Fernanda Mendes
- Fernanda, abre a porta, vai. - Leonardo pede, batendo na porta mais uma vez.
- Me deixa em paz, Leonardo! Eu quero ficar sozinha! - grito para que ele possa ouvir. Minha voz soou um pouco embargada devido as lágrimas.
- Não é bom ficar sozinha, assim. Eu quero te ajudar, por favor. - novamente ele suplica. Posso notar que está triste pela sua voz.
Cedo e vou até a porta, destrancando-a e dando espaço para que Leonardo entre no meu quarto. Ele logo nota meu estado e é ai que eu desmorono em mais lágrimas.
- Ei, vem cá. - ele me puxa para perto de seu corpo, me abraçando. Leonardo prensa meu corpo junto ao seu e rodeia seus braços firmes em volta de mim.
Acomodo minha cabeça em seu peito e choro baixinho, com ele fazendo movimentos circulares nas minhas costas com uma de suas mãos. A outra está emaranhada nos fios de meu cabelo, segurando meu rosto.
Ele me transmite tranquilidade, segurança. Nesse pequeno gesto, consigo sentir que posso confiar nele para tudo.
- Não fique assim por causa do seu pai, princesa. - me consola.
- Sempre foi assim, Leonardo. - eu começo a desabafar, ainda com a voz carregada de mágoa. - Ele sempre me tratou dessa forma. É visível que ele prefere o Felipe. - continuo. Leonardo está em silêncio; como se tivesse me pedindo para continuar a falar.
- Durante toda a minha vida, eu fazia de tudo pra ter o mínimo de atenção dele. Eu me esforçava pra tirar as melhores notas, fazia todas as olímpiadas de conhecimento, fazia o bolo de laranja que ele amava nos finais de semana, tudo. Mas nada fazia com que ele deixasse seu trabalho um pouco de lado pra pelo menos conversar comigo. - desabafo mais um pouco.
Leonardo me guia até a cama, a fim de sentarmos para continuar a conversa. Ele logo se acomoda na beirada dela, enquanto eu vou até a cabeceira da mesma para deitar. Assim que me aconchego nos travesseiros, prossigo:
- Ele não foi um pai presente pra mim. Eu sempre via os pais das minhas colegas buscá-las na escola. O meu pai nunca fez isso comigo. Minha mãe dizia que ele era muito ocupado, salvando vidas. Eu, ingênua, acreditava. Sempre senti falta desse amor paterno na minha vida. - falei, sentido mais lágrimas ameaçarem sair.
- Por isso que eu sou tão apegada ao Felipe. Ele assumiu o papel de pai que era pro Roberto assumir. Foi o meu irmão que ia sempre às reuniões da escola junto da minha mãe. Foi o meu irmão que me ajudou na fase mais difícil da minha vida. - continuei, lembrando daquela época. - O Felipe que notou que eu estava sofrendo bullying na escola. Meu irmão. Porque meu verdadeiro pai estava ocupado demais em congressos pelo mundo ou fazendo uma cirurgia. - e comecei a chorar novamente.
- Foi o Felipe que me viu chorando no meu quarto aquele dia e me perguntou o que havia acontecido; foi ele que conversou com a direção do colégio e descobriu que eu sofria gordofobia. - fiz uma pausa para pegar alguns lencinhos. Leonardo permaneceu parado me acompanhando com os olhos, ouvindo atentamente tudo o que eu tinha pra falar.
- Tudo começou, mais ou menos, no quinto ano. Como eu ficava muito ansiosa pela falta do meu pai, acabava descontando minhas mágoas na comida. O que, claro, me fez engordar bastante. No início eram apenas comentários que eu nem dava muita importância. Falavam "cuidado, a cadeira pode cair porque a Nanda tá pesada demais"; "as roupas podem rasgar se ela pular ou correr", coisas do tipo. Eu pensava que era tudo uma brincadeira e não dava bola pra isso. Mas, tudo mudou quando eu comecei a ser agredida pelos meus "colegas". - fiz aspas no termo.
Logo meus olhos ficaram úmidos com as lembranças e foi impossível controlar as lágrimas.
- Olha, se não quiser falar sobre isso porque é algo que te deixa muito magoada, relaxa. Não quero que se sinta obrigada a me falar algo que ainda machuca você. - Leonardo falou rapidamente, chegando mais próximo de mim. Assenti com a cabeça e retomei minha fala:
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Viagem que Mudou a Minha Vida
RomanceA vida de Fernanda Mendes é totalmente comum a de muitos adolescentes de 16 anos. Mesmo com a sua família peculiar, ela tem vida normal - tediosa até demais, por sinal. Fernanda não tem muitos amigos no seu colégio, muito menos um namorado; ela não...