Um Texto quase perfeito.

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Espero que gostem desse texto, ele foi criado para homenagear todos os contadores de histórias. FELIZ  20 DE MARÇO! FELIZ DIA DO CONTADOR DE HISTÓRIAS! 

Pelas margens infinitas do Rio Procrastinate onde nada se move, nem a poeira, ondas ou espuma, caminhavam no prelúdio do processo de criação, duas figuras altas e magras chamadas de Imaginatio e Editio. Eram figuras estranhas, cuja aparência era tão etérea que quase não possuía forma definida, nenhuma sombra os acompanhava e seus pés não deixavam marcas na areia.

De onde vinham? Talvez uma rápida emoção as tivesse criado, ou talvez fossem filhas de uma memória antiga que apareceu em um arroubo de inspiração. Mesmo assim, conservavam o silêncio e a dignidade enquanto marchavam sem ruído observando e pensando no que poderiam fazer em breve.

Tudo isso acontecia no início da noite, naquela hora em que diferentes criaturas e situações borbulhavam, naquele universo que era a mente de um escritor.

Com a cabeça enfiada na areia, algumas ideias, gordas e vergonhosas se remexiam, criando assim uma sombra enorme, que refletia trêmula sobre as águas. Enquanto isso referências antigas, esticavam seus grandes tentáculos que pareciam, ao longe, estranhas vergas de junco, enquanto limpavam os longos bicos sujos de sangue e perscrutavam o deserto do esquecimento que existia além do pensamento.

Mas no interior daquela mente, o solo era fértil, e em alguns pontos estava nascendo um lindo campo de flores poesia, pequenos contos ou árvores história, encobrindo assim a secura do deserto e criando um profundo tapete de devaneios e vida, onde pequenas sementes germinavam e cresciam, fervilhando e alimentando um mundo de conteúdos novos e assustados que ainda reagiam com a emoção por estarem sendo quase finalizados.

Alguns prólogos agiam como monstros gigantescos, testando suas grandes mandíbulas assassinas enquanto mal se sustentavam nas pernas finas e pouco finalizadas que ainda estavam em processo de crescimento, e que por isso representavam na fragilidade de seus corpos a umidade das idéias escritas na véspera.

Os capítulos finais apenas guinchavam, presos em suas pequenas tocas, mal vestidos de uma lanugem recente. Enquanto alguns capítulos intermediários já se escondiam, nas touceiras espalhadas entre as árvores, tentando sobreviver aos primeiros momentos de sua concepção.

As gírias vertiam um líquido pastoso, tal qual anuros do azul mais peçonhento, enquanto contemplavam o momento que seriam escolhidas rio abaixo. Sua agressividade era palpável enquanto boladas, apertavam seus olhos cegos e cotidianos, na tentativa de se organizar em grupo.

Verbos taciturnos, sacudindo todo o seu discernimento, se arrastavam empapados, enquanto arrancavam feixes da relva que apodrecia perto do banhado, intimidando uns aos outros, mordendo e ferindo, até que um deles tivesse o domínio do bando.

Aqui e ali os personagens pastavam em grupo, colhendo com as mãos nuas, ramadas verdes de contos, bem no meio da relva vicejante. E as vezes, aqui e ali, um deles já totalmente desenvolvido corria ligeiro. E com esse acontecimento, as outras criaturas o fitavam, com um ar de indagação como se tentassem entender, por que ele merecia tanta cortesia naquele enredo inicial.

Informações escritas, grande e gordas, limpavam suas garras de modo enfadonho. E nem mesmo um dado digital, adejando de forma célere próxima deles, despertava seu interesse.

Em um passo lúgubre, Imaginatio e Editio caminhavam, olhando, sem fascínio, para as maravilhas criadas pela mente do escritor. Fortuitamente andavam lado a lado. Pois a imaginação gosta de aparecer primeiro, ora de maneira mais explosiva, ora de maneira mais exaltada; já a edição, sempre acontece no mesmo ritmo, selecionando, limpando e organizando sem exageros.

Um Texto quase perfeito.Onde histórias criam vida. Descubra agora