enfermo na garganta que Taeyong se recusou a chorar, não queria mais se sentir dessa forma, não quando estava tão perto da reta final de sua gravidez. Sabia que seu filho sentia seus sentimentos melhor do que ninguém, sabia ainda mais que era apenas por ele que continuava naquele lugar, não teria para onde correr caso quisesse fugir. Não tinha família, não tinha ninguém por si. Sua única e numerosa família era a criança que carregava em seu ventre.

O acastanhado ouviu o bater forte da porta e seus pensamentos foram dispersados momentaneamente, esperando alguns minutos antes de se levantar da cama e pôr o roupão felpudo que usava naquelas horas matinais. Os passos que foram dados logo após destrancar a fechadura foram minuciosos, tentando ao máximo aguçar seus sentidos para saber se tinha alguém na casa, o olfato aprimorado após estar grávido auxiliava nessa questão. E suspirou aliviado após notar que, sim, estava a sós.

Quando Taeyong idealizou a ideia de casamento, não era bem dessa forma que imaginava estar indo. Brigas eram constantemente ouvidas pelos vizinhos, até mesmo violências exacerbadas, o grávido temia por sua cria em sua barriga e por isso, muitas das vezes, aguentava os surtos psicóticos de Wooseung em silêncio. Por mais que não fosse de sua personalidade aguentar as coisas calado.

"Você precisa mostrar a que família pertence, você é um Lee!" Ouviu a voz de sua mãe ecoar sobre seus tímpanos como uma recordação. Um sorriso fraco repousou sobre os lábios do rapaz quando finalmente desceu o último degrau da escada com uma das mãos na barriga, a falta de ar lhe pregando uma peça por seu menino estar enorme em seu ventre.

— Ora, mamãe... Ser um Lee hoje em dia não é nada demais. — Comentou para seus devaneios ao segurar uma torrada queimada na palma da mão e morder, engolindo em seco ao notar que estava voltando a ficar emocionado novamente. — Céus, Taeyong... Seja agradecido aos deuses e espíritos por ainda ter o que comer. — Os lábios tremiam em desespero por querer chorar, mas o rapaz não se dava a esse luxo; não choraria pela milésima vez que imaginou sua vida diferente.

Mais um chute o fizera lembrar que realmente precisava comer, seu filho também estava ali e precisava manter-se forte para nutri-lo até o momento do parto. Afinal, ser um ômega e da realeza não era uma coisa tão importante naqueles tempos, muita coisa havia mudado desde que o rei Jeong saiu à batalha com seu filho na Noite das Trevas, há cinco anos atrás. Quando o regente tomou o poder, Youngjae I, tantas coisas mudaram na vida dos aldeões e dos nobres, os ômegas se tornaram ainda mais submissos às regras e condutas do patriarcado alfa. Os alfas sentiam-se no direito sobre como, onde e quando seus maridos e esposas podiam ir ou fazer.

Um suspiro partiu os lábios do acastanhado quando mais um chute se fez presente e pensou consigo mesmo que o pequeno Jaemin estava agitado àquela manhã, não era dele se remexer tanto dentro de sua barriga, como se quisesse sair a todo custo.

— Ei, pequenino. Papai está tentando comer aqui, se você me chutar mais ficarei enjoado. — Acarinhou a parte inchada que jurava ser o pé de seu filho sob a pele, vendo-o retrair e entender a situação. A conexão de ambos se tornava ainda mais forte conforme os meses se passavam, Jaemin era a única coisa que o mantinha vivo naquele momento, seu propósito. — Obrigado, meu sol.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 31, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

secular | jaeyongOnde histórias criam vida. Descubra agora