Era uma vez...

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Brenda tinha longos cabelos castanhos, olhos quase da mesma cor e um corpo esguio.

Ela estudava em uma escola para garotas, no centro de uma cidade chamada Coromel.

Brenda não tinha muitas amigas, mas, as que tinha, eram as melhores.

Sua mãe, Leônia, a ensinou a ser criteriosa quanto as amizades: "Sempre escolha para serem suas amigas pessoas gentis, mas com personalidade, livres de preconceitos para com os outros, que te respeitem, que se respeitem e respeitem a todos." dizia sua amada mãe.

Lêonia era uma mãe que não demonstrava muito afeto, ao menos não do modo como as mães solícitas e superdomesticadas demonstram.

Ela nunca foi de muitos abraços, muito menos beijos. Ela não enchia Brenda de afagos e elogios.

Porém, era vísivel para quem pudesse enxergar, que Leônia demonstrava o seu afeto pela filha através das poderosas lições e conselhos e das histórias cheias de significado que educavam a sua moralidade, e ainda mais, com os livros que ela dava de presente à filha anualmente.

Os únicos registros de "eu te amos" que já foram dirigidos à filha, estavam escritos nas dedicatórias escritas por uma caneta azul, logo na folha de rosto de cada livro.

O último livro que Brenda havia ganhado da mãe, agora já com seus quatorze anos, fora "Mulherzinhas" de Louisa May Alcott.

Ela ganhara o livro um ano após a sua menarca, que fora aos 13.

Na dedicatória da vez, constavam as seguintes palavras:

"Este livro é um tanto antiquado. Não necessitamos mais de homens para viver, porque podemos trabalhar e garantir nosso próprio sustento. Não precisamos de casamentos arranjados e nem de casamento nenhum, se não o quisermos de verdade. Não precisamos bordar, limpar ou cozinhar para homens. Mas às vezes, se faz necessário que façamos isto tudo para nós mesmas. De qualquer forma, este é um livro clássico, com ideais antigos e lições valiosas. É um de meus livros prediletos, e garanto que tornará a ser um dos seus também.

Para a mais nova mulherzinha,

Com amor, Mamãe."

Brenda ficara muito emocionada com o presente, em especial, com a dedicatória.

Sentia a mãe cada vez mais distante, cada vez mais reclusa e introspectiva. Autocentrada em suas próprias ideias e divagações silenciosas, que guardava somente para o seu intelecto.

Não muito tempo depois, adoeceu, de um modo repentino e infelizmente incurável, sua vida foi minguando, pouco a pouco, junto ao cancro.

Mandou Brenda para morar com a sua tia, Jaqueline.

Jaqueline por sua vez mal tinha tempo de cuidar de suas próprias filhas, Melanie e Júlia, portanto enviou-a para a casa da tia-avó Katarina.

Katarina a recebeu de braços abertos, porém, tal qual a sua mãe, era muito rigorosa quanto a educação da neta. Portanto, colocou-a em uma escola no estilo internato, em que ela ficava de segunda a sexta, e voltava para casa somente aos fins de semana.

A escola chamava-se "Distrito Coromeliano das Meninas Íntegras".

Lá Brenda conhecera Chanel, uma garota negra de olhos grandes e bonitos, um talento enorme para as artes e um potencial incrível para fazer amizades. Chanel era a garota mais popular da escola, por causa de sua capacidade de empatia e por conseguir fazer amizade com quase que literalmente todo o mundo. A capacidade de fazer amizades facilmente, era o seu principal atributo moral. Todos eram seus amigos, e aqueles que não o eram, queriam ser (mesmo que em segredo). Tão rápido se conheceram, aprofundaram seus laços.

Conheceu também Mariana Vernotim. A senhorita Vernotim fazia parte da elite francesa, de modo que era supereducada, superculta e supertudo. Mas diferente de outras garotas da elite, ela não era nem um pouco arrogante ou esnobe. Era gentil, educada e generosa.

Todos os anos, a senhorita Vernotim fazia um apelo à diretora da escola, Vânia, para que pudesse sortear uma soma de dinheiro grande junto de uma bolsa de estudos em uma escola de artes em Paris que incluia todas as passagens pagas e material completo.

A diretora era da opinião de que a menina não deveria gastar sua herança com os outros assim, de forma tão desapegada. Mas reconhecia que isto, a sua generosidade, é o que a fazia tão querida e especial.

Nos primeiros anos, ela tentara não fazer alarde com o seu nome e fazer a doação no anonimato. Mas, obviamente, fofoca ali, fofoca aqui, acabaram descobrindo que era um presente da Senhorita Vernotim.

Tornara-se popular por isto. Era como se o ano todo fosse uma grande espera para que este "evento" ocorresse. Assim que saía o resultado com o nome da grande mais nova afortunada, todos sossegavam e mais uma vez o ano letivo tornava-se pacato e despretensioso.

Brenda conhecera Mariana não por causa do sorteio, do "grande evento" que ela proporcionava; Mas porque, no primeiro dia de aula, Brenda deixara seus materiais de escrita recém comprados caírem acidentalmente em uma vala, e Mariana, ao saber disso, ligara para os seus pais, que compraram um vasto número de canetas, lápis e borrachas e marca-textos, e enviaram o kit diretamente as mãos de Brenda, no internato.

A partir daquele momento, as duas se tornaram grandes amigas.

Os Rubis de Glória - Vol. 1 saga do internato.Onde histórias criam vida. Descubra agora