Capítulo 3| Ian

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'I'm just tryna get you out the friend zone
Cause you look even better than the photos'

- The Hills, The Weeknd

Segunda-feira, 02 de outubro

A incrível cidade dos universitários possui imensos estabelecimentos noturnos e eu, acompanhado de Ricciardo, tive a oportunidade de descobrir os mais frequentados.

Porém, não ficamos mais do que meia hora em cada um. A apresentação de todos os novatos à instituição universitária é daqui a algumas horas, então preferimos descansar.

- Estás pronto para ver todos os novos alunos? - Ricci pergunta enquanto descemos as escadas do bloco de dormitórios.

- Claro! - exclamo. - Teremos a oportunidade de identificar os veteranos nas festas, mas os novatos tendem a esconder-se durante as primeiras semanas.

- Nós, definitivamente, não somos assim. - ele nota com humor.

Assinto em concordância. Nós somos a dupla que mais chama à atenção e não somos nem um pouco contidos.

Quando chegámos ao edifício principal da universidade, vimos imensos alunos aglomerados na entrada. Eu segui diretamente para o estacionamento e tive uma boa surpresa ao avistar o BMW negro das nossas vizinhas. Não perdi tempo e estacionei o Porsche na vaga ao lado.

Entramos no auditório pouco antes do diretor e encontrámos duas cadeiras disponíveis. Não me agrada nem um pouco ficar nas primeiras filas, mas não tinha outra opção.

- Olá, sejam bem-vindos à Universidade! - o diretor exclama.

A multidão de alunos responde eufórica, satisfazendo as expectativas do homem, que aparenta estar na casa dos sessenta anos. Os cabelos grisalhos, o bigode grosso e a barriga proeminente denunciam a sua velhice. O discurso de Carlos não é nada elaborado. Ele limita-se a dizer umas quantas palavras com o objetivo de fazer os estudantes se sentirem acolhidos.

Sinto a minha nuca formigar, como se eu estivesse a ser observado, e desvio a minha atenção para as cadeiras atrás de mim. Não demorei muito a identificar os olhos escuros que me fitavam. É impossível não a reconhecer, o meu olhar prende-se ao dela como um íman.

Ricciardo, que estava sentado ao meu lado, deu-me uma cotovelada no braço e eu apercebi-me de que estava a encarar a morena durante muito tempo. O meu amigo não precisa de proferir uma única palavra para eu entender o recado que pretende transmitir. As nossas vizinhas são perfeitas para começarmos o ano em grande.

Beijámos pela primeira vez aos treze anos e desde então temos a regra de nunca ficar com a mesma pessoa mais do que uma vez. Cumprimos esse acordo até assumirmos um namoro que durou pouco mais de meio ano e, por sinal, foi a pior decisão das nossas vidas. As duas raparigas eram extremamente possessivas e o nosso charme sempre atraiu olhares, então elas tornaram-se insuportáveis.

- Vamos abordar o assunto? - questiono o loiro assim que entrámos no carro.

Ricci fita o carro ao lado antes de responder. A sua atenção recai imediatamente para Francesca, enquanto eu entro em transe a observo atentamente a morena. A loira parece um anjo, mas Mathilde é a própria personificação do diabo. A sua personalidade marcante é uma característica que condiz na perfeição com o seu visual e qualquer um se perderia facilmente.

- Elas têm de ser as primeiras do ano, Ian. Antes da nossa reputação ficar marcada. - Ricci finalmente se pronuncia. - Temos de agir.

Terça-feira, 03 de outubro

O espelho reflete a imagem do homem rebelde e convencido que sou e nunca neguei, porque sei perfeitamente as atitudes que tomo e as consequências que me trazem. A negligência dos meus pais moldou-me assim. Eu era uma simples criança confusa que não recebia amor parental. Talvez isso diga muito sobre a minha personalidade, porque eu nunca me apeguei muito às pessoas.

