Canção da natureza

21 3 0
                                    

Ali estava ele, caminhando solitário naquela manhã de primavera. O caminho que fazia já era conhecido pelo garoto, uma estreita estradinha de terra que cortava o bosque onde morava em uma casinha de pedra, todos os dias fazia esse mesmo trajeto até um riacho onde gostava de ficar para estudar.

A paisagem estava especialmente bela aquela manhã, o cheiro gostoso de terra fresca invadia suas narinas o fazendo sorrir. O cantos dos pássaros, o silvo do vento, o barulho suave de água escorrendo lá ao longe, tudo isso o fazia sentir-se vivo. E a visão era especialmente bela, grandes árvores se estendiam pela margem do caminho e a seus pés surgiam lindos narcisos amarelos, cravinas e papoulas vermelhas. Milhares de florezinhas brancas, amarelas e roxas coloriam o verde da grama úmida. Nos campos ao lado do caminho diversas árvores davam seus frutos, e animaizinhos miúdos corriam por entre a folhagem e se alimentavam de seus frutos docinhos. Mas havia algo novo ali, um assobio diferente. Apressou o passo em direção ao riacho que já estava bem próximo e ficou surpreso com o que viu ali.

Sentado debaixo de uma árvore encostado em seu tronco estava um garoto, este aparentava ter a mesma idade que a sua, tinha cabelos curtos negros bem lisinhos com uma franja caindo por sobre os olhos, bochechas rosadas contrastando com sua pele pálida e seus olhos... Bem, eles estavam fechados. Mas o que chamou sua atenção era a música que ele tocava em sua flauta simples de bambu. Uma melodia doce, suave, tão bela quanto o canto dos pássaros. Ao seus pés dormia serenamente um cachorrinho de pelagem marrom.

O garoto prendeu a respiração enquanto apreciava a suave melodia, era como se o barulho de sua respiração fosse destoar toda a magia do momento, quase como um pecado. Ele ficou ali apreciando o momento tão submerso que nem percebeu quando o rapaz terminara sua canção e agora o olhava curioso.

— Oi! – Cumprimentou o garoto tirando o rapaz de seu transe.

— Hum... É.... Oi! – Respondeu depressa. Ele enrubesceu ao perceber que ainda o encarava, o rapaz sentado o olhava com aqueles olhos miúdos super negros como a noite, isso o deixou meio desconcertado.

— Eu sou Yoongi. – O rapaz se apresentou indo em direção a ele depois de levantar-se.

— Bem, eu me chamo Jeongguk. – O garoto o cumprimentou com um aperto de mão e sorriu. – Isso é lindo! Quer dizer, sua canção é linda, nunca ouvi algo tão belo tocado por alguém.

— Obrigado! – Yoongi retribuiu o sorriso e voltou a sentar-se no mesmo lugar. – Eu sou apenas um aprendiz neste instrumento.

— Desculpe-me tê-lo atrapalhado. Se eu o estiver importunando posso me retirar. – Jeongguk permanecia em pé no mesmo lugar e olhava com certa admiração o instrumento nas mãos de Yoongi.

— Bobagem. Venha, e sente-se aqui comigo. Gostaria de comer algo? Tenho amoras e pêssegos, quer?

— Não quero ser um incômodo.

— Por favor, junte-se a mim.

Jeongguk ainda relutante se aproximou de onde o rapaz estava sentado e também sentou. Agradeceu e junto com ele passou a comer dos frutos que estava em uma cestinha.

— Eu sou um andarilho. – Yoongi começou a falar depois de engolir o que mastigava. – Sou um aprendiz da seita de magos do som. A dois anos sai em uma viagem com meu mestre... – Ele comeu mais alguma frutinhas e continuou. - ... Ele sempre falava que a natureza é o melhor mestre que alguém pode ter. Pouco tempo depois de termos saído em viagem, fomos pegos em uma emboscada por um bando de caça-feitiços e ele acabou capturado e morto, mas eu consegui escapar. Desde então vivo sozinho por estas estradas que a cada dia me levam a um lugar novo.

— Sinto muito pelo seu mestre, mas porque está me contando isso? – Jeongguk estava realmente curioso.

— Não sei! Apenas senti vontade de conversar com você. – Ele o olhou e sorriu. – Caro Jeongguk, De alguma forma que desconheço eu me sinto confortável contigo. - Jeongguk corou ante o comentário do rapaz, desviou o olhar tentando disfarçar o possível rubor e ficou a observar a água escorrendo por entre as pedras do riacho.

