Não era nada fácil, sabe? Viver no mar, dentro de um navio, rodeado por pessoas fedidas, mal-humoradas e, na maior parte do tempo, bêbadas, que não faziam nada além de esfregar o casco, soltar a âncora ou limpar canhões. Eu já estive na posição deles, sei bem como é. A vida de marinheiro não é glamorosa, tampouco feliz. É solitária. Meses e mais meses, às vezes até anos, longe da família, da pessoa amada, convivendo com outras tantas almas solitárias, que vagam pelos sete mares junto com a sua.
Humpf, como se a vida de capitão fosse muito melhor. Tá, eu admito. Tive algumas regalias, como um quarto só meu, uma cabine onde me reunia com meu comandante para analisarmos as melhores táticas de navegação, não precisando ficar no mesmo lugar imundo que os outros dormem. Eu tinha acesso a mais água limpa, mais comida, mais espaço, mais respeito. Podia pegar menos doenças, mas, mesmo assim, ficava enjoado com as ondas do mesmo jeito.
Porém, se tinha uma coisa que ninguém podia negar é que eu sempre fui fiel à minha tripulação. Não havia mapa do tesouro que me fizesse abandoná-los. Prometi que retornaria. Prometi levá-los pra casa, de volta aos braços de suas mães, filhos, esposas.
Bom, pelo menos a maioria deles.
Quando enfrentávamos uma leva de calmaria, reuníamo-nos no convés e cada um contava uma história, porque geralmente o vento nos deixava vagando por dias a fio e o serviço se acabava muito rápido. O engraçado é que as histórias eram contadas com muito fervor e, quando nos dávamos conta, estávamos falando sobre como sentíamos falta das tempestades.
Parece contraditório, mas, quando as tempestades finalmente retornavam, ninguém ficava contente com elas. Os marinheiros mais experientes lutavam para manobrar as cordas que seguravam as velas no mastro e os mais novos se reuniam no porão pra retirar, com baldes, a água que vinha entrando pelas frestas. Assim que tinham uma folga, eles se davam as mãos e se punham a rezar, pedindo que o tempo se acalmasse.
Seria tão bom se pudéssemos encontrar uma ilha em um momento como esse, mas minha bússola estava quebrada e não parecia apontar direito para lugar algum. Aliás, uma senhora uma vez me disse que essa bússola era "especial", que ela apontaria o norte quando eu finalmente achasse o que meu coração tanto procura. Aham, sei.
Certo momento, eu usava meu telescópio na ponta do navio, torcendo para achar algum sinal de qualquer coisa que fosse, quando escutei a voz de um de meus marinheiros me chamando. "Capitão Jeon! Rápido, Capitão Jeon!"
Era Namjoon, meu comandante. Parecia desesperado. Olhava para mim e para o mar, alternadamente, e ofegava, sem conseguir externar direito o que tinha a me dizer. "O que foi que aconteceu, homem?" Ele pôs a mão em meu ombro, pareceu recuperar as forças e começou. "Capitão Jeon! O Yoongi... e-ele simplesmente parou de ajustar as velas... olhou fixamente pro mar e... se atirou".
"O quê? Que história é essa Namjoon? Por que ele se atiraria no mar sem motivo algum?" Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Tinha perdido um de meus melhores homens, um dos mais experientes, e nem sabia a razão. Precisava descobrir, nem que fosse para ter como explicar a seu irmão quando voltássemos pra casa.
Enquanto esperava uma resposta, escutei o barulho de algo se chocando contra a água. Olhei ao redor, temendo o pior. Analisei os rostos dos homens que estavam no convés. Não vi Jimin. Corri até a borda do navio, mas não enxerguei nenhum corpo. Então ele também havia se jogado? Já teria afundado? O que diabos está acontecendo?
Ainda totalmente perdido, tentando achar um jeito de tudo fazer sentido, percebi Taehyung correndo em minha direção. Em uma de suas mãos estava um balde cheio de água e ele respirava pesadamente. "Capitão! Já não sabemos o que fazer, a água está entrando mais rápido do que conseguimos retirá-la... desse jeito teremos que abandonar o navio!"

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Through The Seven Seas
Fanfiction"Sábio é o marinheiro que respeita o mar, mas sabe que não se deve dar ouvidos ao canto das sereias."