Ricciardo é o único que não me julga e que está sempre comigo nos momentos mais delicados da minha vida. Todas as outras pessoas parecem apenas ver o dinheiro que rodeia a minha família e não desconfiam que atrás de toda a fortuna, existem inúmeros buracos negros.

- Bom dia. - o meu amigo cumprimenta-me com uma gargalhada.

- Começamos cedo. - declaro, acompanhando-o.

- Pontualidade nunca foi o nosso forte. - Ricci nota. - Contudo, não quero me atrasar no primeiro dia. Temos de ser assíduos e, com sorte, ainda contámos com a companhia das nossas vizinhas durante o trajeto.

- Estou realmente admirado. - pontuo. - Pareces empenhado em impressionar a Francesca.

- A loira é um anjo. - ele abre um sorriso malicioso. - Vou garantir que a levo até ao inferno comigo.

- Boa sorte. - digo e ele fecha a cara novamente, aborrecido com a minha fala desacreditada.

Ouvimos três vozes femininas animadas no corredor e apressámo-nos a sair do dormitório. Mathilde e Francesca estavam lado a lado, vestidas de acordo com o curso. As duas pareciam magistradas, prontas para enfrentar o caso mais complexo de todo o país com agilidade. Não consegui deixar de reparar que o estilo formal combina imenso com a personalidade delas e a paleta de cores quente da morena em contraste com a paleta de cores fria da loira formam uma explosão fantástica.

- Ian! Ricci! - a outra mulher exclama e nós desviamos a nossa atenção.

Fiquei surpreendido ao ver Valentina, uma das melhores amigas das nossas ex-namoradas. Desejo profundamente que a amizade delas tenha se encerrado no secundário, pois não seria nada benéfico ter alguém a observar todos os nossos passos para informar as duas obececadas.

- Tina! - recebemo-la num abraço, afinal a ruiva sempre foi simpática conosco.

- O Thiago vai adorar saber que vocês conseguiram entrar em engenharia. - afirma. - Ele está à espera no estacionamento.

A referência ao nosso antigo companheiro de basquetebol fez-nos abrir um sorriso animado. Se o relacionamento deles ainda se mantém, há pouca probabilidade da ruiva continuar a ter contacto com Alice e Pâmela.

- Bom dia. - cumprimentamos as nossas vizinhas, que acompanharam tudo atentamente.

- Bom dia. - dois sorrisos tímidos surgem nos seus rostos.

Ricciardo pressionou o botão do elevador e nós entrámos. Elas seguiram os nossos passos, acomodando-se desajeitadamente dentro do cubículo metálico. Valentina correu para fora do bloco de dormitórios, sendo recebida por Thiago de braços abertos.

A loira e a morena sorriram com aquela situação e eu fitei o loiro, que não abandonou o sorriso. Trocámos um aperto de mão com o nosso parceiro. Não importa quanto tempo fiquemos sem entrar em contacto, a equipa de basquetebol sempre estará unida por experiências incríveis que vivenciamos juntos no secundário.

- É muito bom rever-vos. - Th confessa. - Fico extremamente feliz que tenham conseguido entrar nesta universidade. A fama desta instituição não engana.

- Tens razão. - reconheço. - Perdemos alguma novidade?

- Acredito que sim. A Pâmela e a Alice também estão cá. - Valentina informa com desprezo.

- Vocês não eram amigas? - Ricci arqueia a sobrancelha confuso.

- Erámos. - admite. - Ainda bem que eu me afastei.

Não evito a satisfação que se apodera da minha expressão facial. É um alívio saber que a ruiva se livrou da companhia tóxica.

- Parecem bem acompanhados. - Thiago provoca-nos e o olhar curioso de Valentina recai sobre nós.

Elas apresentaram-se e mencionaram o facto de sermos vizinhos com humor. Mathilde diz descontraidamente que não nos conhecemos, mas estamos constantemente juntos nas últimas horas, o que corresponde à verdade.

- Belo carro, Th. - comento, admirando a Ferrari onde se encosta.

- Que sonho. - a morena murmura, mas não passa despercebida por mim.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora