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Primavera realmente trazia com força vida à vegetação, incluindo o marrom saudável das árvores e o volume das copas.

O que era bonito para alguns, mas inconveniente para o metazoan cão que vasculhava aquela área, visto que acabou ficando até anoitecer e a quase ausência de luz lunar se mostrava um obstáculo. Talvez exatamente por isso que uma parcela considerável da guarda principal era composta por cães.

Àquela altura, estava à beira da desistência - estava cansado de ter passado dias na estrada e nem lembrava de quando ou se deu uma pausa naquela vigília -, mas, felizmente ou não, a sua frustração não foi longa, seus ouvidos foram os primeiros a indicar que havia alguém lá.

Se aproximou com cautela, tentando fazer o mínimo de som possível, até chegar à fonte do som.

Era uma mulher. Uma metazoan também, mas ave. Não sabia o que havia acontecido, mas ela estava tremendo, e o vestido que usava havia sido rasgado até ficar curto, a obrigando a usar as asas, do mesmo marrom das árvores, para se cobrir. Parecia inofensiva, se trêmula, sem dúvidas com frio.

Parou a uma certa distância - próximo o bastante para mostrar que a intenção de fechar a distância estava lá, mas longe o bastante para a dissuadir de ser uma ameaça se precisasse - e soltou um assobio e acenou, para mostrar onde estava.

Apesar de estar escuro, ela pareceu feliz, e o caçador tomou um sinal positivo. No entanto, antes de poder perguntar o que fazia, ela abriu as asas e descobriu seu corpo... e exibiu orgulhosamente a alma, translúcida e desbotada, mas ainda com um rastro de azul, em suas mãos:
-- Eu estava te esperando.

Um calor de fúria imediatamente subiu, substituindo a piedade. Como essa "mulher" conseguiu enganar seu olfato era um questionamento para outro momento, pois o reflexo foi puxar sua pistola e disparar... errando pois o segundo que o gesto tomou foi o bastante para ela começar a fugir de si.

Ah, não! Não a deixaria escapar tão fácil, não quando a tinha na mira! Enfiando a pistola de volta no coldre, se enfiou no meio das árvores atrás dela.

O escuro dificultava desviar, mas o barulho que seu alvo fazia ajudava. Era rápida, apesar das asas que não deviam ajudar. Galhos batiam sobre si, e calor úmido entregava que um havia cortado seu rosto. Cheiro e som entregavam um ponto, mas mirar dependia de visão, e marrom com marrom no escuro não ajudava.

Uma raiz tombou seu pé por um momento, e achou que a teria perdido, até ver que havia se virado para rir. Era um jogo para ela? Porque não estava surpreso? Galhos quebrados começavam a cair, o som de passos mais notável e a sombra que seguia tomando as copas das árvores.

Um segundo tiro ecoou, mas nenhum sangue caiu, e a trilha de odor acabou. Finalmente decidiu voar, ele assumiu.
Um barulho de frustração deixou sua garganta, mas não havia escolha a não ser voltar seguindo o rastro do seu próprio cheiro. Seria divertido explicar à capitã que achou a bruxa e a deixou escapar - havia de ser uma bruxa, um licantropo estaria transformado na lua cheia.

Uma boa diversão foi para a bruxa, por outro lado, e conveniente. Tão fofinho o ver brincar de herói, sem sequer se dar conta que o atraiu de propósito. Ainda era cedo, afinal, mas que tipo de mulher seria se deixasse o afilhado levar um tiro?

Não tinha preocupação de perder nada aquela noite, quem teve as veias rasgadas foi uma corça, não uma pessoa, então podia se preocupar apenas em fazer um caminho livre e nada mais.

A manhã chegou eventualmente, e foi sob a claridade do sol que o ocorrido foi reportado... E quando a própria capitã acabou surpreendida com a paciência que conseguiu ter.

-- É uma decepção que tenha escapado, quem sabe quanto tempo isso nos atrasa. Um "pelo menos" que existe é que deixou uma trilha, então encontrar uma segunda vez deve ser mais fácil, talvez antes de fazer outra vítima.

Certo, talvez "paciência" fosse a palavra errada, afinal, o rastro de irritação nunca realmente deixou sua voz ou seu  rosto: estava meramente agindo como a profissional que era. Raiva e irritação são sensações comuns, mas que incapacidade de controlar não indica alguém que forma um bom líder.

-- E o que pode ser feito, Capitã Eterna? -- perto uma das mulheres do quinteto, uma masic -- Se ela pode voar, pode sabotar o rastro de odor, e ter conseguido passar como humana também é preocupante.

Eterna não tinha certeza, e a última observação era a que lhe dava mais desejo de tirar o próprio chapéu e o amassar até virar uma bola. Mas não era um momento apropriado.

-- Até pode ser capaz de voar, mas uma bruxa nunca se afasta demais da própria toca. -- saiu em um murmúrio, um sinal de que o que sentia estava borbulhando sem um escape; houve um momento de silêncio, em que considerava onde estavam: dentro da vila que sofrera com os ataques suspeitos, proteção por proximidade -- É no mínimo dentro da província, talvez até em alguma vila vizinha. Se acharmos, achamos o refúgio da bruxa, e podemos pega-la quando estiver vulnerável.

Buscar nas proximidades de vilas vizinhas, se atentar ao físico porque o disfarce realmente engana...

Por um par de asas não ia ser uma caçada tão simples quanto achavam que iria ser.

Vampire Verse - Sun and MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora