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- Não pense que, por ter te ajudado a se livrar da prisão, acredito em você. Porque não acredito. – Olhou para ela com desprezo e voltou sua atenção para a estrada.

-Para onde estamos indo? – Indagou, observando pela janela do carro, sem reconhecer o local. Esforçou-se para ignorar as palavras do marido; do contrário, estava tentada a sufocá-lo pela falta de confiança em sua palavra.

– Comprei um apartamento para você. Não pensou que te levaria para minha casa, para casa dos meus filhos depois de tudo o que fez. Sua sorte é que ela sobreviveu. – Ele apertou com firmeza o volante, ainda incrédulo de que a mulher com quem se casou tivesse disparado com a intenção de matar a própria amiga. – Você está ciente de que, se ela tivesse perdido a vida, você passaria o resto dos seus dias na prisão. – Ela o encarou, e seguia sentindo um ódio sem tamanho pelo marido.

- Nossos filhos, Estevão. Eu sou a mãe deles! – Falou firme.

- Mas eles não sabem! – Disse logo de uma vez.

- O quê? – Perguntou confusa, seu rosto exibindo um expressivo sinal de interrogação. – Como assim eles não sabem que sou a mãe deles?

- O que você esperava que eu fizesse, depois de tudo o que ocorreu? – Exclamou em voz alta, e respirou profundamente. – Inicialmente, todos pensávamos que Patrícia não sobreviveria, e o advogado alertou que, caso isso ocorresse, você passaria o resto da vida atrás das grades!... Não havia mais nada a ser feito. Até então, a única informação que tínhamos era que você tentara tirar a vida de alguém sem motivo plausível. – Ele estacionou o carro na garagem do prédio enquanto ela respirava lentamente, tentando ocultar dele suas verdadeiras emoções. – Vamos! Temos muito a discutir. – Abriu a porta do carro para ela e saiu de seu campo de visão.

Pensando sobre o que mais ele teria a dizer, ela o acompanhou até o elevador.

Dentro do elevador, ele a observava com seriedade e uma expressão fechada, simulando uma indiferença que estava longe de ser genuína. A verdade é que, durante todos os anos em que ela esteve detida, ele não teve uma única noite tranquila. Apesar das circunstâncias, ele respirava mais aliviado agora que ela não estava mais naquele lugar, mesmo que ainda mantivesse a convicção de sua culpa.

Ao chegarem à porta, ele a abriu e permitiu que ela entrasse primeiro. Era um homem educado, e ela reconhecia isso.

Ela explorou o ambiente com o olhar e, em seguida, voltou sua atenção para ele.

- E então? – Tinha pressa para acabar logo com isso. – O que mais devo saber, Sr. San Roman? – Dirigiu-se até a janela, que se abria para um parque, e observou algumas pessoas pedalando, outras caminhando, enquanto algumas famílias pareciam se divertir no gramado.

Ele foi até o bar, e serviu-se de uma dose de uísque. Já estava familiarizado com o local, tendo estado ali outras vezes, preparando tudo para ela.

- Eles acham que você está morta! – Sentou-se no sofá, aguardando pela reação dela. 

Ela o observava enquanto seu olhar incrédulo denunciava a dificuldade dela em acreditar que ele seria capaz de tal ato.

- Isso é uma brincadeira? – Arqueou uma sobrancelha. Ele permaneceu em silêncio, dando mais um gole em sua bebida. – Você disse aos meus filhos que estou morta? – Mantinha seus olhos negros de ódio fixos nele, aproximou-se, retirou o copo de sua mão e o arremessou contra a parede. Ele se levantou, e ela começou a golpear seu peito enquanto despejava palavras de fúria. – Como pôde?...

- O que esperava que eu fizesse? – Segurou seus braços, obrigando-a a ficar quieta e encará-lo. – Que eu dissesse que a mãe estava presa por matar uma amiga? Sim, porque todos acreditavam que Patrícia não sobreviveria. Ninguém imaginava que ela acordaria depois de 10 anos respirando apenas através de aparelhos. – Ele a soltou e, visivelmente nervoso, passou a mão pelos cabelos.

A MadrastaOnde histórias criam vida. Descubra agora