A aprovação

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          "Parabéns, minha filha. Você conseguiu. Estou tão orgulhosa de você". Dizia a minha mãe, Carmem. Então era isso. Objetivo alcançado. Finalmente. Acho que esse foi o momento pelo qual eu mais ansiei toda a minha vida. Eu estava sentada em frente ao meu computador encarando a lista de aprovados para Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fernanda Machado Velasco. Jornalismo, décimo quarto lugar. Não sei se fiquei mais feliz pela aprovação ou pelo fato de que 14 era o número da camisa do Troy no time de basquete em meu filme favorito.
         Tudo bem que eu tive que fazer mais um ano de cursinho pra entrar para a faculdade dos meus sonhos, mas valeu a pena. Acho que eu não estaria preparada para entrar em uma universidade aos 17 anos de idade mesmo. Muitas pessoas duvidam, mas da pra amadurecer muito em um ano. E eu definitivamente sou uma pessoa diferente hoje do que eu era um ano atrás.
        Pena que essa mudança de cenário não era totalmente animadora. Minhas melhores amigas, Larissa e Manuela, também passaram para a faculdade. A Lari passou para Medicina Veterinária em outra cidade e a Manuela foi estudar Direito na UERJ. Ela sempre disse que teria que advogar por nós quando fizéssemos besteira na vida adulta. Não me entenda mal, eu estou feliz por elas. Mas ter que me acostumar a uma nova rotina sem minhas melhores amigas seria muito difícil.
        "Como se sente, filhota?", perguntou o meu pai. "Pai, esse sempre foi o meu maior sonho". "Seu maior sonho não era o teatro?", respondeu ele. Ah é, o teatro. Já que eu tinha terminado o ensino médio e meus pais não precisariam mais pagar a mensalidade do colégio, finalmente eles teriam condições de me pagar um curso de teatro. Não apenas teatro, teatro musical. A arte me ajudou bastante a lidar com o estresse do vestibular. Já fiz duas peças no ano passado e eu sei que nasci para estar no palco. É um sentimento inexplicável de pertencer à aquele espaço que eu tenho toda vez que subo. "Sim, pai, o teatro também é um sonho, mas como ele não é certo, eu preciso continuar estudando e eu sempre quis entrar para a faculdade". "Ela está certa, Paulo".
           Depois disso, começaram os parabéns. Minha mãe fez questão de "postar" no grupo da família a foto da propaganda da minha escola dizendo que eu tinha passada para a universidade. "Eu tenho o direito de festejar a minha filha, depois de todo o esforço que eu e seu pai fizemos pra você estudar? A gente merece". Dizia ela. Dona Carmem parecia estar mais feliz do que eu. Não que eu não estivesse, mas eu ainda teria longos três meses de férias pela frente, dava para ficar ansiosa com as aulas mais pra frente.
          Se existe algo que me impressiona é a tecnologia. Como eu não sou boba nem nada, fiz questão de postar no twitter "Eu passei para jornalismo na UFRJ, finalmente!". Depois de quase perder minha saúde mental estudando, eu merecia me gabar um pouco, vai. Cerca de cinco minutos depois, apareceu um veterano do curso me mandando mensagem com um link para entrar no grupo de "recepção aos calouros" do whatsapp. É mole? Que rapidez! Minha mãe sempre contou como a primeira amiga que ela fez na época da faculdade foi na fila da matrícula. Esse mundo moderno está cada vez mais antecipando as coisas.
         Entrei no grupo e, como eu sou curiosa, já comecei a abrir a foto de perfil de todo mundo pra saber como eram os rostos das pessoas. Sim, eu sei o que você está pensando: stalker! Mas como eu sempre digo para a Manuela quando ela me chama disso, eu não sou stalker, eu sou uma apreciadora de arte. Mas confesso que vi poucas artes naquele grupo. Os veteranos se apresentaram, deram instruções, explicaram como funcionava o processo de matrícula e logo depois deixarIiam que nós nos apresentássemos, disseram eles. Larguei o grupo de lado e decidi ir ler um livro. Tinha coisas mais importantes para fazer do que prestar atenção em um bando de jovem flertando em grupo de whatsapp.
      Quando fui perceber, já estava na hora de dormir. Deitei minha cabeça no travesseiro e comecei a pensar. O ano mal havia começado e eu já tinha certeza de que ele seria bem agitado. Uma ansiedade percorria pelo meu peito de uma forma que eu não conseguia compreender, como se meu corpo estivesse me alertando sobre algo. Muita coisa estava prestes a acontecer. Eu só esperava que fossem coisas boas. Fechei meus olhos e deixei que o sono fizesse o resto do trabalho.   

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