Pesadelos

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As cortinas estavam abertas e o quarto recebia a luz que vinha do poste da rua no lado de fora. Tudo estava quieto, tranquilo. Apenas um quarto levemente desorganizado com S/N dormindo tranquilamente em sua cama.

3:00 AM.

Havia um peso sob seu corpo, e um cheiro de avelã misturado com café fresco. Esse aroma lhe lembrava um pouco a casa de sua vó, nos quais visitava quando podia.
Ao abrir os olhos, S/N a viu ajeitar seu lençol.

— Vovó?
— Shhh... - Seus dedos passaram pela sua testa, afastando os cabelos de seu rosto - Só vim ver se você estava bem, lindinha da vovó.
— O que a senhora está fazendo aqui? Deveria estar no seu quarto dormindo... - O sono a deixou embriagada demais para se lembrar de que ela não estava na casa da avó.
— Não tenha medo.
— Do que eu não devo ter medo?
— Das coisas que você vê. Eu sei que parece difícil, mas você está indo muito bem. Você está crescida, não devia mais ter tanto medo. O certo não é evitá-los, querida, você sabe disso, mas se recusa a ajudar. Por quê?

S/N sabia que estava paralisada, mas como um sonho recorrente, não conseguia se lembrar de como sair dele.
Podia sentir o cheiro dela, um perfume de senhora. Ela se afastou da cama e, quando estava chegando ao corredor, virou-se uma última vez.

— E seja paciente com ele também.
— Ele quem?
— Aquele garoto todo gamado em você. O tal... Katsuki Bakugou.

Estava tão concentrada na porta que quase não percebeu o movimento repentino em seu quarto. O choque lhe tirou da paralisia e seu corpo finalmente se mexeu.
Havia um corpo estendido no chão, estava ao lado da cama, tremendo, olhando para S/N fixamente.

— SAIA DAQUI! - Ela gritou assustada e enfurecida, chutando os lençóis enrolados em seu corpo. ‐ DEIXE-ME EM PAZ! TODOS VOCÊS! NÃO CANSAM DE FAZER DA MINHA VIDA UM INFERNO?!
— S/N! Que merda você tá fazendo?!

Ela deu um grito agudo quando Katsuki entrou no quarto, não tão assustado quanto ela. Não havia mais nada a ser visto no quarto.

— Estou aqui. O que aconteceu? - Ele adentrou no quarto, sentando no pé da cama de S/N, que continuava a encarar o canto do quarto.

Katsuki puxou o lençol e deu duas batidas no pé de S/N. Quando os olhos dela finalmente se encontraram com os dele, pôde perceber que ela se segurava para não começar a chorar ali mesmo.

Vamos sair daqui. - Ele foi direto.

Mesmo não vendo nada no quarto, ainda sentia uma aura nada agradável no lugar.
Ela estendeu a mão e ele a puxou para fora do quarto. Quando ela saiu, sentiu-se um pouco melhor, talvez o problema estivesse mesmo em seu quarto.

S/N sentou-se no sofá, agarrando os seus dedos ao seu lençol. Katsuki saiu da sala e voltou minutos depois com um copo d'água para ela. Suspirando, ela pegou o copo e deu apenas três goles, mas foi o suficiente para sentir o próprio coração voltar a bater normalmente.

A tensão em seu corpo diminuiu.

— Tem algo no seu quarto?
— Tinha. Foi embora assim que você entrou. Eu vi a minha vó, ela falou comigo e de certa forma fez eu me sentir melhor.
— A sua vó está morta?
— Não. Ela mora na minha cidade natal, umas 4 horas de viagem a carro daqui. Porém está viva.

Ela inclinou-se para o lado olhando a hora no relógio da sala: 3:24

— Pareceu um sonho mas... Era tão real.
— Faz muito tempo que você viu a sua avó?
— A vi no meu último aniversário, ela me deu um vestido de presente e... - Por um segundo, S/N pensou em uma coisa terrível demais até para ela lidar.
— S/N? - Kastuki questinou, vendo ela ficar paralisada e perder a coloração de seu rosto.
— ... E se a minha avó não estiver bem? E se ela...

O garoto balançou a cabeça, negando-se a acreditar que S/N estivesse mesmo pensando em coisas tão terríveis.

— Não comece com isso.
— Você continua cético mesmo depois de ter visto tanta coisa, Katsuki?!
Não estou dizendo que eu não acredito em você. Só acho difícil, porra!

S/N se encostou no sofá fechando os olhos.

— O que você tá fazendo? - Ela disse quando sentiu o garoto colocar o cobertor em volta de seus ombros.
— Só cale a boca, cacete... - Resmungou.

S/N levantou os pés e se aconchegou no canto do sofá, ela olhou para Katsuki, que mantinha a sua atenção nela o tempo todo.

— Pode dormir. Eu não vou sair daqui enquanto você não dormir e tenho certeza que você não vai querer voltar pro seu quarto hoje. Eu também não iria querer... - Ele sussurrou a última frase, mas foi alto o bastante para ela ouvir.

Ela fechou os olhos e sorriu, permitindo-se dormir novamente.

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A notícia a destruiu em pedaços, embora já imaginasse o que teria ocorrido com sua amada avó. Katsuki ficou perto dela o tempo todo, mas não a tocou. Ela precisava de um pouco de espaço para processar as informações em sua cabeça.

Não pensou que fosse possível prever a morte de alguém assim.

— Não, mãe. Eu não vou para o velório e nem para o enterro. - S/N afirmou, desejando que a mãe a compreendesse ao menos dessa vez.
— Mas é a sua avó, querida, você gostava tanto dela. - A mãe da garota falou no telefone, estava o viva voz, e Bakugou também escutava tudo em silêncio.
— É exatamente por isso que não quero ir, não vai me fazer nem um pouco bem.

S/N ouviu sua mãe suspirar, imaginando o que a mulher usaria para convencê-la a ir a esse maldito velório.

— Tudo bem. - S/N se sentiu aliviada quando sua mãe finalmente desistiu.

Quando desligou o telefone, seus olhos não saiam do chão, não sabia como os pais iriam reagir se soubessem que ela viu o espírito da avó poucas horas antes de receberem a notícia de que ela estava morta.

Seria um choque, um baque. Ela não sabia se era certo ou não esconder isso deles, S/N já escondia muita coisa de muita gente.

Enquanto ela pensava, e ficava perdida em seus pensamentos, Katsuki a encarava o tempo inteiro. Ele não era bom em consolar, ainda mais quando se tratava da morte de alguém. Dizer "meus pêsames" ajuda mesmo em alguma coisa? Isso não iria mudar nada.

Ao invés de dizer qualquer coisa, ele só aqueceu a voz em uma tosse. Quando S/N o olhou, ele a olhou de volta, mais uma vez analisando os seus traços.

— Venha cá. - Ordenou.

S/N suspirou, imaginando que ele poderia simplesmente falar o que queria mantendo distância, não seria tão difícil assim. Ela quase gritou quando Katsuki a puxou para perto o bastante só para segurá-la e enterrar o rosto da curvatura de pescoço, uma maneira silenciosa de dizer "Eu sinto muito".

O que diabos você vê?! (Imagine Bakugou)Onde histórias criam vida. Descubra agora