O espartilho era mais apertado do que eu me lembrava. Fazia um certo tempo que eu não usava um vestido tão extravagante, tão cheio de camadas e tecidos. Meus pais não gostavam muito de festas e muito menos eu. Sempre que possível, fugíamos das que podíamos e ficávamos no castelo mesmo, fazendo belos nadas.
Mas não naquela noite. A princesa Hannah estava fazendo aniversário e queria a melhor amiga por perto. De novo.
E por isso eu usava um vestido grande e ridículo. Era algo exigido pela sociedade, a última moda composta por vestidos volumosos e sapatos de cristal. Esses últimos até que eram confortáveis, eu tenho que admitir, milimetricamente feitos para caber nos meus pés. Fiquei admirando-os na carruagem que me levava até o castelo de minha amiga, pouco interessada no movimento do lado de fora desta.
Quando cheguei ao castelo, não me surpreendi com as luzes e toda a decoração do lado de fora do lugar. Hannah sabia fazer um bom baile, movimentando metade do reino para que tudo fosse perfeito.
Entrei no salão depois de ter sido anunciada e não precisei me preocupar muito em procura-la: Hannah era a mais bela ali, em um maravilhoso vestido verde e com joias brilhantes em seu pescoço, pulsos e orelhas. Mas não foi por isso que eu a achei, e sim porque ela veio correndo em minha direção, segurando camadas de sua volumosa saia e com um brilho meio louco no olhar.
- Eve! Por Deus, você está muito atrasada! – ela disse, já me puxando pelo braço.
- Não estou não. No convite dizia que o baile começava às 22h. Não conseguiria esquecer o horário já que achei uma ofensa uma reunião começar uma hora dessas.
- Você dorme muito cedo.
- Fazer o que. Diz a tradição que tenho que esperar pelo meu príncipe a meia noite, preferencialmente desacordada para não me espantar se ele tiver a cara feia.
- Você distorce muito os contos infantis. – ela disse, acenando para alguém e depois voltando-se para mim novamente. – Mas sabe o que eu ouvi: príncipe Jonathan está vindo aí!
- Ann, se for para eu me casar com alguém, certamente não será com um príncipe. Prefiro um Rei: a queda brusca na expectativa de vida do infeliz me pouparia mais da metade do meu serviço como boa esposa.
Ela não pode deixar de rir, enquanto eu disfarçava uma pontada incômoda. Falou mais alguma coisa sobre Príncipes que foram convidados para o baile, enquanto eu admirava a decoração feita especialmente para ela. Os pais dela sabiam quem contratar no reino... Mais do que isso, minha cabeça estava um pouco distante, um assunto que eu ainda tinha que tratar com minha amiga.
Mas não naquela noite.
Não demorou muito para que o Rei e sua Rainha aparecessem, arrastando longas capas vermelhas pelo salão e indo de encontro a filha. Cumprimentei os dois com sorrisos calorosos e breves palavras, antes de eles se afastarem com ela (que não saiu sem me orientar a ficar de olho nos "filhos ricos" que por ali aparecessem). Foi a minha vez de rir.
Andei mais um pouco pelo salão, saudando pessoas conhecidas, atualizando colegas sobre o estado de minha família e o meu próprio. O velho bate-papo comum em festas com conhecidos, as conhecidas mentiras que contamos com um "Tudo bem". Peguei uma bebida roxa enquanto procurava um lugar para sentar e, felizmente, achei um em um mesa em um canto. Fiquei lá a maior parte do baile, admirando os casais de rodavam pelo salão enquanto esperava a maldita hora do parabéns para ir embora. Às vezes, eu ficava animada com os bailes na casa de Hannah. Ela conhecia pessoas legais.
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nada mágico
Short StoryOne-shot inspirada na música Mad at Disney, da Salem Ilese. História planejada, encantada e escrita para o desafio mensal da página do Facebook Sodalício das Pétalas. Este é o sétimo de uma série de contos sobre Eve e Ian.