34. Laços desfeitos

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Uma terrível e triste notícia alvoroçou a comunidade bruxa nos idos do mês de junho: apesar da segurança extremamente reforçada em Hogwarts este ano, Comensais da Morte conseguiram invadir o castelo, e assassinaram ninguém menos do que o diretor Alvo Dumbledore.

Com toda essa desgraça acontecendo — alunos e professores de Hogwarts duelando contra Comensais da Morte, Dumbledore morto, o prof. Snape foragido, acusado de ser ele o assassino — qualquer sentimento de raiva ou de mágoa que Penny estivesse sentindo em relação ao seu pai por conta do Voto Perpétuo simplesmente desapareceu. Tudo o que importava era saber se ele e Ben estavam vivos, e quando estariam de volta, de preferência sãos e salvos, ao lar em Godric’s Hollow.

Depois do que pareceu ser uma longa espera, o correio coruja finalmente apareceu trazendo a carta que ela vinha aguardando ansiosamente desde a notícia da morte de Dumbledore.

— Até que enfim, uma resposta do meu pai — ela disse com o pergaminho em mãos, sentada ao lado da janela aberta da sala de estar, de onde uma coruja bege e vistosa tinha acabado de sair sobrevoando o céu ao anoitecer. — Ele diz que as aulas em Hogwarts foram suspensas e os exames adiados, e parece que estão querendo fechar a escola no próximo ano. Mas o meu pai e o Ben só vão voltar para casa amanhã, depois de prestarem as últimas homenagens a Dumbledore.

— E como vamos contar a ele? — indagou Gustavo. — Como vamos fazer para contar a ele sobre a minha licantropia?

— Não precisamos contar. Que diferença isso vai fazer quando nos mudarmos daqui?

— Temos que contar, Penny, não temos escolha; amanhã será noite de Lua cheia, e eu não posso sair daqui enquanto ele não chegar.

— Como assim, Gustavo? — perguntou Penny, aprumando-se na cadeira. — Por que não me contou antes?

— E como eu iria saber que eles voltariam mais cedo? Mas nós precisamos contar de um jeito ou de outro, não podemos mais continuar escondendo a verdade.

Penny não sabia o que pensar. Fazia tempo que ela vinha adiando fazer o que sabia que cedo ou tarde teria que fazer, mas, mesmo assim, sentia o medo aflorar em suas entranhas só de imaginar o que aconteceria quando o sr. Clearwater descobrisse a verdade sobre Gustavo.

— Vamos fazer melhor — ela disse por fim. — Vamos fazer o que sempre fazemos: você vai passar a noite no porão, e ele nem vai perceber. Falaremos com ele pela manhã; ele vai acabar se convencendo de que você nunca me ofereceu perigo.

O dia seguinte foi angustiante: o sr. Clearwater não chegava com Ben, e as horas pareciam passar mais devagar do que o normal. Como já não trabalhava mais para o Profeta Diário, restou a Gustavo permanecer em casa, até que começou a escurecer, e ele foi para o porão.

Torcendo para que o sr. Clearwater não reparasse na ausência do rapaz, Penny ficou esperando pela chegada do pai e do irmão, que só chegaram tarde da noite, quando ela já tinha desistido de esperar e ido se recolher.

Ela acordou de repente com o som de uma discussão entre o sr. Clearwater e Ben no meio da sala de estar:

— Eu não aceito isso dentro da minha casa! — o sr. Clearwater tinha acabado de falar. — Não quero nada que venha daquela mulher aqui dentro, está entendendo?

— Pois, caso o senhor não saiba, eu vim daquela mulher — rebateu Ben. — Se não quiser a guitarra, vai ter que se livrar de mim também.

Penny sacudiu a cabeça e esfregou os olhos, sem entender direito o que estava acontecendo. Depois de quase morrerem em Hogwarts havia poucos dias, era difícil aceitar que aqueles dois ainda tivessem a capacidade de discutir um com o outro por qualquer motivo que fosse.

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