Darion

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A noite estava carregada, com pesadas nuvens e uma torrencial chuva. Era uma pacata noite de quarta-feira, o bairro chinês estava com suas lanchonetes, puteiros e bares como de costume cheios. Muitos emigrantes, que não se resumiam apenas em chineses, residiam ali, em suma pelo custo de vida baixo.
Darion fez uma careta, enquanto examinava o decadente bairro. Com seus blocos que a muito necessitavam de uma reforma, até mesmo uma mão de tinta disfarçaria a arte vândala das pichações, que em nada melhoravam a paisagem, as trovoadas fortes e intensas. Ajudavam a clarear o sedan cinza onde ele ocupava o banco do carona, na companhia de três passageiros.

Desde a partida, até o momento. Ninguém havia esboçado um assunto sequer, como uma matilha, os olhos e ouvidos. Estavam atentos, Darion sabia que confiança não era nem de longe. Uma virtude de um vampiro, pois sempre apelavam para truques e mentiras. Coisa que ele nunca teve dúvidas, as chances de ser uma emboscada. Eram altas, mas estavam preparados para tudo, se ela resolvesse revidar. Com certeza chamaria a atenção do condomínio, acarretando na aglomeração de curiosos repórteres e policiais.
Mas, para ela causar uma exposição dessas seria por um grande motivo, que estava fora da compreensão da matilha, Darion conhecia a entrada que dava acesso ao condomínio, era uma viela próximo a uma pastelaria. Na rua Johnson com a Mason. Os carros a frente mantinham um ritmo acelerado, o semáforo verde dispensava a parada. Eram apenas noventa segundos, mas nessas condições toda o tempo ocioso era um risco.

Chegando próximo a pastelaria. Ele percebeu que seria impossível se concentrar para sentir a enodoa, devido ao movimento do carro. Precisava se posicionar para acessar o poder. Mesmo se estivesse a pé, deveria parar para tal ação.
Rangeu os dentes, para os demais transeuntes, era apenas uma quarta-feira, em um bairro de Montreal. Mas não no sedan cinza, os acompanhantes compartilhavam o seu desconforto, Raven a mais temperamental do grupo. Não se contentava em olhar pelo seu lado do vidro, seus olhos disparavam de um lado para outro. Em uma situação diferente, Leopoldo ficaria irritado com tal atitude. Mas nesse caso específico a inquietação não era culpa da sua instabilidade, e sim o fato de serem pegos desprevenidos.

- Então Leopoldo, entramos na sua área. - Franklin elevou o canto da boca, em um riso forçado. Para quebrar o gelo, e tentar distrair os companheiros.

- Não sou chinês seu idiota, tenho descendência japonesa! - Ele encarou Franklin que estava conduzindo o automóvel, pelo retrovisor interno.

- Bom, mas todos são iguais e gostam de pastel, não é? -  Fez uma careta para Leopoldo que riu de um jeito suave e descontraído.

Darion também soltou um riso abafado, descompromiu a mandíbula. Ao contrário dos três, Raven continuava com a mesma seriedade. Não se importando com a piada, seus dreads bateram no braço esquerdo de Leopoldo com o movimento da cabeça. Tirando a atenção do mesmo, um novo relâmpago refletiu a luz no céu negro Leopoldo olhou para a pele morena da garota, focando nas manchas pretas de cada lado da bochecha que era sua marca registrada, quando o assunto era uma caçada. Ou um evento que tinha grandes chances de terminar em pancadaria, ela religiosamente se pintava. A atenção de Leopoldo em Raven foi tirado por mais uma piada de Franklin que não teve o efeito desejado, que era causar gargalhadas. A tensão e os faros aguçados voltaram a ser o centro das atenções, Darion observou ao longe cones de obras do lado esquerdo da pista.

O que parecia ser uma obra de recapagem devido a chuva, não avistou o rasteleiro ou placas, o que tornava o trânsito a frente caótico. Para piorar uma das vias estava comprometida, quem fosse mais rápido atravessava dando palco para um possível acidente. Franklin estacionou antes da obra paralisada, avistantou uma vaga em frente a um loja de sapatos.

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