Vidas Normais || Harlivy

1.

P.O.V. Pamela Isley

  Como sempre, acordei primeiro naquela manhã. Mais uma semana estava se iniciando. Não havia programado nada de novo, apenas seguir a rotina, e acredito que Harley pensava o mesmo. Sentei-me na cama e olhei para o lado, vendo minha esposa ainda profundamente adormecida. Não a despertei, apenas levantei e fui até o banheiro, tomando um banho e fazendo o resto das minhas higienes matinais.

  Após secar meu corpo e meu cabelo, vesti uma roupa casual e que fosse confortável para passar o dia, então a melhor opção foi uma calça preta e uma blusa vermelha de mangas curtas. Calcei meu tênis, fiz uma maquiagem suave e fui preparar o café da manhã.

Como de costume, fiz algumas panquecas a mais para Harley, que logo haveria de acordar para se preparar para o trabalho. Ela trabalhava em Arkham, um sanatório, e já era médica lá há um bom tempo. Atendia todo tipo de gente, desde os mais insanos até os que procuravam por uma ajuda maior, mas que possuíam transtornos comuns na sociedade atual, como depressão, ansiedade, bipolaridade, TOC e muitos outros que agora não vou me recordar. Ela era uma médica incrível, sempre admirei ver o quão esforçada e focada ela é, ainda mais quando se trata de sua profissão.

Lembro-me de quando estávamos nos conhecendo, ela ainda nem tinha se formado na especialização. Perguntei a Harls qual era o motivo por ter escolhido tal profissão, e ela respondeu que queria ajudar e tentar entender pessoas que "vissem o mundo de outra forma" e o motivo delas fazerem certas coisas. Seu pai havia feito coisas no passado que afetaram tanto ele mesmo como a própria família. Eu achava muito honorável seu principal motivo para escolher a psiquiatria, por mais que, infelizmente, nunca tenha conseguido ajudar ou sequer entender seu pai.

— Céus! Eu estou atrasada! - uma Harleen corrida chegou na sala de jantar, prendendo o cabelo em um coque alto. — Por que não me acordou junto de você?!

  A olhei confusa enquanto a via pegar uma panqueca com as mãos mesmo, e comia enquanto foi até a sala procurar por sua maleta, provavelmente.

— Você não me disse nada ontem, e eu quase nunca te acordo no mesmo horário que eu levanto, somente quando me pede. - respondi, defendendo-me de algum modo.

— Que seja. - disse, retornando para onde eu estava sentada, já com sua maleta em mãos. Olhou para mim como se quisesse algum comentário, e apenas assenti positivamente com a cabeça, como quem dissesse "você está bem, sua roupa está okay, pode ir sem preocupações". Harleen sorriu e acenou um "tchau", se virando para sair de casa.

Respirei fundo, tomando o último gole de meu café. Sabia que ela deveria estar estressada por ter algo importante que começaria mais cedo hoje, e talvez não fosse sua intenção soar de uma forma mais grosseira, como se quisesse colocar um pouco da culpa em mim por não ter a acordado, mas além disso, me incomodava o fato de reparar nos mínimos detalhes.

Os detalhes...

Eu já havia tomado meu café, mas estava sentada na mesa com Harley, esperando ela terminar de tomar o seu. Assim que o fez, ela se levantou, limpou os cantos da boca com o guardanapo e pegou a maleta preta com suas coisas do trabalho. Antes de qualquer coisa, veio até mim e selou nossos lábios de forma demorada, acariciando meu rosto.

— Eu te amo. Até mais tarde, ruiva. - falou e saiu, me deixando como uma tola apaixonada, e de fato eu era.

O que aconteceu? Seria normal eu me preocupar tanto assim com coisas que eram comuns de acontecerem no passado e agora não mais? Ou era algo normal de acontecer com o passar do tempo e eu não deveria me importar? Eu ainda amo Harley, por mais que não sejamos casadas, temos praticamente uma vida como se fôssemos, até mesmo já nos nomeávamos como esposas. Talvez fossem apenas tempos ruins e logo tanto ela como eu voltaríamos a ter as ações que tínhamos... não?