— Você toca de uma forma tão bela. Foi seu mestre que o ensinou? – O rapaz perguntou sem desviar os olhos da água.

— Me perdoe, não é a minha intenção buscar elogios. Eu, a minha maneira, mal consigo tocar a Canção do Homem. – Yoongi segurou firme sua flauta em mãos e saudoso respondeu. - Sim, foi ele quem me ensinou no pouco tempo que tivemos a oportunidade de passar juntos.

— Sinto muito pelo seu mestre. – Jeongguk depois de terminar de comer limpou as mãos na barra de sua camisa e o olhou curioso. - Como assim Canção do homem? Existe outros tipos?

— Canção do Homem é a música tocada pelos mortais. – Yoongi respondeu de olhos fechados, parecia querer escutar algo. - Sim, Também existe a Canção da Natureza.

— Entendi! E a Canção da Natureza? É como a água do riacho a escorrer? Ou o canto dos passarinhos?

— Sim! – Ele se divertia com a curiosidade do rapaz. – A todo o momento escutamos o vento por entre as folhas das árvores, a água passando por entre as rochas, os passarinhos celebrando sua liberdade, a terra gemendo silenciosa sob nossos pés. Essa é a sinfonia da natureza, sutilmente regida por uma força mágica que não vemos, mas está ai.

— Isso que você falou é lindo, Yoongi! – Jeongguk deitou na grama úmida e fitou o céu vendo as nuvens passearem vagarosas sob o imenso azul.

— Para escutar a música da natureza, primeiro você tem que apreciá-la. Feche seus olhos e aprecie o momento, tente distinguir os sons que ouve.

Jeongguk fez o que o rapaz disse e fechou seus olhos redondinhos, então sorriu ao ouvir o silvo do ventos por entre as árvores, seu assobio parecia que estava a chamá-lo. Escutou as folhas balançando, o som de uma fruta caindo do pé. Ouviu também um ganido baixinho, possivelmente viera do cachorrinho marrom.

— Existe também a Canção Celestial. – Falou Yoongi vendo o rapaz sorrir de modo contido ao apreciar os sons ao seu redor. Os cabelos lisinhos e castanhos esparramados pela grama, a pele levemente bronzeada iluminada pelos raios de sol que passavam por entre as folhas, os olhos fechados e a boca rosada se curvando em um singelo sorriso que deixava evidente seus dentinhos salientes. Jeongguk parecia a mais bela das criaturas.

— Me fale dela também! – O garoto sentou-se rapidamente quebrando o encanto do momento de contemplação, e o olhou com seus olhos negros transparecendo muita curiosidade. Yoongi riu contido ao perceber a total atenção que agora detinha dele.

— Não tem como descrever algo que os mortais não conseguem ouvir. – Falou simplesmente.

— Então, você nunca ouviu? – Sua voz transparecia uma pitada de desapontamento.

— Ai de mim! Não mesmo! – Yoongi riu da cara que o garoto fez. – Não sou digno de ouvir tal encanto, mas quem teve o prazer de apreciar a Canção Celestial descreve como se ouvisse milhares de anjos cantando em um coro perfeito ao som suave de harpas.

— Deve ser lindo! – Jeongguk confirmou sonhador.

— Sim, deve ser.

Os dois passaram toda tarde conversando, rindo, se divertindo, ouvindo a natureza e brincando com o Holly (Esse era o nome do cãozinho). Jeongguk descobriu que o rapaz era mais velho que si mesmo que aparenta-se o contrário. Yoongi e Jeongguk, dois completos estranhos agora se tornaram grandes amigos e fizeram planos de se encontrarem novamente no futuro.

— Desculpe-me, Jeongguk, mas agora tenho que ir. Ainda tenho uma longa viagem, preciso chegar à cidade antes que escureça muito.

— Entendo. É uma pena que você não possa ficar. – Jeongguk se pôs de pé sendo seguido pelo rapaz que era um pouco menor que si.

— Em breve nos veremos de novo. – Yoongi sorriu e se curvou reverente. – Adeus, meu novo amigo. – Voltou a sua posição original e foi até a estrada por onde o outro garoto viera.

— Adeus, Yoongi! – Jeongguk se despediu vendo o rapaz se afastar sendo seguido pelo cãozinho marrom chamado Holly. Sentou-se no mesmo local e ficou ali por mais algumas horas, depois que o sol se pôs voltou para casa pensando se voltaria a ver Yoongi novamente.

Canção Celestial ⋆ YOONKOOK!Onde histórias criam vida. Descubra agora