Capítulo II: Psicodélico.

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_Obrigado. - Mark agradeceu com um sorriso amarelo, após o alimentarem.

A ferida no olho, testemunhar mortes e acidentes em seu local de trabalho, tortura física e psicológica, nada do que sofreu em mais de trinta anos de carreira superava o inferno que era estar com um cano na garganta e outro no abdômen, tendo perdido mais de sete quilos desde o fatídico evento e dependendo somente de comida triturada que não entupisse as sondas. Tão torturante que nem mesmo o pesadelo, repetindo várias e várias vezes o momento em que fora atacado pelo suposto "Assassino do Pinheiral", o aterrorizava tanto quanto aquilo.
Nunca pensou que acabaria aposentado tão novo. Se sentia completamente impotente e fracassado, mas ainda precisava sorrir para passar segurança a Kimberly, ou pelo menos tentar, já que a cada dia o pânico da tenente piorava com qualquer evento que lembrasse os interrogatórios, ou Jason.

O único movimento que lhe dava prazer era de pegar o notebook, ligar o Skype e chamar sua colega de trabalho para uma conversa diária. Cinco toques depois, ela atendeu, com pálpebras caídas e um sorriso que mal conseguia se levantar.

_Bom dia, Mark.

_Ótimo dia, porque o seu não parece estar tão bom. O que houve?

_O mesmo inferno de sempre: os pesadelos, o ataque de pânico... mas hoje foi diferente, foi bem... - Kimberly deu uma pequena pausa e baixou seu tom de voz. - pior.

_Por quê? O que aconteceu?

_Estava escrevendo normalmente no diário, coisa rotineira, quando me surgiu uma péssima ideia de folhear entre os papéis brancos... - Ao lembrar, uma leve expressão de nojo apareceu em seu rosto. - ...até achar um desenho daquele menino de olhos azuis, do relato de Jason. Estava olhando para mim, e quando joguei o caderno longe, ainda me encarava! Quem teria a coragem de fazer isso, Mark? Quem? Já não basta estarmos visivelmente abalados com isso? Já chega! Eu não aguento mais... - Seu rosto cansado e repugnado se transformou numa careta de tristeza e indignação conforme as lágrimas desciam pelas suas bochechas pálidas e a voz começara a ficar rouca.

_Kim! Kim, me escute, isso não passa de um desenho. Tudo o que vivemos acabou; temos e vamos superar este evento juntos: eu, você e Nicholas, certo?

_Sinceramente, estou desacreditada de tudo. Meu trabalho acabou, minha vida acabou.

_E você diz isso para um ex-militar, internado, com dois canos enfiados no corpo? Todos estamos sequelados, e vamos continuar vivendo normalmente, porque não estamos mortos.

Sua antiga superior apenas acenou com a cabeça, assentindo, e tentando cessar o choro que insistia em lhe escapar dos olhos. No outro lado da tela, uma enfermeira trocava, explicitamente, a cânula da traqueostomia, explicando a seu paciente passo a passo como se fazia, para que recebesse alta de uma vez e soubesse cuidar de algo que levaria por toda a vida.

_Entendeu como se faz?

_Mais ou menos, mas vou me adaptando com o tempo. - Mark deixou escapar uma risada, que contagiou a profissional.

_É assim mesmo, com o tempo você se acostuma. O importante é você estar bem e saber se cuidar, pois ainda não acabou. - A voz serena da moça de branco contribuiu também para que o estômago do enfermo embrulhasse.

_O que disse?

_Impeça que o inferno continue. O ritual dos ossos precisa parar. - Finalizou enquabto saía pela porta branca de metal.

Horror tomou conta do rosto de Kimberly do outro lado da tela.

Os olhos arregalados de Mark denunciavam estar sentindo o mesmo.

_Chamada finalizada._

_Eu sei que não está certo, mas preciso fazer algo, aquele sonho

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_Eu sei que não está certo, mas preciso fazer algo, aquele sonho... Algo me diz que preciso dar continuidade de onde pararam, o ritual dos ossos não pode cessar...

A mulher de cabelos brancos e olhos amarelados, como um usuário de retrovirais, andava trêmula e apressada pela casa em busca de seus amuletos e demais objetos que utilizava para seus rituais.

_Sonhei com uma maldição, tal que tomou conta de uma vila inteira, e acredito que possam ter vindo até a mim por terem me achado digna de dar continuidade ao rito, assim, impedindo que toda a história maligna tenha fim.

_Com quem está falando, vovó? - O pequeno garoto de grandes olhos negros nublados pela curiosidade a interrompeu.

_Nada, Benjamin, está tudo bem. Vovó só estava pensando em voz alta.

Amabe era uma antiga feiticeira que selou um pacto com a mesma entidade que assolava o vilarejo, mas seus dons sempre foram mais amenos. Não conseguia manter um feitiço grande por simplesmente não ter força vital suficiente, mas, ainda assim, acreditava que sua força era o que havia lhe proporcionado aquela missão. O que ela não sabia era que fora simplesmente por conveniência, afinal, ninguém além dela era burro o suficiente para se envolver naquela maldição.
E o que ela também não sabia era que isso envolveria seu neto.

Sua relação com a goétia e a necromancia começou após sua filha contrair uma doença misteriosa. Tentou de tudo para curá-la; no entanto, não se sabe se, por não ter forças suficientes, ou por ter procurado uma entidade errada, sua filha veio a perecer.

Mesmo morta, ainda dava para salvar o bebê que a jovem moça esperava, então, Amabe perfurou-lhe a barriga e rasgou cada camada de pele até conseguir salvar a vida do menino, prematuro, com uma deficiência na perna e feridas da cirurgia improvisada: um dos fatores grandiosos para passar a missão adiante.

_Isso não pode ser real, é impossível

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_Isso não pode ser real, é impossível. - O homem quase sussurrava, sofrendo os primeiros sintomas do extremo pânico que sentia e podia ouvi-lo apitando no eletrocardiograma, cuja tela alertava 214 batimentos por minuto. - Jason morreu! Acabou! Eu não quero mais fazer parte disso, já chega!

380 batimentos por minuto. Aquilo era possível?
Quanto mais Mark esbravejava contra o nada, afirmando não ser real, mais seu corpo sofria com suor frio, febre alta e dores intensas, principalmente na cabeça, ao ouvir cada vez mais altos e ecoantes os apitos dos aparelhos, batidas contínuas na porta de seu quarto e passos de profissionais apressados a fim de checar o que estava acontecendo.

*Impeça que o inferno continue. O ritual dos ossos precisa parar.*

Talvez um ataque cardíaco não fosse ruim naquele momento...

*Impeça que o inferno continue. O ritual dos ossos precisa parar.*

...mas o paciente sabia...

*Impeça que o inferno continue. O ritual dos ossos precisa parar.*

...que assim como aconteceu com Jason...

*Impeça que o inferno continue. O ritual dos ossos precisa parar.*

...o que quer que estivesse o oprimindo...

*IMPEÇA QUE O INFERNO CONTINUE!*

...não iria deixá-lo se entregar...

*O RITUAL DOS OSSOS PRECISA PARAR!*

...até cumprir sua missão.

Continua...

Reviews? Críticas? Espero que gostem ><

The Ritual Of Bones - Volume IIOnde histórias criam vida. Descubra agora