Saudades da Minha TV

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Às vezes penso em quanto tempo gastei da minha vida em frente a uma tela de TV e por vezes me sinto um pouco culpada, mas não entendo o porquê. Televisão é informação, cultura, entretenimento, não é verdade? E por muito tempo ela foi minha companhia, amiga, lazer favorito, e sendo o mais clichê possível, era um mundo inteiro dentro de uma caixa. Fantasia, aventura, informação, diversão... tudo que eu quisesse podia encontrar nela.

Através dela eu podia conhecer o mar, viajar num foguete até a lua, conhecer os segredos dos meus artistas favoritos, aprender coisas que ainda levaria anos para serem ensinadas na escola, escalar uma montanha; eram possibilidades infinitas oferecidas por ela diariamente.

Será que essa minha mania de fantasiar as coisas veio dela? Muito provável...

Acho que muito do meu caráter foi moldado pelo que vi naquela "tela viva". Quando criança, para que minha mãe pudesse fazer suas tarefas domésticas, o que me distraía era a bendita da TV, dando assim tempo para que mamãe pudesse terminar de arrumar a casa (ou seja, foi minha "babá"). Quando adolescente, a falta dessa companhia servia de castigo. Qualquer pisadinha fora da linha e lá se ia uma semana sem poder assistir meus programas favoritos (ou seja, ajudou a me educar).

A cumplicidade era tamanha, que cheguei ao ponto de decorar todas as musiquinhas dos intervalos comerciais. Loucura? Claro que não! Era pura diversão.

Eu podia ficar horas e horas sentada olhando para aquelas imagens, me deixando levar por cada história contada nos filmes e novelas, ou deixando o riso vir frouxo enquanto via meus desenhos animados favoritos.

Não há quem não ache estranho, mas aqui vai um segredo meu e dela: eu amava ler com ela me assistindo. O barulho dela ao fundo enquanto viajava nas páginas dos meus livros me dava uma sensação de estar sempre acompanhada.

O barulho de crianças brincando na rua não me fascinava tanto quanto a vinheta daquela novelinha das seis. E que almoço estaria completo sem assistir aos desenhos do final da manhã? Não importava a situação, ou a hora do dia, lá estava ela, sempre presente com algo que me prendia como uma âncora de milhares de toneladas segurando um pequeno bote.

Quando foi que nos perdemos? Não sei exatamente, mas em algum momento os meus intervalos de ócio foram ficando mais curtos e as coisas do lado de fora daquela sala onde ela ficava foram se tornando mais interessantes e necessárias. É impossível dizer o exato momento em que nos distanciamos.

Hoje me falta tempo e até vontade de estar com essa velha amiga. Talvez por que a idade tenha batido à porta ou por ter novos gostos. As vezes acho que ela não é mais a mesma de antes, não consigo mais me conectar a ela. Posso dizer que até sinto saudades de nós duas juntas, mas quando resolvo ir ao seu encontro, descubro que nós mudamos muito.

Quantas horas, dias, meses, ou quem sabe anos passei em frente à TV? Isso hoje pouco importa. O que realmente interessa é que ela me acolheu e ensinou muito e novamente quando me vem a sensação de arrependimento pelo tempo perdido com ela, um outro sentimento sempre abafa essa sensação, a saudade.

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