Capítulo Cinco

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Apareci na sala de Linda depois de ter dormido. Poderia ter sido uma coisa boa essas horas de sono, mas não quando fiquei com medo do meu colega de quarto resolver dar mais um momento aos amigos dele para me tocarem. Meu sono foi interrompido varias vezes, eu acordava e sentia as picadas de dores no meu abdômen, acordava com falta de ar e assustado. E todas as vezes que eu acordava, ele estava lá, na própria cama, lendo as folhas de anotações que dei a ele.

Eu deveria queimar aquelas folhas.

Um garoto — que não era nem meu amigo, nem amigo de Vinci — apareceu no quarto para me chamar. Ele parecia assustado e curioso. Percebi que pela cara dele, a fofoca já havia se espalhado. Consigo até imaginar: Aluno novo entra em briga no primeiro dia de aula.

Espero que meu pai esteja distante o suficiente para que essa noticia não chegue a ele.

Me levantei e escolhi uma camisa preta de manga longa na cômoda. Fiquei incomodado quando tive que tirar a camisa com Vinci aqui, mas não vou até o banheiro e me demorar ainda mais. Logo eu teria que estar naquele refeitório de novo para o jantar e tudo que eu mais queria eram mais horas de sono. Visto a camisa depressa e calço chinelos. Meu peito ainda dói. Vou até à porta e paro quando Vinci resolve falar comigo.

— Não fale.

Aquilo chamou minha atenção.

— Como é?

— Não fale o que aconteceu.

Sorri maldosamente.

— Atos têm consequências. Você deveria saber disso.

Os olhos dele estavam na posição perfeita para que o poste com luz de LED me permitisse ver a cor deles. Castanho, mas um castanho um pouco parecido com vermelho. Não é estranho que, durante o dia, os olhos dele são de um castanho com um pouco de verde — quase sinceros — e à noite, o castanho se transforma em uma coisa mais ameaçadora? Parece mentira.

Vinci joga as folhas para o lado e se levanta. Ele é alto, mas não mais que eu. ele é forte e consigo ver suas veias saltando quando ele usa os braços para pular da cama.

Esse gesto é sinistramente familiar. Um arrepio percorre minha espinha e é pior do que as pontadas de dores nas minhas costelas.

— Se você contar — ele chia — eles vão fazer coisas piores.

— Tipo, o quê?

— Não sei. Mas eu já participei.

Aquilo me fez ficar com mais raiva e com mais vontade de colocar tudo no ventilador. Não dá para saber se Vinci está assustado ou furioso, eu não consigo lê-lo como a maioria das pessoas. parece que ele esconde tudo o que sente diante de um vidro, um cilindro que o prende até quase espreme-lo. E é exatamente por isso que fico com mais raiva. Não conseguir saber o que a boca dele está me dizendo condiz com o sentimento nos olhos... não era para ser assim. Ninguém nunca diz o que realmente quer sem uma lasca de outra coisa.

— Eu acho que vou arriscar — é o que digo.

Passo pela porta.

E imediatamente sou colocado dentro do quarto de novo pelo aperto dele no meu pulso. A surpresa daquele gesto me deixa sem ar. Em um segundo eu estava no corredor, prestes a caminha, e no outro eu voltava para o quarto e estava com as mãos dele segurando meus pulsos — e machucava.

— Me solte — sibilei.

— É melhor você escutar o que eu estou dizendo.

— Porque eu faria isso? Você deixou que eles me batessem porque eu ajudei o irmão de um deles? Isso não faz o menor sentido.

Entrelinhas (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora