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Noite chegou mais uma vez, e a madrugada se arrastou consigo. Dessa vez, não havia necessidade de desviar a atenção de ninguém, então tomaria uma única atitude que asseguraria que tal risco não seria mais necessário.

Mais uma vez as copas das árvores foram o seu refúgio perfeito, e nessa, não havia razão para se preocupar com ser achada de todo modo - demoraria no mínimo até de manhã para começarem a vasculhar vilas vizinhas, e ninguém lá notaria que havia algo de estranho consigo.

Parou a uma distância segura, e, como havia feito com a mãe anos antes, deixou que a sua presença chegasse até a criança, seu afilhado. Dormia o sono tranquilo de quem conseguiu mesmo que por um momento tirar da mente que havia matado "uma" pessoa, e isso era bom. Seria literalmente como um sonho, e era bom. Não iria se mostrar pessoalmente enquanto era tão novo e ainda não entendia direito o que era, mas podia intervir de forma indireta, mesmo que parecesse ser como uma sombra em um sonho alertando que um lugar havia se tornado perigoso.

He, havia se tornado uma "fofinha" também, ao que parecia. Verdade, no começo foi simplesmente pensando no retorno em almas humanas - cura vampírica tem limites, afinal, e conseguir o jeito certo de morder demorava mesmo entre puros criados por pais vampiros -, mas ao que parecia, ter essencialmente jurado às Mães que seria a segunda guardiã afeta as pessoas, mesmo as que já passaram tanto tempo isoladas em uma cabana que mal lembram do rosto das próprias irmãs.

Estava aprendendo a gostar do garoto? He... Que fofinha. Mas não muda que não é a mãe dele, quem sabe o momento certo de contar a verdade sobre o nascimento dele é Encre, só então também pode saber que tem uma madrinha bruxa.

Oh, bem, a pequena benção é inteligente, vai entender a sua mensagem. O que deve fazer é voltar para a sua casa, e se preparar para o momento de honrar as deusas.

Mas manhã chegaria, e não queria causar barulho à toa.

E, como era escrito pelas leis da natureza, manhã inevitavelmente chegou... E com ela se levantou um Encre muito confuso.

Estava cuidando dos seus bichos, e conferindo a condição da sua velha companhia, e única que ainda tinha do seu tempo como burguês, e embora fisicamente estivesse com eles (em especial a mula), a mente partia para as imagens que seu inconsciente lhe enviava.

Era quase uma memória, uma daquela noite de equinócio. Quase, apenas, porque continuou igual até um momento da união.
Mas, depois de um momento em que teve os olhos fechados, ao os abrir, a sua companhia havia mudado, o que parecia o céu noturno em forma de esqueleto se tornado uma sombra maculada com cores vibrantes.
Era um sinal da sua própria alma para deixar aquilo partir? Para esquecer e abraçar totalmente seu novo amante?

Teria certeza em breve, o período de espera estava quase acabado, afinal. E equinócio mais uma vez se aproximava.

Provavelmente soaria como um tolo se alguém o escutasse, ainda com mesmo que uma parte se agarrando a essencialmente uma imagem sobre a qual não sabia nada além de aparência e voz...

A voz...?

O afago na crina da mula se tornou lento e preguiçoso.

O francês que ele falava... realmente era ruim? O passar do tempo deixou um pouco nebuloso, mas, se forçasse um pouco...

Não, não era ruim. Simplesmente tinha o sotaque carregado. Tão carregado nas mesmo falando francês soava como outra língua. Mas por que isso ocorria agora, é inútil quando só fala francês, certo?

Certo...?

Ou... ouviu algo parecido antes?... Ou depois...?
(... permesso di toccarlo?)
Ah, é claro.

O que havia com toda aquela mistura? Estava se tornando caótico! Deusas, por favor, esclareçam, que fazer essas junções estranhas quando já foi deixado claro que é impossível os dois serem o mesmo soa como um capricho de humor questionável.

Só mais um pouco, e vai poder esquecer, ou ao menos tentar.

E, junto ao levante da manhã comum, houve a passagem das más notícias pelo metazoan, recebidas com a compreensão e paciência que se poderia esperar naquele cenário: o bastante para não ficar trancado na sala com a dama berrando.

Pois bem, se quem procuravam podia até mesmo se disfarçar de ser humano bem o bastante para enganar, mesmo que momentaneamente, um caçador treinado, tinham chances melhores em uma localização melhor. Não necessariamente dentro-e-sobre os locais dos ataques, mas onde atividades suspeitas eram facilmente localizáveis e alcançáveis, independente de onde entrassem... Uma localização que existia, e seus irmãos em armas já haviam usado um dia, mas agora era ocupada por um civil.

Seria muito conveniente tentar explorar a localização de novo, mas não seria injusto com o civil ocupando?

Difícil ao mesmo tempo ser alguém que serve o povo e não acabar se aproveitando da própria autoridade, não é mesmo?

Bom, que seja, pode pedir permissão, com a educação que foi criada para ter, então não seria abuso de autoridade, não é mesmo?

Tentaria, se não fizesse bem, mal não iria.

Vampire Verse - Sun and MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora